Estrelas Além do Tempo é arrebatador

ESPECIAL / Willian Bongiolo

Há uma cena em Estrelas Além do Tempo que é arrebatadora. Uma das personagens está tentando ser a primeira negra a entrar em um colégio para brancos, e com isso tem que convencer o juíz a aceitar seu pedido. Nessa cena ela faz um discurso sobre a importância de ser o primeiro, e em como isso afetará outras como ela daquele momento em diante. Nesse momento percebemos o quanto a representatividade importa, seja ela na TV, Cinema, Teatro, Youtube e etc. Sem a representatividade há esperança de melhora, e sem esperança não haverá diversidade e tudo continuará como nos velhos tempos.

Estrelas Além do Tempo conta a histórial real de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, mulheres negras que trabalharam na Nasa e tiverem uma participação determinante para levar o homem ao espaço. Aqui temos um belo exemplar de como trabalhar o humor a favor de uma crítica social de 1962, mas que, de certa forma, ainda continua extremamente atual. 

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As piadas são inseridas perfeitamente dentro do longa para causarem, além do riso, certa reflexão no espectador. Note na bela cena em que as três personagens ficam felizes ao estarem sendo escoltadas por um policial em pleno estado de Vírginia. Ou mesmo quando uma das personagens está correndo mais de oitocentos metros para chegar ao banheiro, pois no prédio em que trabalha não existe banheiro para pessoas “de cor”. São momentos cômicos justamente pelo absurdo da situação da qual um dia já foi realidade de muitas pessoas, mas também reflevixos para percebemos o que reproduzimos hoje.

Outra coisa interessante de Estrelas Além do Tempo é sua eficácia em conseguir trabalhar com três personagens principais sem deixar a história de nenhuma em segundo plano. Apesar de elas trabalharem em setores separados, a montagem transita muito bem entre esses cenários para sentirmos e nos importarmos com todas as três. Então, é muito recompensador quando uma delas consegue vencer obstaculos impostos pela sociedade classicista e racista. 

Contudo, o longa peca em alguns aspectos, dentre esses o que mais se destaca é o roteiro e sua vontade de fazer piadas com eventos futuros. Um exemplo é a cena em que um dos personagens faz uma piada sobre comos os soviéticos não podem fincar uma bandeira na Lua antes dos americanos. Além disso o filme também peca em não promover um clímax mais eficaz, relegando-o a um clichê muito usado para tentar criar essa tensão final: o do herói nacional em perigo enquanto outros tentam salvá-lo, será que irão conseguir? (Já vimos isso várias vezes, inclusive no recente Perdido em Marte).

Por fim, há outra cena em Estrelas Além do Tempo que representa a grandeza do longa. Um dos personagens está martelando a placa do banheiro dos negros para retirá-la. Algo muito simbólico para representar que todo direito conquistado pelas minorias são com muita luta, suor e garra, pois ninguém da classe privilegiada levantará um dedo para ajudar, apenas para julgar. Tudo isso faz de Estrelas Além do Tempo um filme extremamente necessário para nos fazer refletir sobre o racismo e como ele ainda continua impregnado em nossa sociedade.