Ressocialização

Reinserção em foco: Case de Criciúma promove cursos profissionalizantes e oficinas para adolescentes

A unidade conta com 62 adolescentes de todas as regiões de Santa Catarina

Por Rafaela Custódio

Em 11/11/2024 às 09:53
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Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus

O Centro de Atendimento Socioeducativo Regional de Criciúma (Case), está vinculado à Secretaria de Administração Prisional e Socioeducativa (SAP) e ao Departamento de Administração Socioeducativa (DEASE). A unidade atende 62 adolescentes de toda a região Sul de Santa Catarina e em alguns casos, de outras regionais e tem no seu quadro funcional, mais de 100 profissionais que desenvolvem práticas pedagógicas voltadas ao trabalho socioeducativo. 

Atualmente, Paulo Adames é o superintendente regional e diretor do Centro de Atendimento Socioeducativo - Case Criciúma. A unidade iniciou seu funcionamento em 2018, recebendo seu primeiro adolescente no dia 22 de novembro do mesmo ano. A reportagem do Portal Engeplus visitou o local e, conta a partir de agora, a realidade dos socioeducandos, em cumprimento de medida socioeducativa de internação, compreendendo a faixa etária entre 12 aos 18 anos, podendo, excepcionalmente, permanecer por até três anos ou até completar 21 anos, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase).

Unidade do Case em Criciúma. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)
Lençóis produzidos pelos internos. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Com capacidade máxima de 62 vagas e todas ocupadas, o local tem procurado revitalizar as oficinas de costura, informática, marcenaria, panificação, marcenaria e horta, oferecendo alternativas de formação e qualificação profissional para os internos. “As ações, destacam-se por meio de parcerias com entidades como o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC-Araranguá), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e empresas. Uma delas é a Ufo Way Jeans, que tem disponibilizado insumos e graças a essa parceria, na oficina de costura os adolescentes começaram a produzir lençóis e fronhas para atender as três unidades da regional Sul do Estado. Além disso, uma entidade religiosa e uma padaria de Criciúma colaboram com insumos para a oficina de panificação, garantindo que os adolescentes e jovens, possam aprender na prática a produção de pães e outros produtos de confeitaria”, revela o gestor. 

Outro aspecto importante para a rotina dos adolescentes e jovens é a horticultura. “Em parceria com a Epagri, a unidade tem promovido cursos e o cultivo de hortaliças, cuja produção é direcionada tanto para a alimentação dos internos quanto para a distribuição em abrigos e asilos da comunidade. Há ainda kits de hortaliças que são preparados e entregues às famílias dos adolescentes e jovens durante as visitas, fortalecendo os laços familiares”, destaca Adames. 

Pés de alface cultivados no Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Além das oficinas pedagógicas, o esporte é uma ferramenta de reintegração social. O projeto Show de Bola oferta uma escolinha de futebol dentro do Case, que acontece duas vezes por semana, com instrutores capacitados que ensinam técnicas de futebol e promovem a socialização. “Atualmente, o projeto atende cerca de 30 adolescentes semanalmente, permitindo que os internos experimentem a disciplina e o trabalho em equipe, elementos fundamentais na formação pessoal”, observa o gestor. 

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O coordenador do projeto Show de Bola, Juarez de Jesus, explica a parceria e ressalta a importância do esporte. “É uma parceria com a igreja Abba Pai e temos voluntários que se revezam para atendermos os adolescentes. No local, nós sempre fizemos atividades relacionadas também com a bíblia. Sempre levamos uma palavra de esperança e conversamos bastante ao longo das atividades. Não estamos ali para julgarmos ninguém e, sim, para a prática de esportes”, comenta. 

Quadra utilizada para a prática de esportes no Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Biblioteca

A unidade conta com uma biblioteca, que recebe doações de livros de instituições como escolas da rede pública estadual e municipal e da Unesc, que também desenvolve o Projeto de Biblioterapia, onde os adolescentes e jovens têm acesso a livros e discutem temas que estimulam o autoconhecimento e a reflexão sobre o futuro. 

