Saúde mental

Conectados e solitários: a epidemia da solidão e o avanço tecnológico

O que nos faz essencialmente humanos?

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Por Roberta Mânica

Em 12/03/2025 às 10:07
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Foto: Freepik

A solidão, antes um sentimento íntimo e silencioso, agora tem estatuto de crise global. O SXSW 2025 escancara essa realidade ao abrir sua edição com um chamado urgente para a reconstrução dos vínculos seguros. Se nos acostumamos a medir progresso pelo avanço tecnológico, o festival questiona: estamos negligenciando o que nos faz essencialmente humanos?  

O South by Southwest (SXSW) é um dos mais influentes eventos do mundo, reunindo anualmente em Austin, Texas, líderes da tecnologia, inovação, entretenimento e cultura. Desde sua criação, tornou-se um espaço de interseção entre tendências emergentes e desafios contemporâneos, antecipando debates essenciais para a sociedade. Em um mundo cada vez mais complexo e repleto de incertezas — marcado por crises climáticas, transformações no trabalho e o avanço da inteligência artificial —, a solidão emerge não apenas como um dilema pessoal, mas como uma questão estrutural que afeta bem-estar, saúde pública e até produtividade econômica.  

A Organização Mundial da Saúde já classificou a solidão como uma epidemia. O tema ganhou destaque no SXSW 2025 que assim como no ano passado, teve quatro painéis que debateram o impacto da tecnologia sobre nossas relações, revelando números inquietantes: 83% das pessoas afirmam se sentir sozinhas, principalmente no ambiente de trabalho. O dado, apresentado por Justin McLeod, CEO do Hinge, e Ann Shoket, CEO do TheLi.st, aponta para uma contradição do nosso tempo: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão isolados.  

O Brasil não escapa dessa realidade. Um estudo do Instituto Ipsos (2023) revelou que 50% dos brasileiros se sentem solitários frequentemente, índice superior à média global. O impacto da solidão na saúde é grave. Pesquisas em neurociência indicam que o isolamento social pode gerar níveis crônicos de estresse, afetando diretamente o funcionamento do cérebro. De acordo com o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, a falta de conexão social pode comprometer a neuroplasticidade, aumentar a inflamação no organismo e elevar o risco de doenças como depressão, ansiedade e declínio cognitivo. No ambiente de trabalho, essa desconexão se reflete na queda de produtividade, no aumento do absenteísmo e na falta de engajamento — dados da Gallup mostram que apenas 23% dos trabalhadores brasileiros se sentem realmente engajados em suas funções.  

No contexto corporativo, o isolamento social afeta diretamente a produtividade e a inovação. De acordo com um estudo da Harvard Business Review, trabalhadores que se sentem solitários são menos engajados, menos criativos e mais propensos a pedir demissão. Empresas que promovem um ambiente colaborativo e incentivam conexões interpessoais tendem a ter equipes mais saudáveis e produtivas.  

Se a digitalização das interações nos trouxe conveniência, também nos privou de nuances fundamentais da conexão humana. Estudos indicam que a solução não está na mera socialização, mas na qualidade dos vínculos. Pertencimento real exige presença, suporte mútuo e reciprocidade — pilares de uma “saúde social” que ainda engatinha como conceito.  

Mais do que um evento de tecnologia e inovação, o SXSW reafirma sua essência: um espaço para repensarmos o mundo. Em 2025, a mensagem é clara: a revolução do futuro não será apenas digital. Será profundamente humana.  

 

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