Furacão Catarina

Catarina: Há uma década o furacão passava pelo Sul

Nesta quinta-feira, dia 27, fenômeno climático que surpreendeu o Brasil completa dez anos

Por Douglas Saviato - douglas.saviato@engeplus.com.br

Em 27/03/2014 às 09:00
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Foto: Nasa / Divulgação: Epagri

Um dos maiores eventos climáticos da história do Brasil completa dez anos nesta quinta-feira. Durante o dia 27, quando os efeitos do furacão chegaram no Litoral, e dia 28 de março de 2004 - quando já se contabilizavam prejuízos, moradores do Sul do Estado presenciaram cenas jamais vistas. Com chuva e fortes rajadas de vento, muitos acreditavam que ele não viria, mas o Catarina se aproximava do litoral Sul catarinense ao longo daquele sábado (dia 27). Após sua passagem, a destruição e a confirmação: o primeiro furacão da história do país havia passado pelo Sul, derrubado árvores, obstruído vias, deixado casas destelhadas, vítimas (uma morte) e moradores desabrigados. Depois de uma década, nenhum evento climático semelhante superou a fúria do Catarina, que, segundo pesquisas posteriores, confirmaram rajadas de vento de 180 Km/h.

O município de Siderópolis registrou vento de 150 Km/h, a maior medição confirmada pelos meteorologistas durante o Catarina. No entanto, o local não foi o mais atingido. Conforme o meteorologista da Epagri de Florianópolis, Clóvis Lavien Corrêa, a região mais afetada foi Passo de Torres em direção ao município de Araranguá. “Os 150 Km/h por hora foram registrados por volta das 3 horas em Siderópolis, sendo que a maior destruição foi na região de Araranguá, Praia Grande e Sombrio”, frisa. De acordo com Corrêa, foi verificado através de estudos científicos, tendo como base a destruição destes locais, que o vento chegou a 180 Km/h. Desde então, em nenhum local do Brasil houve registro de vento desta magnitude.

O fenômeno foi acompanhado pelos profissionais da Epagri, em Florianópolis, que elaboraram um relatório de monitoramento do furacão. Abaixo estão alguns trechos deste acompanhamento. 

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"Na madrugada do dia 28 de março (sábado para domingo) o furacão Catarina estava com o olho totalmente no continente, provocando ventos em alguns municípios de mais de 100 km/h. De acordo com o depoimento de testemunhas no relatório de monitoramento no Centro Operacional da Epagri/Climerh, entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, os ventos fortes de 100 km/h a 150 km/h provocaram destruição, como destelhamento de casas e queda de árvores em Arroio do Silva, Araranguá, Sombrio, Balneário Rincão e Criciúma. O mar ficou agitado com ondas de até 5 metros na costa, caracterizando ressaca em boa parte do litoral Sul".

Foto: Nasa / Divulgação: Epagri

Ainda conforme o depoimento de testemunhas no relatório de monitoramento no Centro Operacional da Epagri/Climerh, as pessoas que passaram pela experiência do Catarina contam que o vento ganhava força a partir das 23 horas e sopravam inicialmente do quadrante Sul com rajadas de mais de 100 km/h.  A ocorrência de chuva forte ocasionava uma sensação de frio intenso. Entre 1 hora e 3 horas, os ventos ficaram mais calmos e o céu estrelado (passagem do olho do furacão). Nesse momento, foi observado um certo abafamento como se a temperatura subisse alguns graus. A partir de 3 horas, voltaram a ocorrer chuva forte e o vento ficou ainda mais intenso, com rajadas superiores a 150 km/h, desta vez do quadrante Norte. Segundo os depoimentos, o vento forte provocava um ruído comparado à turbina de um avião.

Velocidade de vento - A velocidade do vento é medida através de uma escala, que varia de um a cinco. Segundo Clóvis, a velocidade nível um varia entre 129 Km/h e 153 Km/h. O nível dois é estabelecido entre 154 Km/h e 174Km/h e o três entre 175 Km/h e 209 Km/h. Já no nível quatro a velocidade do vento chega entre 210 Km/h e 149 Km/h. No nível cinco, a velocidade do vento ultrapassa os 250 Km/h. “O furacão Katrina, em Nova Orleans (EUA), chegou neste estágio. Essa velocidade é devastadora. Na região, a força do vento oscilou entre o nível um e dois”, pontua o meteorologista Clóvis Lavien Corrêa.

