Gripe Aviária: o Acaso e o Descaso

Há séculos aves são acometidas por doenças respiratórias que podem levar desde uma indisposição momentânea, com diminuição produtiva por determinado tempo em alguns indivíduos, até a repentina morte de grande parte ou de todo um plantel de animais. Desde resfriados simples, aos quais as aves também estão susceptíveis, até casos de Pandemias mundiais como se configura agora no caso da Gripe Aviária, que com diversas cepas derivadas, vem acometendo e causando prejuízos comerciais em todos os continentes do mundo.

Por um bom tempo ficamos apenas assistindo de camarote as coisas ficarem feias no Hemisfério Norte, com muitas mortes de animais, abates preventivos e crises de abastecimento de carne e ovos em países da Ásia, Europa e América do Norte. Depois vieram os casos também na África, Oceania, América Central e, finalmente, chegou até nós aqui na América do Sul. Quase todos os países vizinhos ao Brasil já tiveram notificações de casos e em alguns casos, como na Argentina, o que se pode considerar como uma falha geral no sistema de contenção da doença, o vírus atingiu as criações comerciais, causando impacto direto com a interrupção de exportações de carne e ovos.

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne de frango e ovos do mundo. Fontes oficiais do Governo afirmam que somos o sétimo maior exportador mundial de ovos e o maior vendedor de carne e miúdos de frango, detendo 35% da fatia deste mercado mundial. Ou seja, um terço do frango comercializado no mundo é do Brasil. Além disso, deixamos de exportar apenas a carne e passamos a fornecer genética para vários países, vendendo ovos férteis para a formação de plantéis comerciais.

Só por esse breve relato você já pode imaginar o tamanho do prejuízo que teríamos caso algo interrompesse esse fluxo de produção. Por isso mesmo, também nos tornamos um dos países com o melhor sistema de segurança sanitária do mundo. A tecnologia e as práticas de manejo dos rebanhos comerciais no país estão entre as mais modernas e eficientes, o que justamente nos credencia a vender nosso produto para tantos países, alguns deles extremamente exigentes.

Porém, nem o mais moderno sistema de segurança pode impedir que a Gripe Aviária chegue a qualquer país do mundo. A questão é muito simples: a doença majoritariamente viaja nas asas de aves silvestres migratórias, que voam livremente de país em país, de continente em continente, sem a menor possibilidade de controle. Quando falamos de transporte controlado de animais feito pelo homem, as barreiras sanitárias são totalmente eficientes, mas não com aves migratórias. Portanto fica claro que o fato der uma ou várias notificações de aves silvestres infectadas em um determinado território é nada mais que obra do acaso e quase nada pode ser feito a respeito.

Mas, é preciso manter no foco dessa discussão que deixar que essa infecção chegue até os rebanhos comerciais e que se alastre por este setor, deixa de ser um acaso e passa a ser um grande descaso. Infelizmente para os nossos vizinhos argentinos, que já vinham sofrendo com a crise causada pelas perdas severas na lavoura e pecuária bovina, causadas pela estiagem prolongada, agora pagam também pela propagação dessa doença.

Por aqui, estamos nos preparando para o que seja talvez o maior teste para o nosso sistema de controle sanitário. Muito além dos governos, que mais são propagadores do que executores dos processos, a própria indústria e o setor produtivo criaram sistemas que podem manter nossos rebanhos comerciais longe dessa praga. Mas, para que tenhamos o maior sucesso possível, é preciso que cada pessoa faça sua parte, comunicando aos órgãos competentes qualquer caso suspeito, mesmo que isso lhe traga prejuízo momentâneo. Em momento assim, é preciso pensar no bem coletivo.