Por Redação Engeplus
Em 07/03/2017 às 09:49Especial: Willian Bongiolo
Há dezessete anos Hugh Jackman e Patrick Stewart iniciavam o que seria tendência dali em diante: filmes baseados em super-heróis. De lá até 2017 muita coisa mudou em relação aos longas heróicos, mas o que sempre permaneceu foi o empenho desses dois atores para compor seus personagens Wolverine e Xavier. Então, eis que chega ao fim uma grande jornada. E, felizmente, um fim digno para os dois, e um início deslumbrante para Laura.
O ano é 2039 e os mutantes praticamente foram dizimados da terra. Os X-Men também já não existem mais. Apenas Wolverine e Professor Xavier continuam sobrevivendo em um mundo completamente hostil para os mutantes que restaram, mas eis que depois de vinte e cinco anos sem nascerem novas pessoas com o gene "x", surge uma nova mutante, e Xavier e Wolverine têm que salvá-la dos homens que querem matá-la.
Uma das coisas mais notórias e corajosas de Logan é o real senso de urgência da trama que se passa no futuro, mas não tão distante do que estamos vivendo hoje. A hostilidade com que os mutantes são retratados é uma alegoria visceral de como as minorias estão sendo oprimidas desde muito tempo, inclusive com a ascenção de políticos como o atual presidente estadunidense.
Ao vermos um dos personagens chamando Logan de "mutuna" notamos o seu teor pejorativo assim como são as palavras "bicha" ou "crioulo". Isso fica ainda mais forte quando percebemos que a maioria de seus algozes trazem alguma parte do corpo mecânica para representar a sua falta de humanidade.
Outra coisa interessante em Logan é o desenvolvimento do Professor Xavier. A suntuosa cadeira de rodas de outrora aqui é substituída por uma decrépita e suja. E suas dificuldades com a memória lhe deixam trancado em um lugar apenas esperando sua morte, enquanto Logan lhe traz remédios.
Isso fala muito sobre como tratamos nossos idosos. Nunca os vemos como pessoas com vontades próprias e desejos, mas apenas como um encosto do qual precisamos cuidar ou contratar alguém para tal. Então, quando a ação começa e todos tem que fugir, Xavier sente um misto de preocupação e alívio. Está, afinal, vivendo novamente.
Já Laura é um caso a parte para destacar. Sua relação com Logan é construída em pequenos detalhes que dizem muito mais do que os poucos diálogos entre os dois. É uma risada entre uma conversa, um olhar de satisfação quando decobrem terem garras parecidas, ou mesmo a forma violenta como lutam. E bota violenta nisso: o longa traz cenas onde os personagens perdem cabeça, braço, perna, enquanto o sangue jorra pelas paredes, chão e outros objetos.
Mas muito mais que a violência, o que se destaca em Logan é sua parte intimista. Inclusive a cena de um jantar na casa de algumas pessoas já vai entrar facilmente entre as melhores cenas de todos os tempos em filmes de super-heróis. Todo o silêncio entre os personagens que aos poucos vão se transformando em risada é de uma simplicidade poética incrível.
A conversa entre Xavier e Logan traz a tona tudo que os personagens já passaram e a risada da Laura nessa parte é de um frescor ímpar, já que é a primeira reação de sua personagem.
Ainda com toda essa humanidade e frescor não poderia deixar de lado todas as partes técnicas do filme. A fotografia amarelada emana o calor do deserto e nos remete aos filmes de faroeste, além de criar uma atmosfera morta. A montagem é eficaz em retratar toda a agilidade dos personagens, mas nunca deixa a câmera tremida ou com cortes secos para confundir o espectador.
Já o roteiro acaba pecando em algumas conveniências, como o fato de a trama ter que ser explicada por um vídeo no celular, mas é algo que não invalida todas as coisas boas do longa.
Por fim, Logan é uma obra maravilhosa sobre transformação, aceitação, preconceito e, principalmente, sobre família. Não aquela ligada por laços sanguíneos, mas aquela pautada em amor, confiança e irmandade. E muito mais do que um dos melhores filmes de super-heróis já feitos, Logan é, acima de tudo, uma dos dramas mais bem construídos do ano ao lado de grandes obras como Moonlight e A Qualquer Custo. Então, não seja como os vilões e tenha preconceito com os filmes de super-heróis: eles também têm algo a dizer.
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