Por Amanda Garcia Ludwig - amanda.garcia@engeplus.com.br
Em 17/03/2017 às 17:39O empreendedorismo, a tecnologia e a inovação são cada vez mais discutidos no mundo. A região do Vale do Silício, localizada na Califórnia, nos Estados Unidos, atraiu nos últimos anos empreendedores de todas as áreas do mundo todo. Cresceram lá empresas como Google, Facebook, Apple e Yahoo. O Brasil já tem recebido anualmente grandes eventos da área, como o Campus Party e o RD Summit – realizado em Florianópolis.
Em Santa Catarina, Criciúma é uma das cidades que vem ganhando destaque no cenário das startups (empresas recém-criadas, em fase de desenvolvimento). Em 2016, a cidade recebeu eventos como Startup Weekend, TEDx, ExpoMais, Elevation Summit e Feira da Inovação da Unesc. Cada um deles tem seus diferenciais, mas os objetivos são parecidos: reunir pessoas interessadas em discutir o empreendedorismo e buscar inovações em suas respectivas áreas.
Vale do Silício nos Estados Unidos, Vale do Carbono no Brasil
Toda a movimentação que essa área vem apresentando nos últimos meses na região sul de Santa Catarina fez com que a Amrec ganhasse o apelido de “Vale do Carbono”, uma clara referência à região que teve, em determinada época, seu desenvolvimento baseado na exploração do carvão.
Desde o último ano, todas as quintas-feiras, jovens, empresários e estudantes reúnem-se para participar do Conexão Startup – realizado atualmente na Plurall. De acordo com um dos organizadores do evento, Valmor Rabelo, durante os encontros o pessoal discute e compartilha negócios, apresenta cases e participa de discussões produtivas sobre o assunto. “Está havendo um movimento que, aos olhos de quem está de fora, é espalhado. Para que está envolvido, é diferente. É algo organizado, esquematizado, e todos tem o mesmo objetivo: criar um ecossistema”, explica.
Este ecossistema, explica Rabelo, envolve um conjunto de atores, personagens, entidades e atividades tanto na Amrec quanto na Amesc. Todos eles em busca de promover o empreendedorismo inovador e o desenvolvimento da tecnologia na região. “Esse ecossistema está fundamentado em três pilares: academia, que são universidades e faculdades que geram a inteligência, matéria-prima para isso; entidades empresariais como Acic, CDL, Ampe, Aje e ACI; e governos municipais e estaduais.”
Incubadoras ajudam startups a saírem do papel
Rabelo é, também, proprietário da incubadora criciumense InSite. Ele explica que uma incubadora ajuda o empreendedor a transformar uma ideia bacana em algo de valor agregado. “Essa ideia precisa sair da cabeça, ir para o papel e começar a ser executada. A partir daí, um protótipo é desenvolvido para ser validado no mercado, antes de o produto real ser distribuído no mercado. A incubadora possui as ferramentas para isso”, conta.
O procedimento realizado em uma incubadora visa a escalabilidade para que o negócio cresça de forma rápida. Esta é a diferença entre uma startup e uma indústria ou um comércio tradicional, explica Rabelo. “Este é um novo modelo de prestação de serviço. Os jovens que investem nisso não pensam mais naquele padrão de trabalhar em horário comercial. Eles trabalham de forma diferenciada e trazem resultados fantásticos.”
A empresa Simples Dental surgiu como startup em Praia Grande e hoje está estabelecida em Criciúma. Ela foi uma das incubadas da InSite e hoje é o maior sistema de gestão de clínicas odontológicas da América Latina. A empresa atende atualmente 3,5 mil clínicas e tem uma média de 12 mil usuários, segundo um dos quatro sócios, Gélio Júnior.
Maior do ramo da América Latina, a Simples Dental está instalada em Criciúma. Foto: Douglas Saviato
O sistema da Simples Dental faz a gestão completa da clínica odontológica. Um dos serviços oferecidos, por exemplo, é o de agendamento. Duas horas antes da consulta o paciente recebe um SMS para não esquecer da consulta e confirmar se estará lá ou não. Atualmente com 23 pessoas trabalhando na empresa, a previsão é que a Simples Dental chegue ainda neste ano na Europa e em outros países da América Latina.
