Por Rafaela Custódio -
Em 06/03/2023 às 12:14Uma fábrica de fraldas com equipes trabalhando, maquinário, uniformes e produção de fraldas. Poderíamos estar falando de uma empresa, mas estamos detalhando o trabalho voluntário da Cruz Vermelha de Criciúma. A instituição humanitária internacional sem vinculação estatal que atua na defesa de pessoas em situação de vulnerabilidade social criou há quatro anos uma fábrica de fraldas solidária com o objetivo de ajudar moradores do Sul de Santa Catarina.
“A Cruz Vermelha sempre viu a necessidade das doações de fraldas, pois quando entregávamos cestas básicas e roupas nas cidades e instituições, éramos questionados sobre fraldas. Fazíamos algumas arrecadações e campanhas, mas tínhamos o sonho de termos a nossa própria produção. Nos sentíamos frustrados quando as pessoas pediam e não tínhamos para doar”, lembra o vice-presidente da Cruz Vermelha de Criciúma, Almir Fernandes.
O sonho de ter o maquinário para a produção das fraldas sempre existiu e as pessoas voluntárias para realizar o trabalho estavam lá, mas faltava dinheiro para adquirir a máquina. “A Cruz Vermelha, com autorização do Poder Judiciário, ajudava as delegacias de Polícia Civil de Criciúma na destinação dos produtos furtados como fios, ferros e até bicicletas. Nós fazíamos a limpeza e entregávamos para os ferros-velhos da região, porém não recebíamos dinheiro, era apenas para ajudar. Em 2017, isso começou a mudar”, afirma.
A Cruz Vermelha recebeu duas máquinas para a produção de fraldas em 2017. “Elas foram doadas pelas Associações de Moradores de Içara. Nós fizemos reformas nessas máquinas, porém elas estavam com problemas e não conseguimos dar continuidade. Em 2018, fizemos contato com empresas que produzem máquinas de fraldas e, em média, elas custavam R$ 9 mil. Então, surgiu a ideia de dar sequência aos produtos da delegacia ao ferro velho com autorização do Poder Judiciário e o lucro ficaria para comprarmos a máquina nova. O lucro foi de R$ 5 mil, mas a máquina custava R$ 9 mil. Com isso, ficamos durante meses buscando arrecadar R$ 4 mil para completar o valor”, lembra.
Um dos parceiros que ajudou a Cruz Vermelha foi o Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (SIECESC). “Eles nos ajudaram com R$ 500 mensais e conseguimos acumular o valor de R$ 4 mil que faltava para comprar uma nova máquina. Em 2019, ela foi trazida à Cruz Vermelha e buscamos voluntários, matéria-prima e fomos para as cidades próximas que também possuem projetos semelhantes para aprender o processo”, destaca Fernandes.
Dois voluntários foram capacitados a operar a nova máquina e depois ensinaram os outros participantes do projeto. “Começamos em março de 2019 a produção de fraldas, mas de forma lenta, porque precisávamos da matéria-prima, mas ao mesmo tempo, muitos voluntários apareceram”, ressalta.
Atualmente, a máquina possui capacidade para produção de 4,1 mil fraldas por mês, com custo de R$ 5 mil para a matéria prima. “Hoje, recebemos doações do doutor Domingos Valentim Simon, URC Diagnósticos por Imagem, Siecesc, grupo de voluntários anônimos, Rotary Club de Criciúma-Oeste, Locativa e Unicred. A Associação Empresarial de Criciúma (Acic) também colabora conosco, porém queremos aumentar a produção, pois hoje só trabalhamos com fraldas para adultos e queremos também produzir infantis”, explica.
“O Projeto da Fábrica de Fraldas é um projeto de extrema relevância que viabiliza a produção de fraldas geriátricas que são direcionadas para asilos e comunidade em geral da nossa região. A Acic fez um movimento de divulgação para sensibilizar a comunidade para a doação de recursos ao projeto. O grupo de voluntários que mantém este projeto, por meio da Cruz Vermelha, faz um trabalho exemplar e o envolvimento da sociedade é fundamental para a continuidade deste belo trabalho”. Valcir José Zanette, presidente da Acic.
Atualmente contamos com 30 voluntários que trabalham duas vezes por semana na produção das fraldas. Entretanto, há dificuldade em manter a aquisição de matéria-prima. Temos alguns voluntários contribuintes, mas o montante não supre a demanda”, detalha. São 230 famílias e 26 instituições assistenciais cadastradas no projeto, atendendo as cidades da região Sul catarinense.
A importância da fábrica durante a pandemia da Covid-19
Durante a pandemia da Covid-19, a fábrica continuou produzindo fraldas e isso auxiliou famílias e instituições. “O pacote tem 30 fraldas com custo de R$ 1,20 por unidade. Nossa fralda tem qualidade. Imagina uma família retirar esse dinheiro todo mês do seu orçamento? Imagina isso durante a pandemia da Covid-19?”, comenta Fernandes. “Estamos oferecendo saúde e dignidade. O projeto das fraldas chamou a atenção do Rio de Janeiro, que também quer implantar esse trabalho”, acrescenta.
