Entrevista

Moacir Fernandes e o futuro do Criciúma

Ex-presidente entende que o Tigre precisa de um novo modelo de gestão

Por Denis Luciano - denis.luciano@engeplus.com.br

Em 11/12/2016 às 01:30
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Foto: Arquivo Engeplus

Nas últimas três décadas do Criciúma, Moacir Fernandes foi presidente por 16 temporadas, entre 1985 e 92 e de 2000 a 2007. Com ele no comando, o Tigre conquistou os maiores títulos da sua história: a Copa do Brasil em 91, a Série B em 2002 e a Série C do Brasileiro em 2006. Disputou, ainda, a Libertadores da América em 1992. "Existe um recalque de não ter ganho a Série A", diz, quando questionado sobre o que faltou conquistar no tricolor.

Fernandes vive uma fase de prosperidade profissional, desde quando retomou a liderança dos negócios familiares a partir do último mandato. Mas ele parece não se desligar totalmente do Criciúma. Tanto que deixa escapar a possibilidade de no futuro, mediante um novo modelo de gestão, colaborar com o Criciúma. Esse modelo defendido pelo ex-presidente é uma atualização de algo que ele sempre reivindicou. 

Mas Moacir está distante até das reuniões do Conselho Deliberativo. "Hoje eu não vou na reunião do Conselho, vou dizer o que lá? Vou simplesmente dizer amém, não há o que aprovar ou desaprovar. Existe um dono do clube que faz o que quer e como quer", apontou, em tom de crítica ao atual modelo vigente no estádio Heriberto Hülse.

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Moacir Fernandes completou 70 anos na última sexta-feira, e conversou com a reportagem do Portal Engeplus para analisar o presente e projetar o futuro do Criciúma. Leia na entrevista abaixo:

Portal Engeplus - São 70 anos de vida. O senhor está realizado?

Moacir Fernandes - Tive duas coisas na vida que eu gostei, futebol e engenharia. Saí do futebol em 2007 e me dedico à engenharia, estamos trabalhando no Brasil inteiro. As duas coisas que eu mais gostava, eu faço.

PE – Em relação ao futebol, o senhor fez tudo o que gostaria?

MF – Existe um recalque de não ter ganho a Série A (risos). Ganhamos Série C, Série B, Copa do Brasil, fomos quintos na Libertadores, disputamos com o super time do São Paulo, ficamos com aquele gostinho de Série A.

PE – Eram outros tempos. Hoje tem tanto dinheiro envolvido, e o senhor é de um período no qual havia muito menos dinheiro que hoje...

MF – É, tínhamos um patamar diferente. A arrecadação era melhor, só de associados, e a gente planejava dentro daquilo, e mais o que a gente conseguia arrecadar. Hoje com as leis Zico e Pelé o futebol mudou, tirou o poder dos clubes e passou para empresários. O modelo de gestão ideal é que precisa ser estudado. É o que tem dado certo na Chapecoense. Vários empresários, abre para todo mundo, e aqueles empresários que gostam e queiram ajudar, esse é o modelo que deve ser aplicado. Eu não vejo muito sucesso no fator empresarial direto, como mandante direto, com uma única cota, afasta muito os torcedores e outros empresários que poderiam participar. O Criciúma é um time de torcida, de abnegados, do Comerciário que honra seus compromissos, e vejo isso com muita preocupação, em montar uma gestão que agregue todo mundo. Se eu pudesse ter influência nisso eu trabalharia nesse sentido.

PE – Não é hora de todo mundo que já ajudou o Criciúma volte a fazer parte de alguma maneira que se aproxime do clube e divida a gestão?