Biblioteca utilizada pelos internos para a prática de leitura. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Qualificar para o futuro

O principal objetivo das ações implementadas na unidade é que os adolescentes não permaneçam ociosos, mas sim aproveitem o tempo de internação para desenvolver habilidades que facilitem sua inserção no mercado de trabalho. “A maioria dos internos precisa se preparar para o ambiente profissional e, por isso, a unidade busca fornecer certificações que agreguem valor ao currículo deles. Entendemos que a posse de um certificado formal, que ateste a participação em cursos profissionalizantes, representa uma grande vantagem na hora de buscar um emprego”, afirma o gestor. 

Equipamento de marcenaria utilizado no Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

O gestor do Case conta que a unidade participou de feiras de empregabilidade, organizadas pela entidade religiosa Abba Pai e pela Satc, eventos que ajudaram os internos a compreender melhor o mercado de trabalho. “Com o acompanhamento da equipe técnica, eles tiveram a oportunidade de simular entrevistas e entender o que os empregadores esperam de candidatos”, detalha. 

Marcos*, de 18 anos, está há nove meses na unidade. Morador de Araranguá, ele conta que gosta muito de marcenaria. “Participei da feira de empregabilidade e gostei bastante, meu tio é marceneiro e quando eu saí daqui poderia trabalhar com ele”, comenta sobre a oportunidade de aprender uma profissão. 

Paulo Adames é o superintendente regional e diretor do Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Pós-cumprimento de medida

Um aspecto inovador no Departamento de Administração Socioeducativa (DEASE) e que o Case está desenvolvendo o projeto-piloto, é o Programa de Acompanhamento Pós-cumprimento de Medida (Propas), que tem uma equipe técnica, que faz o acompanhamento aos adolescentes/jovens, até um ano após a extinção da medida. “Esse suporte é fundamental para garantir que o processo de reintegração na sociedade ocorra de maneira mais estável, evitando que os jovens se sintam desamparados após o período de cumprimento de medida", frisa o gestor.

Outro aspecto trabalhado pela equipe técnica, é o senso de responsabilidade e pertencimento. “Os adolescentes e jovens são incentivados a cuidar dos próprios materiais e uniformes, o que ajuda a desenvolver autonomia. No setor de costura, por exemplo, cada jovem é responsável pela manutenção de seu uniforme, enquanto a equipe promove atividades para que eles reformem seus próprios pertences. Além disso, a unidade distribui itens de higiene pessoal, tornando cada adolescente responsável por seu próprio kit, promovendo assim a responsabilidade individual”, afirma o gestor. 

Sala de costura dentro do Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Segurança 

As atividades de formação e o cronograma extenso têm mostrado um impacto positivo no comportamento dos internos. De acordo com Adames, houve uma significativa redução no número de Relatórios de Transgressão Disciplinar. “Tivemos uma diminuição de transgressões disciplinares, isso significa dizer que a ocupação dos adolescentes e jovens com atividades produtivas e a expectativa de progressão dentro da unidade, baseada em mérito, contribuem para a melhora da convivência e do respeito às regras”, garante. “Hoje, cerca de 95% deles demonstram interesse ativo nos cursos e oficinas oferecidos, uma mudança significativa em relação ao período anterior, quando a ociosidade gerava conflitos internos”, acrescenta. 

Pátio do Case. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Desafios 

A unidade tem contado com apoio da SAP e do Dease, para enfrentar desafios logísticos e administrativos para manter as atividades e expandir suas parcerias, o que mantêm a direção otimista e buscando novos termos de cooperação e parcerias. “Estamos trabalhando em um projeto em parceria com o Senai, Ufo Way, Dease e Ministério Público do Trabalho, objetivando implantar o programa jovem aprendiz no Case, o que oferecerá oportunidade de estudo e trabalho remunerado. Essa iniciativa permitirá que os adolescentes e jovens, iniciem suas carreiras profissionais dentro do ambiente de internação”, reitera.

Este espaço poderá abrigar uma empresa para implantação do programa jovem aprendiz. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

O gestor também ressalta que o suporte da rede municipal para tratamentos de saúde, como atendimento odontológico e médico, tem sido essencial para o bem-estar dos adolescentes e jovens. “As ações de capacitação profissional e os projetos de ressocialização, têm transformado a realidade dos adolescentes ali atendidos. Com a ampliação das parcerias e a oferta de cursos certificados, a unidade proporciona uma chance de mudança de vida para esses jovens, preparando-os para um futuro com mais oportunidades e uma maior integração à sociedade”, pontua o gestor. 

*O nome utilizado do adolescente na reportagem é fictício para preservar a identidade dele.

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