Conforme Fernandes, surgiu a oportunidade de a Prefeitura de Criciúma manter a fábrica. No entanto, as fraldas seriam destinadas apenas para moradores da cidade. “Só atenderíamos Criciúma, mas não queremos isso. Queremos ter liberdade de atender a demanda de toda a região, e queremos autonomia e liberdade também no trabalho voluntário”, explica.
Apoio de instituições
Atualmente, a Cruz Vermelha possui estoque disponível até o mês de junho. “Nós recebemos valores de jantares beneficentes de instituições como Sicredi, Unicred, Itaú Social e feijoada do Núcleo Catarinense de Decoração, por exemplo. No momento em que acabar o estoque de matéria prima, temos que parar a produção. Temos pessoas acamadas que recebem as fraldas e atendemos diversas cidades”, ressalta. “A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também está nos ajudando a estender o projeto para os presídios da região, ou seja, os detentos também produziriam essas fraldas, o que ajudaria muito. Isso não está longe de acontecer”, completa.
“A Polícia Civil foi a maior incentivadora desse projeto e nos ajudou lá no passado. É importante não desistir dos sonhos. Eu sonhei, mas toda a equipe da Cruz Vermelha almejou e não descansou até conseguirmos montar o projeto”, expõe Almir Fernandes.
Confira abaixo um vídeo sobre a linha de produção da fábrica de fraldas:
Produção infantil
A Cruz Vermelha recebeu uma segunda máquina para a fabricação de fraldas. A máquina estava inoperante e foi restaurada pelo curso de Engenharia Mecânica, com o apoio do mestrado em Engenharia Metalúrgica, do Centro Universitário Satc – UniSatc.
O processo de restauração da máquina levou em torno de seis meses. Foi o tempo que os alunos levaram para fazer o desenvolvimento do projeto, fabricar novas peças, ajustar o tamanho e deixar a máquina em perfeitas condições de funcionamento. “Entramos em contato com a fábrica para ver como era a parte de automação da máquina e algumas coisas nós desenvolvemos a partir dos nossos conhecimentos mecânicos para deixar o sistema ainda mais resistente”, conta o professor de Manutenção, Processos de Fabricação e coordenador do mestrado, Anderson Daleffe.
O projeto de restauração da máquina foi desenvolvido pelos alunos Hadrian Martins, Giordan de Souza e Márcio Afonso. O professor Douglas de Medeiros Deolindo, do curso de Engenharia Elétrica, auxiliou no processo de reparação e instalação do painel elétrico.
De acordo com Fernandes, a produção infantil pode ocorrer, sim, porém é necessária a arrecadação de dinheiro para a compra de matéria-prima. “Precisamos manter a cota fixa de R$ 5 mil para a fabricação de 4,1 mil fraldas adultas primeiramente. Tendo esse valor fixo voltado para as fraldas geriátricas, precisamos dobrar o valor arrecadado para iniciarmos a produção infantil. Do que precisamos? De mais parceiros, pois com certeza pessoas precisam dessas fraldas”, observa.
Voluntários: quem são
Sandra Rosa Del Castanhel atua na fábrica de fraldas e é voluntária na Cruz Vermelha há cinco anos. “No mínimo precisamos de dez pessoas para montar as fraldas. Trabalhamos nas segundas e quintas-feiras. Na quinta-feira à tarde trabalhamos com doação de cestas básicas, roupas, móveis usados, colchões, itens hospitalares e também distribuímos fraldas. Nós fizemos o cadastro para controle”, detalha.
A voluntária conta que escutar elogios sobre a fralda faz o trabalho valer a pena.
Claudete da Rocha Pavei é voluntária há cinco anos na Cruz Vermelha, mas já atua no serviço voluntário há mais de 40 anos. “Eu fui uma das pessoas que trouxe a ideia da fábrica de fraldas. Eu fazia muitas doações e não dava mais conta em virtude dos valores. Sou voluntária, mas também ajudo na compra da matéria prima”, conta. “Além de ser uma fralda boa, tem muita procura e às vezes as pessoas querem trocar as de farmácia pelas nossas, pois as nossas fraldas não vazam”, completa.
Juliana Gonzalez Osaco começou a fazer serviço voluntário na fábrica de fraldas em fevereiro deste ano. “Venho de São Paulo. Lá, eu fazia trabalho voluntário. Como já conhecia o trabalho da Cruz Vermelha, fiquei sabendo da fábrica de fraldas e vim para cá. Está sendo muito bacana, é um trabalho profissional, apenas de ser voluntário. É uma linha de produção e a equipe é muito bacana e um ambiente bacana de estar”, analisa.
Já Enio Woycickoski afirma que o trabalho voluntário faz a diferença na sua vida. “Sinto falta quando não venho. Comecei na fábrica no início dela, porém fiquei afastado por alguns meses e retornei novamente. Isso faz bem para o coração. Meu filho e nora também vieram uma vez, gostaram e vão continuar vindo também”, destaca.
“Não estamos ajudando os outros, estamos ajudando nós mesmos. Não tem coisa melhor do que ajudar o próximo sem cobrar nada."
Enio Woycickoski, voluntário
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Os interessados em ajudar com doações para a fábrica de fraldas poderão doar por meio de:
PIX: 11.408.025-0001-45
Banco do BrasilAgência: 0407-3
Conta Corrente: 98.617-8
Cruz Vermelha Brasileira - Filial do município de Criciúma
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