“O mundo todo vem investindo em startups, e esse modelo chegou com força total no Brasil. Florianópolis já é referência nacional no assunto, e estamos trazendo isso para Criciúma. Queremos que a cidade se desenvolva. O principal para sermos o Vale do Carbono é que sejamos uma comunidade e que tenhamos muita gente falando sobre o isso e incentivando cada vez mais o assunto empreendedorismo”, diz Gélio Júnior.
A universidade como incentivadora do crescimento
A Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) faz grandes investimentos na área da inovação e tecnologia. Há seis anos a universidade criou a incubadora do Iparque (parque científico e tecnológico). Além disso, a Unesc criou também o Núcleo de Empreendedorismo que busca trabalhar a educação empreendedora e apoiar e orientar programas direcionados a esta área.
De acordo com a coordenadora do núcleo, Gisele Silveira Coelho Lopes, através de um programa de mentoria a universidade fomenta apoios técnicos para novas ideias, tanto de seus alunos quanto da comunidade externa. “São duas fases: um auxílio e discussão no modelo de negócios e o desenvolvimento de um plano de negócios, e a segunda fase é a pré-incubação. Trabalhamos em um programa de 60 dias, e o empreendedor sai do programa de mentoring com um plano de negócios validado. A partir daí ele pode incubá-lo”, explica.
A analista-administrativa do Iparque Suzete Eyng explica que dentro do parque tecnológico existe uma incubadora (a ITEC.in), e que as startups podem passar por um processo seletivo (os editais são lançados todos os anos) para participar da incubação. “Os laboratórios dão suporte ao incubado, que também tem a vantagem de estar dentro da universidade e trocar ideias com professores que estão no local diariamente”, diz.
Luiz Rodeval Alexandre é proprietário da empresa Eposs, uma das empresas incubadas na ITEC.in. Ele foi o primeiro incubado do local, e está no Iparque há quatro anos. Sua empresa atua no segmento da biotecnologia e energia alternativa, e tem como missão desenvolver soluções em tecnologias e inovações. “É muito difícil uma ideia crescer sem estar em um ambiente como este. O capital intelectual é o que mais precisamos. A partir daí, você tem para onde levar sua ideia.”
A Eposs está incubada no Iparque há quatro anos. Foto: Amanda Garcia Ludwig
A individualidade sai de cena
Em fevereiro deste ano Criciúma ganhou um novo espaço colaborativo, a Plurall Coworking. A diretora Gabriela Zapelini explica que a ideia surgiu há três anos, mas só foi colocada em prática recentemente porque foi quando Criciúma começou a receber os eventos de tecnologia. "Todo o espaço foi pensado em conjunto desde o começo. Os proprietários, arquitetos e publicitários trabalharam juntos. Achamos que o nome Plurall resumia muito bem a ideia, por ser algo que traz a ideia de sempre ter algo mais e somar tudo", conta.
O empreendimento dispõe de 30 estações de coworking e sete offices, oferece infraestrutura e a possibilidade de trabalhar de forma colaborativa a profissionais autônomos, start-ups e empresas. Algumas, inclusive, já estão no local, como é o caso da InSite (citada no início desta matéria), Cliente Amigo (assessoria de atendimento ao cliente para empresas), Blue (agência de publicidade), DotFile – cloud storage (tecnologia) e Fastplay (gráfica expressa).
A Plurall Coworking fica no bairro São Luiz, em Criciúma. Foto: Maykol Cardoso
O presidente da Associação de Jovens Empreendedores (Aje) de Criciúma, Mário Westrup, conta que Criciúma possui atualmente o maior núcleo jovem empreendedor do sistema Fiesc, com 77 associados. “Estamos vendo uma mudança na cultura econômica da região. A Aje surgiu dentro da área industrial e comercial, mas precisamos estar ligados à inovação e empreendedorismo também. Já podemos perceber o ecossistema influenciando tanto na Aje quanto nos valores locais.”
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