Magistério catarinense

Professores de Santa Catarina podem paralisar atividades a partir de terça-feira

A rede estadual de ensino conta com 500 mil alunos

Por Rafaela Custódio -

Em 21/04/2024 às 22:00
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Foto: Divulgação

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte) aguarda uma resposta do Governo do Estado sobre as reivindicações da categoria. Segunda-feira, dia 22, é o último prazo estabelecido antes de a greve iniciar, já que a data prevista em assembleia para a paralisação será terça-feira, dia 23. Entre os pontos em destaque do magistério catarinense estão a valorização da carreira, com a aplicação do reajuste do piso salarial em todos os níveis, a descompactação da tabela salarial, a revogação integral do confisco de 14% das aposentadorias e a garantia de hora atividade para todos os professores dos anos iniciais e segundos professores, com a luta pela sua extensão a todos os profissionais da educação.

“Depois de muita pressão, o Governo do Estado nos convidou para uma audiência na última semana, mas adotou a mesma postura desde o início de 2023, que é falar dos estudos que eles estão fazendo, das contas do Estado, da arrecadação e que buscam encontrar viabilidade de alguma proposta. Diante de tudo isso, de concreto mesmo, não apresentaram nada. Nos informaram que o governador Jorginho Mello está reconhecendo a necessidade, que estava percebendo de todas as mazelas, está responsabilizando, mais uma vez, os governos anteriores e, de concreto, não apresentou a proposta que nós estamos buscando”, comentou o coordenador do Sinte, Evandro Accadrolli, em entrevista ao Portal Engeplus

O coordenador do sindicato afirmou que os professores não têm valorização na carreira em Santa Catarina. “O professor recebe hoje um valor único, que é do piso nacional. O piso nacional foi criado como base para um professor que tem formação de ensino médio. E nós temos professores que já têm Licenciatura em alguma faculdade, em alguma das disciplinas eles têm especialização, mestrado e doutorado, em grande número, e eles não têm esse reconhecimento. Essa é uma pauta que nós queremos: valorizar professores que se qualificam, que buscam melhores formações, que se tem uma formação permanente, que sejam valorizados, até porque daí ficam os melhores professores na rede”, destacou.  

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Conforme o coordenador do Sinte, em Santa Catarina, são 34 mil trabalhadores contratados de fevereiro a dezembro. “Em dezembro, eles são demitidos e talvez contratados no outro ano. São 34 mil pais e mães de família que se formaram para ser professores de carreira contratados. Esses são os grandes problemas hoje. A forma que se é contratado, que é temporário, e não ter uma valorização de carreira. Com isso, nós estamos com o salário congelado desde 2021, sem nenhum aumento. Nesse processo de negociação com o governo Jorginho Mello, nós estivemos negociando anteriormente com o [ex-governador] Carlos Moisés, e não tivemos avanço também. Com o Jorginho, que prometia muito, prometeu uma proposta em 2023, não cumpriu, prometeu uma proposta com certeza para 2024, e não cumpriu. Deixou a categoria com muita expectativa e não entregou nada”, frisou. 

Concurso 

Accadrolli lembrou que o Governo do Estado prometeu um concurso público em 2023 com 10 mil vagas. “Estamos em abril de 2024 e não foi lançado o edital do concurso público. Então, ele fala muito, promete muito, parece que está em campanha ainda, e não apresenta nada em concreto. Isso deixou a categoria indignada, porque já vem sofrendo com a desvalorização, sofrendo com essas questões. Hoje o cenário é muito favorável para uma grande paralisação”, adiantou. 

