Por Jessica Rosso - jessica.rosso@engeplus.com.br
Em 10/09/2020 às 09:30 - Atualizada há 4 anosNesta quinta-feira, dia 10, completam-se 36 anos da tragédia que resultou na morte de 31 pessoas em uma mina de carvão de 80 metros de profundidade na comunidade de Santana, em Urussanga. Em breve, o historiador Bruno Mandelli, de 30 anos, deve publicar um livro com relatos de sobreviventes, que trabalhavam em outros setores da mina no momento da tragédia. Ele também conversou com familiares das vítimas.
“A explosão atingiu apenas setores do subsolo. Os trabalhadores que estavam em outros setores conseguiram sair da mina e ajudaram no resgate das vítimas e dos corpos também”, diz. Ele conta que a conversa com os sobreviventes e familiares teve o intuito de saber como está a vida dessas pessoas após a tragédia. “Se a empresa pagou indenização, saber como estão. As famílias daquela época tinham várias crianças, eram famílias grandes e perder um chefe de família afeta toda a estrutura familiar”. O historiador relembra que a tragédia foi noticiada em todo o país e também repercutiu em outros países.
Mandelli já possui um livro publicado. O título da obra é ‘Das Minas de Carvão Para a Justiça’. O livro aborda as lutas dos mineiros acidentados em Criciúma. Segundo o historiador, tanto o seu primeiro livro, quanto este que está em fase de desenvolvimento, falam sobre as questões de condições de trabalho dos mineiros e sobre os acidentes e doença dos mineiros.
O interesse pelo tema
O interesse por abordar o tema surgiu quando ele teve conhecimento de que havia processos da Justiça de Criciúma no Centro de Memória e Documentação da Unesc (Cedoc), e foi lá que iniciou sua pesquisa. Os processos foram levados para a Unesc por uma equipe de professores e alunos que tiveram conhecimento de que os mesmos seriam descartados, pois já haviam sido julgados há anos, e estavam ocupando muito espaço no Fórum.
“Como eu fiz mestrado de história na UFSC, o meu tema de mestrado foi com base nesses processos. Então eu acabei pesquisando 500 processos da Justiça e todos eram processos de mineiros requerendo uma indenização por acidente de trabalho”, afirma. O historiador comenta que acidentes eram muito comuns na mina, por conta das atividades braçais, que causavam a incapacidade às vezes permanente ou até a morte do trabalhador.
“Eles tinham, por exemplo, que levar os carros de carvão, que não tinham aquela esteira como tem hoje, então acontecia muito descarrilamento, prensando os mineiros nas galerias”, conta. Mandelli citou ainda que na época não existia o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), apenas o seguro de acidente de trabalho, e que os mineiros recorriam à Justiça, por conta do seguro muitas vezes não ser pago. “Dos 500 processos que eu pesquisei, em 97% dos casos os mineiros ganharam a causa. A maioria dos casos ganhavam, porque as condições de trabalho eram difíceis e era direito deles, então eles acabavam entrando na Justiça já com uma certeza que teriam algum ganho com isso”, relembra.
O livro relembra a história da década de 40 (1940-1950), quando a mina era manual, sem mecanização. “Um período muito importante para a cidade, porque era o período onde mais tinham mineradores”. Para o historiador não há como falar da cidade de Criciúma sem falar da mineração, “porque ela foi a grande mola do desenvolvimento da cidade". Além disso também dá destaque para a formação de Criciúma com a imigração de europeus, italianos, alemães e espanhóis. “O período da década de 40 era de muito trabalho físico; eram 10 mil trabalhadores só da mineração em Criciúma pelo que pesquisei. Eram trabalhadores de vários lugares do país. Encontrei em processos, trabalhadores que vieram do Nordeste para trabalhar aqui na mina. Criciúma é uma cidade tanto formada por imigrantes europeus como por pessoas do próprio país”, complementa.
Mulheres também sofriam acidentes de trabalho nas minas de carvão
Em seu primeiro livro, o historiador fala sobre o trabalho desempenhado pelas mulheres nas minas de carvão em Criciúma. Os homens eram a maioria dos trabalhadores, porque trabalhavam no subsolo, na parte terrestre, mas 10% das pessoas que trabalhavam nestes locais eram mulheres.
“As mulheres trabalhavam na parte terrestre da mina. Elas eram chamadas de escolhedeiras de carvão, porque a função delas era separar o carvão que vinha do subsolo. Então elas tinham a função de escolher o carvão, e elas usavam picaretas também, o que levava a muitos acidentes de mulheres.
Atualidade
A mudança do trabalho braçal para o mecanizado, e o avanço em questões envolvendo a segurança, contribuiram para a diminuição no número de acidentes nas minas de carvão. Entretanto, segundo o profissional, ainda ocorrem acidentes e até mortes nas minas. “Claro que não na mesma proporção que antigamente”, diz Mandelli, que comenta que a função dos historiadores não é fazer um julgamento, mas sim lembrar do passado para que no presente ocorra a prevenção. Bruno Mandelli nasceu em Florianópolis, mas passou sua infância em Criciúma, onde reside atualmente.
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