Por Fabrício Júnior - fabricio.junior@engeplus.com.br
Em 12/06/2025 às 09:00Se você acordasse com um desejo enorme e irrefutável de mudar de país, abrindo mão de uma carreira vitoriosa para buscar algo desconhecido até então, teria coragem para tomar tal decisão? A vontade repentina de trocar a Itália pela Argentina mudou a vida do cubano Ángel Dennis e da içarense Sany Mazzuchetti.
Te convido a tirar um tempo para a leitura dessa história de amor, que o Portal Engeplus conta neste Dia dos Namorados, 12 de junho de 2025. Ah… e claro, se você é emotivo, aconselho a separar um lencinho antes de continuar sua leitura e ingressar nessa viagem de uma linda história de amor.
O desejo “inconsequente”
Imagina que loucura, você é jogador do Flamengo, está no auge da sua carreira, acorda em um dia comum, liga para seu agente e diz que quer se transferir para um time da Série C do Campeonato Brasileiro. Essa é apenas uma analogia para explicar o desejo “maluco” de Ángel Dennis.
O cubano, que nunca se intimidou em tomar decisões, estava mais uma vez disposto a seguir seu coração. Isso mesmo, mais uma vez. Não havia sido o primeiro grande desafio do atleta de vôlei em sua carreira, que iria interferir também na vida pessoal.
No início dos anos 2000, Dennis abandonou a concentração da vitoriosa Seleção Cubana de Voleibol enquanto disputava uma competição na Bélgica para fugir para a Itália. A explicação? Simples! Liberdade era o desejo do atleta. Poder trabalhar de forma profissional, receber um salário justo e compatível com sua função e ajudar a família. Aparentemente seria algo fácil de buscar, porém, não era o que pensava o personagem principal dessa matéria.
A fuga deu certo! A carreira também. Dennis estava consolidado em uma das maiores ligas de vôlei do mundo. Mas, como nem tudo foi fácil para o cubano, em meados de 2011, Dennis acordou com um desejo “inconsequente”: trocar a terra das massas pela Argentina, que tinha um campeonato com potencial técnico muito inferior ao do continente europeu.
Sem saber a motivação da vontade, o atleta apenas fez uma ligação para informar que tinha definido seu destino. “Falei para meu agente ‘quero jogar na Argentina, peço que me arrume um time lá. Não me interessa seguir na Itália’. Eu sabia que essa viagem tinha um motivo especial, mas ainda não sabia qual”, destaca o cubano.
Martelo batido! Dennis viajou rumo à Buenos Aires. Estamos prestes a entender o motivo desse louco desejo.
A resposta estava em Buenos Aires
Na capital do tango estava a resposta que Dennis ainda buscava. Ela se chamava Sany Mazzuchetti. Natural de Içara, a catarinense nem imaginava que uma cirurgia no ombro, justamente a parte do corpo mais explorada em um atleta de vôlei, iria mudar sua história.
Bacharel em Direito, Sany fez sua vida na Argentina. A içarense foi para Buenos Aires, onde realizou pós-graduação, doutorado, e se estabeleceu como profissional.
Uma cirurgia no ombro lhe obrigou a fazer uma pausa na jornada de trabalho, o possibilitando de ver seus pais no Brasil por pelo menos duas semanas. Bendito ombro!
Chegou o GRANDE DIA!
Enquanto arrumava as malas para visitar o Brasil, Sany não fazia ideia de que sua alma gêmea (como assim classifica Dennis) estaria se preparando para viajar à terra do samba e do pagode. E por falar nisso, essa bela história ganhou um “tom” ainda mais legal com uma composição que de alguma forma foi destinada ao casal. Saberemos mais adiante nesta reportagem.
O cubano recebeu um convite de Paulo André Jukoski da Silva, o Paulão, campeão olímpico com a Seleção Brasileira em 1992, para jogar em um clube do Rio Grande do Sul. Dennis decidiu que viajaria para Porto Alegre para ouvir a proposta e conhecer o projeto.
Sem saber, o encontro estava marcado, pelo destino, por Deus, por alguma força divina ou pelo simples fato de que tinha que acontecer (você leitor pode decidir a melhor hipótese para sua crença). “Eram 6 horas da manhã. Estava no aeroporto de Buenos Aires esperando para fazer o check-in. Passou uma mulher bonita do meu lado e eu fiquei observando admirado, mas ficou por aí”, recorda Dennis.
Na verdade, “ficou por aí” apenas o primeiro contato visual. “Quando ingressei no vôo, às 6h30, não tinham 20 pessoas no avião. Essa pessoa que eu havia visto passar do meu lado tinha o posto ‘5B’ e eu o ‘5C’, então quando olhei comecei a rir e pensei que era muita coincidência”, lembra o cubano, como se tivesse ganho na loteria. E ganhou!
Dennis e Sany passaram a viagem conversando como se fossem conhecidos há tempos. Eles trocaram contato telefônico e sem saber (ou talvez adivinhando) iniciaram ali uma bela história de amor, que dura mais de 14 anos, e que já gerou frutos, como a Elena de 11 anos e a Siena de 1 ano e 6 meses, filhas do casal.