Universidade Gratuita

O coordenador do sindicato afirmou que o Governo do Estado se preocupou em lançar um projeto para as universidades, mas esqueceu da educação básica. “O projeto Universidade Gratuita tem muita propaganda, um alto investimento, mas é mais para favorecer a iniciativa privada do que de fato fazer política concreta que beneficie a população. Quem está ganhando esse benefício do Universidade Gratuita? Os alunos mais favorecidos. Em contrapartida, nós temos na nossa rede mais de 500 mil catarinenses, que são crianças e jovens, que dependem de uma boa educação para o passo seguinte, que é para ter uma boa profissão numa universidade ou num bom curso técnico. Eles precisam ter uma educação básica. Essa é uma pergunta que a sociedade precisa fazer. Por que bota esforço no setor que, em tese, não é compromisso do Governo do Estado?”, observou. 

Último reajuste salarial 

Segundo o coordenador do sindicato, a última vez que a categoria recebeu reajuste salarial foi em 2021. “É greve por tempo indeterminado. Nós tivemos inclusive a categoria dividida em 2023, porque ele [governador Jorginho Mello] prometeu essa proposta [de reajuste] e não apresentou no final do ano. Demos mais um tempo para o início deste ano. A categoria esperou o mês de março para esse reajuste, porque deveria acontecer no piso em janeiro”, argumentou. “Esperamos que ele atenda a categoria até segunda-feira, que chame o sindicato e apresente uma proposta para ser apreciada em assembleia, e a categoria vai decidir se continua em greve ou acata a proposta”, acrescentou. 

Atualmente, são 78 mil professores na rede pública, sendo que 46 mil estão em atividade e o restante são profissionais aposentados. “Dos 46 mil, 34 mil desses trabalhadores são contratados de forma temporária. O concurso público qualifica a educação porque o professor pode fazer um projeto numa unidade escolar que dure um ou dois meses, um, dois ou três anos. Ele não precisa interromper projetos todos os anos, passar por um processo seletivo e ficar desempregado”, comentou. 

Criciúma 

Na última sexta-feira, dia 19, o coordenador do Sinte esteve em Criciúma visitando algumas escolas, como o E.E.B.Eng. Sebastião Toledo dos Santos (Colegião). “Quem será o grande prejudicado pela greve é o próprio professor, porque ele vai ter que trabalhar dobrado depois para repor esse período. É uma decisão muito difícil para o trabalhador aderir à greve. E, por isso, nós estamos construindo ela, mas o governo sabe da necessidade”, garantiu. 

Terça-feira inicia com greve 

Se o governo não apresentar nenhuma proposta nesta segunda-feira, dia 22, os professores já estarão em greve na terça-feira, dia 23. “Inclusive, tem escola que já se organizou e já avisou os pais sobre a greve. Nós estamos também entregando material para os pais”, explicou. “Nós temos 30 regionais no Estado organizadas como sindicato, aqui em Criciúma também. Estamos orientando os professores que vão paralisar para entregar o aviso às famílias para que eles também se organizem com os seus filhos nesse período de greve”, acrescentou. 

Para o coordenador do sindicato, todos os prazos para aguardar uma proposta do governo do Estado se esgotaram. “Nós estamos fazendo um grande esforço para não entrar no debate político nessa greve. Porque essa greve tem uma única camiseta, que é a camiseta da educação. Para isso nós gostaríamos que se envolvesse toda a sociedade. É unir Santa Catarina para dar um presente a esse Estado que é uma educação melhor, para os mais de 500 mil estudantes que estão na nossa rede serem contemplados com algo melhor do que está hoje, para que os trabalhadores se sintam valorizados. Nós queremos juntar as forças para que isso se resolva logo. Nós não gostaríamos de estar em greve. É a última alternativa. Depois de tanto tempo, de tentativas de negociação, esgotaram-se todas as possibilidades”, reiterou. 

A última greve dos professores de Santa Catarina aconteceu em 2015. “São nove anos que a gente não tem greve no Estado. Essa é uma postura, desde que entramos na coordenação do sindicato, de evitar a paralisação e negociar, avançar pela negociação. Infelizmente, a gente queria dizer para a sociedade que é, sim, possível conquistar sem greve. Mas o governo está provando mais uma vez, que não vêm conquistas sem luta”, finalizou. 

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