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O que revelam os slogans na política educacional

Livro se constitui em fonte reflexiva sobre a materialidade social do país

Por Redação

Em 12/01/2016 às 16:48

Fabrício Spricigo *

Organizado por Evangelista (2014), o livro intitulado “O que revelam os slogans na política educacional” reúne resultados de pesquisas do Doutorado em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. A obra se constitui em relevante fonte reflexiva sobre a materialidade social do país, especificamente neste período de intensas ondas de insatisfação que percorrem a nação.

Por slogan se entende expressão concisa, fácil de lembrar, utilizada em campanhas políticas, de publicidade, de propaganda, para lançar um produto, marca etc. No capítulo do livro intitulado “Professor: a profissão que pode mudar um país?”, apresenta-se um slogan cuja superficialidade pode mascarar o fato de que o desenvolvimento do país supõe e impõe a adesão do professor ao projeto histórico da elite dominante.

Alegando que a educação é campo de intensas disputas entre interesses antagônicos, alerta-se que está em evidência na atualidade um projeto neoliberal (com forte presença dos Organismos Multilaterais) para desviar a origem dos problemas socieconômicos da relação capital-trabalho para seus efeitos superficiais aparentes, colocando para a educação a responsabilidade de solucioná-los.

Além disso, ao analisar o número de matrículas em cursos de licenciatura no Brasil, indica-se a lógica nefasta das políticas de formação de professores, constituindo-se “um nicho de mercado para instituições privadas [...] uma vez que a dívida do governo com os professores é paga sob a forma de políticas precárias, com repasse de responsabilidades para o setor privado” (p. 64).

Em outro capítulo, temos a “Educação para o Empreendedorismo como slogan”. Nesse sentido, temas de empreendedorismo adentram o universo escolar como forma de adaptar o estudante à lógica dominante em vigência. Assim, argumenta-se que a educação para o empreendedorismo é justificada como forma de ampliar o espírito crítico empresarial, contudo, pouca ou nenhuma referência é feita às causas das atuais mazelas sociais que se encontram no modo capitalista de produção.

Nesse contexto, o autor deixa claro que educação não é um negócio; não é uma mercadoria. Propõe, portanto, que se deve “lutar para que o espaço da educação escolar seja de construção da emancipação humana e não simplesmente o da qualificação para o mercado”. (p. 166).

Por fim, a obra traz “Considerações sobre o papel da educação eficiente como estratégia para o alívio da pobreza”, que trata da importância atribuída à educação eficiente, especialmente pelo Banco Mundial, para o alívio da pobreza. Nessa perspectiva, a educação é disseminada como fórmula mágica, “como possibilidade de dotar os pobres de condições de saída de sua situação de pobreza”. (p. 278).

Assim, se o sujeito está desempregado ou subempregado, é resultado da ausência de méritos em sua qualificação individual. Ou seja, culpabiliza-se em grande medida o processo educacional ou mesmo o indivíduo pela situação de pobreza em que vive parcela significativa da sociedade.

Enfim, há um esforço de pesquisa que reúne slogans persuasivos da política educacional brasileira que obscurecerem a realidade. Assim, parafraseando os autores Frigotto e Ciavatta, em determinadas épocas, certas palavras são focalizadas e outras silenciadas, sugerindo que devemos ser vigilantes, buscando revelar o significado das palavras, compreendendo o que nomeiam ou escondem e que interesses articulam.

* Pedagogo, mestrando em Educação - Udesc

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