Mas…o primeiro contato foi apenas de conhecimento e terminou de forma inusitada, já no Brasil. “Ele sempre fala que já tinha programado tudo quando o avião chegasse, que iríamos tomar café juntos, conversar mais… Mas foi tudo ao contrário. Quando minha mala chegou, eu peguei e saí correndo para encontrar os meus pais e a gente veio para Içara”, conta Sany.
A troca de contatos no avião possibilitou que Dennis e Sany se conhecessem e não perdessem o contato. Assim, tudo ficou mais fácil para que o cubano e a içarense se reencontrassem, dessa vez sem o empurrão do destino, que já havia cumprido seu papel. “Ficamos em contato por mais de um mês, até que ele voltou para Buenos Aires para me reencontrar e decidimos nunca mais nos separar. Realmente foi amor à primeira vista”, lembra a mamãe da Elena e da Siena.
Para o atleta, que não havia compreendido a vontade de deixar a Europa para vir à América, trocar a Itália pela Argentina nunca fez tanto sentido. “Nesse dia (o da viagem), eu descobri o porquê eu queria tanto isso. Eu ainda não sabia, só tinha uma voz que me falava para voar para Argentina e esperar”, frisa Dennis.
História de filme…ou de música?
Enquanto buscava conhecer a história do casal para produzir esta matéria, enlouqueci quando Sany me trouxe detalhes sobre a poltrona em que estava no avião. Aquela história que iniciou com um olhar admirado no aeroporto e que teve como local marcante o 5B me fez imediatamente imaginar que a música “Ponte Aérea”, interpretada por Thiaguinho, na composição de Pedro Felipe, foi feita para eles.
“Eu sete horas da manhã
Esperando minha ponte aérea pra São Paulo
Vi você, celular na mão, mochila no chão
Esperando o seu vôo também
Imaginei
Será que ela vai no mesmo vôo que eu?
Pensei
Será que o destino dela vai cruzar com o meu?
Peguei o meu acento, 5B
Botei o meu fone de ouvido
Ouvi um samba lindo
E quando olhei pro lado
Quem estava lá?
Você no 5A”
Tudo bem, apesar de a outra poltrona ser a 5A e não 5C, e na música o destino fosse São Paulo e não Porto Alegre, no mínimo é muita coincidência. “Que maneiro! Não foi feita pela história deles, mas acaba sendo mesmo a música deles”, destacou Pedro Felipe, ao ser procurado pela reportagem para saber a inspiração da letra e conhecer a história do casal.
O compositor fala sobre a música “Ponte Aérea” e manda recado para Dennis e Sany. Obrigado pela colaboração, Pedro!
Mas e o casal? Será que eles se identificam com a música? Veja a reação de Dennis e Sany ao ouvirem Ponte Aérea, na voz de Thiaguinho:
Conhecendo o mundo e voltando para Cuba
Depois de ‘encontrar sua alma gêmea”, Dennis seguiu a carreira, ao lado da mulher. Por meio do vôlei, o casal teve a oportunidade de conhecer vários países. Aproximadamente três anos após o encontro no aeroporto de Buenos Aires, Dennis e Sany receberam um dos presentes mais valiosos que o ser humano pode ganhar: o nascimento de um filho. Nesse caso, da Elena.
A alegria da família passou por momentos de tristeza, preocupações e incertezas. Dennis descobriu que sua mãe estava com câncer. Por ser considerado desertor, o então jogador não tinha autorização para retornar ao seu país de origem.
“A gente pediu uma autorização e Cuba deu o passaporte para ele lá no consulado no Rio de Janeiro. E nós com muito medo retornamos para lá, no intuito de visitar ela e mostrar a neta. Nós viajamos seis vezes e ela também saiu algumas de lá, até falecer, há cinco anos”, lembra Sany.
Fim de carreira e vinda para Içara
Com a carreira de atleta chegando ao fim, após o período de pandemia da Covid-19, Dennis aceitou a proposta da esposa de estar próximo aos avós maternos de Elena. Com isso, o casal veio morar na Içara.
Poucos anos depois da decisão, já em solo catarinense, o casal ganhou mais um presente como família. Há um ano e meio nascia a segunda filha, a Siena.
Mesmo com duas meninas na família, Dennis e Sany ganharam outros “filhos” na região. Atualmente, o ex-atleta coordena um projeto de vôlei em Forquilhinha, que reúne mais de 500 crianças. Enquanto a esposa está à frente do Centro de Atendimento e Terapia para Autistas, em Içara.
“Hoje a gente dedica muito do nosso tempo para cuidar dos outros, mas não esquecendo que nossa família é tudo”, finaliza Sany.
O recado do apaixonado Dennis
Por ser classificado como “mais romântico” pela própria esposa, pedi à Dennis para que deixasse uma mensagem especial neste Dia dos Namorados sobre “O que é o amor?” e “Por que acreditar nesse sentimento?”
Ouça a resposta do viajante apaixonado:
Veja a reportagem em vídeo sobre a história de amor de Dennis e Sany:
Leia mais sobre:
Amor,
dia dos namorados,
Angel Dennis,
Sany Mazzuchetti.
Matéria especial
Criciúma
História de amor
Cooperativismo
Tampinhas do Bem
Solidariedade
Ainda dá tempo!
História de amor
Cooperativismo
Tampinhas do Bem
Solidariedade
Ainda dá tempo!