Por Redação Engeplus
Em 02/08/2018 às 13:50O administrador aposentado Eduardo Mendonça Fava dos Reis residiu com a família em Shenzhen, na China, entre março de 2005 a dezembro de 2006. O motivo da mudança foi a oportunidade de atuar como Diretor de Logística em uma unidade produtora de zíperes de uma grande multinacional que atua no Brasil. Paulista, graduado em Comunicação Social e Administração com ênfase em Comércio Exterior, ele hoje reside em Santa Catarina e, em entrevista exclusiva a revista O Mundo dos Negócios, fala da experiência e peculiaridades de morar no país ocidental.
OMDN - No mundo dos negócios, qual o primeiro impacto de um brasileiro na China?
ER - A primeira experiência de negócios na China é algo inesquecível. É um grande País, com desenvolvimento acelerado, infraestrutura significativa, e impressionante atividade industrial. A variedade de produtos, valores e numerosos fornecedores em potencial é algo que não se encontra em nenhuma outra parte do mundo. Além dos produtos que se busca, as empresas da China sempre oferecem opções de coisas inéditas.
OMDN - Que costumes e diferenças culturais causaram maior estranhamento no âmbito profissional?
ER - A receptividade ao cliente potencial é muito importante para eles, que fazem de tudo para agradar. Desde a chegada ao aeroporto / porto, ao transporte a seu escritório, visita a fábrica (este um item importantíssimo para desenvolver uma cooperação de longo termo), almoços e jantares. Diferente dos ocidentais que são mais objetivos e vão direto aos assuntos relativos aos negócios, os Chineses o fazem gradativamente e gostam de conhecer as pessoas antes de fechar negócios. As refeições são os momentos desta troca de informações e os negócios são tratados em seguida.
OMDN - E no aspecto social?
ER - Nossa mudança para a China foi muito tranquila, pois já conhecia o País e os costumes desde longa data através de viagens a negócios. O prévio planejamento da mudança e a escolha de locais para residir e escolas para nosso filho foram todos avaliados ainda no Brasil, com auxilio da Internet. A estratégia foi residir em um local próximo a uma escola internacional e com as facilidades do dia a dia para a família, sem precisar utilizar um veículo. A planta onde iria trabalhar era distante, mas a prioridade foi o conforto da família. Fomos bem recebidos pela comunidade local e nos sentimos "em casa" desde o primeiro dia. Além disso, os brasileiros em geral são bem recebidos pelos Chineses, que tem o Brasil como um grande País, alegre, amigo, campeão de futebol, cheio de praias e sol. Isto também ajuda a se integrar a comunidade local.
OMDN - Como se desenvolve a comunicação, sendo a língua tão diferente da nossa?
ER - As línguas (mandarim e cantonês) são barreiras naturais, então desenvolve-se a arte da mímica para ajudar na comunicação. Muitas pessoas, sobretudo as mais jovens e até crianças, sabem falar Inglês, e então tudo fica mais fácil. No ambiente profissional tudo era tratado em Inglês. Mas algumas palavras chave, tais como: obrigado, bom dia, boa tarde, até logo são muito apreciadas quando expressas na língua local. Os chineses apreciam o nosso respeito e interesse pela sua cultura. O dia a dia torna mais difícil encontrar tempo para aprender as línguas locais, que possuem uma escrita totalmente diferente de nossa cultura, sons em quatro entonações no mandarim e nove entonações no cantonês. Mas com tempo disponível não seria impossível aprendê-las. Minha esposa fez um curso de mandarim para estrangeiros na Universidade de Shenzhen e aprendeu o básico para falar, ler e até escrever.
OMDN - Na sua visão, qual a diferença da China daquela época e a China de hoje?
ER - A China seguiu e continua seguindo um ritmo de desenvolvimento único no mundo. Minha primeira visita foi em 1994 e de lá para cá fazia uma a duas viagens por ano, até vir a residir em Shenzhen por quase dois anos. O que mais impressiona é a velocidade com que as coisas se transformam, sobretudo a infraestrutura de vias, portos, aeroportos, edifícios e outros. Também as indústrias que pipocam por todos os lados.
OMDN - Como você avalia a qualidade dos produtos chineses daquela época?
ER - A China iniciou com a produção de coisas básicas e de qualidade inferior aos produtos ocidentais similares. Mas com preços infinitamente mais baixos. Na medida em que os investimentos foram se ampliando, a sofisticação de produtos e o incremento na qualidade foram crescendo até haver produtos que se comparam aos de outras partes do mundo. Posso afirmar que hoje possuem as fábricas mais modernas do planeta, pois muitas empresas internacionais investiram por lá, mudando o eixo de sua cadeia de produção. Mas para tudo existe um preço e qualidade equivalente. Quem procura um produto muito barato irá obtê-lo com qualidade igualmente baixa. Quem procura algo com preço competitivo irá encontrá-lo com boa e até ótima qualidade. Para bons negócios é muito importante conhecer o fornecedor, seus recursos fabris, a origem de suas matérias-primas e, se possível, seus clientes internacionais. Estes parâmetros auxiliam bastante a receber o produto certo, com a qualidade certa e o custo competitivo.
OMDN - A alegria foi maior ao chegar na China ou ao deixar o país?
ER - Toda mudança, mesmo para um local já conhecido, gera expectativas que são gradativamente atendidas e tornam a vida agradável. Então diria que ficamos alegres ao chegar e tristes ao partir. Nos acostumamos com a vida na China, que mostrou-se mais segura, mais barata, com mais infraestrutura de saúde, alimentação, transporte do que encontramos aqui no Brasil.
OMDN - Qual o maior aprendizado que a China proporcionou a você e a sua família?
ER - Eu diria que a maior lição foi a quebra de paradigma que existe por parte dos ocidentais em relação a China. Um exemplo de como transformar um país atrasado numa grande potência mundial. Trata-se de uma cultura diferente, com costumes diferentes, mas que dia a dia vem se aproximando do padrão ocidental em todos os sentidos, mantendo o tempero Chinês. Mesmo tendo viajado muitas vezes para lá, a experiência de residir foi algo totalmente diferente. E foi muito boa, deixando saudades.
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