Probabilidade de outro fenômeno - Alguns fatores corroboram para a formação de um furacão, o primeiro deles é a baixa pressão atmosférica, acompanhada pela alta umidade do ar, o que acaba formando o olho do furacão e seus aspirais. Outro fator fundamental é em relação ao vento da superfície e de alto nível. Os dois devem estar parecidos. O meteorologista explica que essas regras são baseadas por vários estudos nos Estados Unidos, em instituições na Europa e alguns países asiáticos. “É um fenômeno que ocorreu e pode ser repetido, mas para que sua formação aconteça é preciso de combinações de várias características, portanto, é difícil que ocorra. Até o momento, este foi o único registro brasileiro”, afirma. 

Quem viu, vivenciou e contabilizou prejuízos com o Catarina - A diarista Marlene Mota da Silva, moradora do Balneário Rincão, define o dia do furacão Catarina como um dos mais aterrorizantes. “Fiquei com tanto medo que fiquei deitada no sofá da minha casa, das 21 horas às 4 horas do outro dia, e acabei não vendo nada. Foi terrível, espero nunca mais passar por isso de novo”. Marlene recorda que o vento iniciou às 20 horas e a velocidade foi aumentando gradativamente. “Entrou água na minha casa, janelas estouraram, mas nada grave. No entanto, ao redor da minha residência o cenário era de destruição”, relembra. 

Foi no Vale do Araranguá, onde a destruição provocada pelo vento foi maior. Além de vias obstruídas, dezenas de casas destelhadas, em Araranguá a força do furacão Catarina tirou a vida de um morador.

Morte na passagem do furacão - O homem morreu ao tentar fugir do forte vento, porém, o carro utilizado para a fuga não chegou a sair do lugar. A moradora do bairro Sanga da Toca Primeira, em Araranguá, localizado no KM 423 às margens da BR-101, Maria Elisete Rosa Pires, lembra da tragédia.“Uma família tentou sair de casa, pois pensava que o forte vento destruiria o local em que estavam. O homem, sua esposa, acompanhado do filho, da nora e do neto entraram em um Fusca, mas antes de partir a nora retornou até a residência para buscar mais roupas para o filho. Quando ela voltou uma árvore caiu sobre a parte dianteira do carro”, recorda.

O homem morreu ainda no local da fatalidade. Sua esposa ficou presa nas ferragens e foi retirada com auxílio de vizinhos, que também ajudaram o filho, a nora e o neto a saírem do automóvel. Quebrando os vidros do Fusca, os populares retiraram a família do carro, enquanto aguardavam a chegada do Corpo de Bombeiros. Posteriormente, a esposa da vítima passou por uma cirurgia e teve que retirar o baço. Poucos dias depois da passagem do furacão, a família deixou o local.

Foto: Arquivo JM

Já na casa de Maria, o vento também fez estragos. “Não ficou uma telha na minha casa no lugar, foi sinistro. No sábado à noite estava em um casamento no município de Içara com meus dois filhos, que na época eram crianças. Após a celebração viemos embora, por volta das 23 horas. Mesmo com muita chuva e com o forte vento trafegamos pela BR-101 com o pisca-alerta ligado a 30 Km/h. Não dava para enxergar nada. Não consegui chegar em casa e parei na casa da minha irmã, também em Araranguá”, recorda.

Destruição - O bairro Sanga da Toca Primeira foi um dos mais atingidos. “Quando cheguei em casa, a água estava pelo joelho, ficamos sem energia e água potável por três dias. Os moradores tiveram que colocar lonas no telhado. Faltou telha na região, lembro que vieram várias carretas fazer o abastecimento”. Atualmente atuando como agente comunitária de saúde, Maria Elisete ressalta que ninguém acreditavam que a passagem do furacão provocaria tantos estragos. “Quem não rezava passou a rezar a partir daquela noite. Hoje até rimos da situação, mas foram cenas que até hoje nunca mais presenciamos e nunca mais esquecemos”, conclui. 

Imagens: Arquivo RBS TV/ Edição: Nilton Dal Pont/RBS TV

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