Por Amanda Ludwig - entrelidasevindas@engeplus.com.br
Em 04/02/2021 às 17:19Já aviso de antemão que nessa coluna não vim com uma resposta definida para a pergunta, mas com o objetivo trazer à tona um pensamento que talvez carregue a pergunta de um milhão: por que uma história se torna memorável a ponto de atravessar gerações e influenciar centenas de milhares de pessoas? Outras questões: um clássico não é, necessariamente, algo antigo... Mas é possível saber quando se está diante de algo que se tornará marcante? A autora de Anne de Green Gables, L. M. Montgomery, imaginou, por um dia sequer, que a órfã à qual deu vida seria personagem principal de uma série de sucesso da Netflix em 2017? Uma história dos dias atuais pode ter tanto sucesso assim, a ponto de ser lida ou ouvida em 2250?
Em uma discussão puramente acadêmica, entraríamos aqui no estudo de escolas, épocas e particularidades da literatura. Mas o debate que proponho é um pouco diferente. Conversa de botequim, mesmo. A Turma da Mônica será um clássico no futuro, quando as crianças de hoje terão crescido o suficiente para ensinar aos bisnetos as peripécias do Chico Bento? Ou a tecnologia passará por cima disso também?
Para falar sobre esse assunto, abordei novamente meu professor de literatura preferido: meu pai. Sei que ele aparece bastante por essa coluna, mas a causa é nobre. Para ele – o professor de literatura Melton Luiz Ludwig -, um dos principais elementos que pode fazer algo virar um clássico é o equilíbrio.
De acordo com o professor, clássicos não envelhecem porque são histórias antigas que conseguem manter-se atuais. “São obras que retratam algo com simetria, ponderação… a palavra clássico significa equilíbrio”, avalia.
Não é à toa, segundo ele, que gregos e romanos nos servem como exemplo, exatamente pelo fato de vivermos no ocidente e termos como base de organização social exatamente o que foi ponderado por eles com equilíbrio. “Os pensadores gregos e romanos criaram um conceito próximo desse equilíbrio em sociedade, sem extremismos e modismos. O que faz um criador criar um clássico? Exatamente a capacidade de observação e análise de um momento”, explica.
Na literatura essa figura acaba não sendo muito diferente. "Obras clássicas já traziam à tona questões que Freud foi discutir na psicologia muitos séculos depois, e que continuam sendo enigmas até hoje. Veja o conceito do Édipo, por exemplo", comenta Ludwig.
O mesmo acontece na obra do brasileiro Machado de Assis. "Vamos observar que Machado é um criador fora do comum, e tem a capacidade extraordinária de extrair da observação conceitos fundamentais, como a grande diferença entre a essência e a aparência das pessoas. Isso é algo forte e necessária ainda nos dias em que vivemos, pensar no quanto nós somos e no quanto mostramos para os outros uma imagem que no fundo não corresponde à nossa essência", destaca o professor.
Guimarães Rosa, por exemplo, escreveu Grande Sertão: Veredas com palavras e pensamentos de difíceis traduções para outras línguas. Há quem diga que essa obra-prima é algo que pode ser aproveitada apenas pelos brasileiros, justamente por sua excepcionalidade na linguagem. Voltamos à questão do início desse texto: Rosa sabia disso enquanto colocava no papel a história de Riobaldo Tatarana? É difícil saber. O que nos resta é aproveitar. Nonada…
E a gente segue conversando pelo e-mail entrelidasevindas@engeplus.com.br. O que você acha sobre o assunto? Te espero lá.
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