Por Roberta Mânica
Em 24/06/2024 às 09:50Você já percebeu como, cada vez mais, recorremos aos recursos tecnológicos em busca de refúgio ou fuga da realidade? Já se sentiu sobrecarregado pela avalanche de informações e ruídos que invadem o seu cotidiano, prejudicando suas relações e sua capacidade de se concentrar? Um relatório recente, "Digital 2024: Global Overview Report", do Datareportal, coloca o Brasil em segundo lugar no ranking global de países que passam mais tempo utilizando telas. Isso reflete um fenômeno mundial onde o tempo excessivo gasto com smartphones, tablets, computadores e televisores afeta não apenas nossas relações, mas também a neuroplasticidade do cérebro – a capacidade de formar e reorganizar conexões sinápticas, especialmente em resposta a aprendizado ou experiência.
Eis o paradoxo da vida moderna: estamos afogados em informações, mas famintos por sabedoria.
Na era digital, somos constantemente bombardeados por dados. E-mails, mensagens e redes sociais competem pela nossa atenção, criando uma sensação de urgência e fragmentação. Apesar do fluxo incessante, falta-nos a profundidade de compreensão e a capacidade de transformar esses dados em conhecimento significativo.
O sociólogo Zygmunt Bauman descreve nossa era como uma "sociedade líquida", onde tudo é temporário e em constante mudança. As relações humanas, o trabalho e até nossa identidade são instáveis, gerando insegurança e ansiedade. Essa fluidez resulta em uma vida marcada pela incerteza e pela necessidade contínua de adaptação.
No trabalho, essa instabilidade se traduz na pressão para ser altamente produtivo e para estar constantemente conectado. Um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) revelou que 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem de burnout, uma síndrome de esgotamento profissional. A automatização e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional intensificam essa sensação de sobrecarga.
Crianças e adolescentes também são afetados. A pressão acadêmica e a exposição contínua às mídias sociais podem levar a transtornos mentais. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 10% das crianças e adolescentes no mundo sofrem de algum transtorno mental. No Brasil, casos de ansiedade e depressão entre jovens cresceram 12% nos últimos cinco anos, segundo o Ministério da Saúde.
O psicólogo social Jonathan Haidt, no livro “A Geração Ansiosa”, destaca o colapso da saúde mental entre os jovens, principalmente desde a criação dos smartphones. Haidt descreve a "grande reprogramação da infância", que ocorreu entre 2010 e 2015, quando os adolescentes passaram de telefones celulares comuns para smartphones com câmera e internet. Essa mudança resultou em uma infância vivida no celular, com impactos negativos na vida social e no desenvolvimento cognitivo das crianças. Haidt argumenta que essa "reprogramação cerebral" deve ocorrer na vida real e não numa tela quadrada, onde as crianças recebem conteúdos de forma passiva. Ele sugere que, enquanto supervisionamos mais a vida online das crianças, devemos desprotegê-las um pouco na vida real, permitindo experiências e interações mais autênticas.
Apesar dos desafios, a tecnologia pode ser uma aliada na promoção da saúde mental. Ferramentas digitais e aplicativos estão sendo integrados em programas educacionais e ambientes de trabalho para ajudar a gerenciar o estresse e promover o bem-estar. Relatórios da Unesco indicam que 70% das escolas em países desenvolvidos utilizam tecnologia para apoiar a saúde mental dos alunos. Contudo, é essencial que essa tecnologia seja usada de forma equilibrada e consciente para evitar que se torne mais uma fonte de sobrecarga.
O psicólogo Howard Gardner, conhecido por sua teoria das inteligências múltiplas, pesquisou o impacto da tecnologia na cognição. Gardner alerta que a dependência excessiva da tecnologia pode prejudicar a concentração e o pensamento crítico. Com respostas a um clique de distância, há menos incentivo para desenvolver habilidades de resolução de problemas e análise profunda. No entanto, Gardner também reconhece que a tecnologia pode personalizar a educação e promover a colaboração e criatividade, habilidades essenciais no mundo moderno.
A teoria do déficit de natureza, proposta por Richard Louv, complementa essa visão ao destacar a falta de contato com a natureza como um fator crítico para o bem-estar. Louv argumenta que a desconexão da natureza pode levar a uma série de problemas físicos e psicológicos, incluindo ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. O contato com ambientes naturais pode restaurar a atenção, reduzir o estresse e promover um senso de tranquilidade e bem-estar.
Para lidar com a sobrecarga de informações e a fluidez da vida em rede, é necessário buscar o equiíbrio que envolve reflexão, compreensão profunda e a aplicação significativa do conhecimento. Isso exige desacelerar, criar espaço para a introspecção e cultivar relações autênticas. Além disso, práticas como mindfulness, meditação, yoga, atividades físicas regulares e contato com a natureza podem ser extremamente benéficas. Essas iniciativas ajudam a restaurar o bem-estar físico e mental, promovendo uma sensação de calma e clareza em meio ao caos informacional.
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