MF – O próximo modelo, lá por 2021 ou 2022, todos estão convencidos que esse modelo atual não é o ideal. Tem que abrir para vários empresários que queiram participar, que queiram colocar dinheiro para fazer um investimento inicial, pois depois a manutenção é fácil, o arranque sempre é importante para fazer um time competitivo. Precisa de um investimento inicial grande. Entre umas dez ou 15 pessoas ou empresas, mas pulverizando os cargos e mantendo as portas abertas aos associados e conselheiros, com voz de decisão. Hoje eu não vou na reunião do Conselho, vou dizer o que lá? Vou simplesmente dizer amém, não há o que aprovar ou desaprovar. Existe um dono do clube que faz o que quer e como quer. O Conselho só aprova. Se a conta estourou ou tem prejuízo, é problema do dono, e não do sistema, e cobranças não existem, e um clube quando não existe cobrança vejo com preocupação. Esse sistema atual de gestão não funciona aqui nem em qualquer clube grande, e não consegue sobreviver.

PE – O modelo atual do Criciúma está diante do ideal então...

MF – Você tem que congregar, como fazem em Chapecó, tem que chamar dez ou 15 empresários. A gente arrisca em tanta coisa que perde dinheiro, pode arriscar no futebol para ganhar ou perder, mas ampliando o leque. Tem muita gente que quer participar até com risco de ganho ou perda, mas com abrangência e cobranças maiores.

PE – Nessa próxima mudança, o senhor poderia capitanear a mudança?

MF – Não cabe a mim capitanear, cabe a mim colaborar. Tem o presidente do Conselho, o vice, secretário. Eu acho que os próprios conselheiros vitalícios teriam que ajudar, tem muitos com condições financeiras de ajudar ou de participar de uma empresa dessa, mas o clube não pode deixar de participar, ou com 30%, com 50%. Vamos ter que partir para um esquema desse para trazer toda a região de volta para o Criciúma.

PE – O Moacir tinha seus métodos de montagem de time. Hoje o Criciúma valoriza muito a base e contatos com empresários. Qual a sua ideia atual de montagem de time?

MF – É importantíssimo que no plantel você tenha no mínimo 50% da casa, isso é o que puxa o time, isso não deixa os outros saírem de linha, esses estão agrupados de tal maneira que auto protegem o clube. Tem que investir em juniores, percorrer outras regiões. E você tem que definir os 11 titulares, a torcida tem que saber quem são, e não inchar o plantel. Onze jogam, onze aplaudem e hoje você vive muitos problemas desse tipo, onze jogam e onze jogam contra e você não chega a lugar nenhum.

PE – O senhor continua mantendo contatos no futebol?

MF – Às vezes alguns técnicos de futebol me procuram, procuro até não atender. Alguns empresários também me ligam, lá do Ituano, tenho boa relação com o Mogi Mirim, de onde eu trouxe o Marcelo Rosa, tem uma procura mas eu estou focado na empresa e nos negócios. Faz pouco estive com o Levir Culpi, tomamos umas cinco garrafas de vinho, saímos abraçados e revivemos tudo o que passamos na Libertadores.

PE – O Criciúma essa semana contratou um técnico novato, o Deivid. Como o senhor encara a renovação do mercado de treinadores?

MF – Você precisa de um técnico que saiba fazer time. Em toda a convivência que eu tive, de 85 a 92 no futebol e do final de 2001 a 2007, existem vários técnicos de futebol, mas muito poucos sabem fechar os onze dentro do esquema que ele quer. E você conta nos dedos o técnico que sabe fazer time. Muitos técnicos que eu passei até treinavam o time, mas com o time praticamente pronto. Poucos sabem fazer time.

PE – Muitos torcedores pedem o “volta, Moacir”...

MF – Estou cuidando dos negócios. E me preocupo muito com a família e com isso. Mas futebol é complicado. Não pensa que vamos resolver, tem que haver uma estruturação fora de campo, interna também, a palavra vale no futebol, a palavra de um presidente não pode ser vacilada. O meio está muito promíscuo, isso é uma preocupação enorme, muitos empresários, muito perigoso, você tem que ficar com um olho na missa e outro no padre senão vai ser levado de roldão e cuidar muito dos atletas, das esposas dos atletas, o trabalho que era feito pela minha esposa Terezinha. É preciso também ambiente de família para poder dar certo.

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