Crítica

Gosto de Cereja é essencial para quem deseja conhecer o cinema iraniano

Por Redação Engeplus

Em 06/03/2017 às 15:26
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Foto: Divulgação

Especial: Willian Bongiolo

É difícil quando assistimos algo extremamente diferente do habitual. Hoje em dia estamos acostumados a ver filmes com a câmera se movimentando rapidamente, com os personagens correndo e um clímax arrasador. Então há certa estranheza quando o público vai assistir a algum filme de fora dos EUA. Mas se ele der uma chance e embarcar na linguagem e reflexão desse cinema, com certeza irá se deliciar.

Gosto de Cereja conta história de Badii, um homem que está desiludido com a vida e decide se suicidar. Mas com medo sobre o que acontecerá com seu corpo ele parte em busca de alguém para lhe ajudar e jogar areia sobre o buraco ao qual irá cometer o ato. A direção é do lendário Abbas Kiarostami, e aqui ele faz um trabalho impecável.

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Ele consegue retratar perfeitamente os sentimentos de seu personagem principal sem precisar transformar isso em diálogos. Abbas escolhe usar todo o cenário ao redor do personagem para mostrar toda a desilusão de Badii. Perceba como o cenário é desértico, usa bastante as pedras para dificultar o caminho das pessoas, mas também existem poucas, mas belas árvores. Isso retrata o quanto Badii sente-se solitário e pesaroso sobre a vida, mas também mostra que existe uma fagulha de esperança.

Isso é reforçado pela incessante busca de Badii por alguém para lhe ajudar a cometer o suicídio. Percebemos que não é apenas a preocupação com seu corpo que o faz ir atrás dessas pessoas, e sim sua busca por alguma companhia no fim da vida. Notamos isso pelos diálogos com outras pessoas: Badii sempre pergunta sobre as famílias dessas pessoas, sobre suas esposas e se ela gosta do trabalho. Uma busca muito mais por uma humanidade perdida do que simples ajuda.

Ainda temos um final de tirar o chapéu. Além de deixar o final totalmente em aberto para interpretação de cada espectador, Abbas teve a coragem de fazer algo ímpar e subverter qualquer expectativa que o espectador possa ter. Obviamente é uma escolha que irá desagradar algumas pessoas, mas é inegavelmente algo corajoso e original.

Por fim, Gosto de Cereja traz uma forte reflexão sobre a vida e morte. E em como nossa vida é cheia de pedras e poeira, mas que também existe nela um gostinho maravilhoso de cereja. Enfim, é uma obra essencial para quem quer conhecer o cinema iraniano.

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