Por Patrick Stüpp e Samuel Borges
Em 15/11/2023 às 18:09“O jiu-jítsu não é só uma luta, mas um estilo de vida”. Essa é a visão do José Gonzalez Gomes, de apenas 10 anos. Subir as escadas da academia, cumprimentar os professores e colegas, vestir o kimono, garantir que o tatame esteja brilhando de limpo e só então começar os treinos. Essa é uma rotina bastante familiar não só ao garoto venezuelano que se encontrou no jiu-jítsu, mas a todos os alunos do Projeto Amigos da Esperança (AME), que aprendem, por meio do esporte, valores como disciplina e respeito.
O projeto social tem sua sede no bairro Cidade Mineira Nova, em Criciúma. À frente dele está o professor e fundador da iniciativa, Diego Luiz Caetano, que tem 36 anos e é morador do bairro Jardim Montevidéu. Foi na comunidade, inclusive, que o projeto teve início em 2020, em uma sala de 49 metros quadrados. “O nosso maior propósito é ampliar a visão de mundo das crianças”, definiu Caetano.
Conforme o professor, o projeto solidário foi criado a partir de uma conversa entre um grupo de amigos. “Todos nós praticávamos jiu-jítsu e entramos em consenso com um objetivo em mente: ofertar o esporte para a comunidade. Então é por isso que, ao iniciarmos as atividades, decidimos que se chamaria Amigos da Esperança”, destacou o fundador.
Hoje com uma estrutura maior, a iniciativa conta com um espaço de 180 metros quadrados. O Amigos da Esperança, atende, segundo o professor, a 39 alunos, das localidades de Santa Luzia, Mineira, São Sebastião, São Defende e Vila Esperança. Eles são divididos em três categorias: mirim, infantil e adolescente. Do total, 15 são atletas de rendimento que participam regularmente de competições.
O jovem José conta que tinha o costume de brincar na rua quando ouviu falar do projeto e se interessou. “Eu era menor e não entendia muito sobre, achei legal por causa da luta, mas agora sei que é muito mais que isso”, ressaltou o garoto, que valoriza a oportunidade e tem ambições para o futuro. “Por causa do jiu-jítsu não fico mais pela rua, o que não era seguro, principalmente por causa dos carros circulando. Hoje participo dos campeonatos, ganho visibilidade e treino para atingir meus objetivos, que são chegar na faixa preta e ser um dos melhores do mundo”, revelou José.
(Foto: Patrick Stüpp / Portal Engeplus)
O projeto oferece aulas gratuitas de segunda às sextas-feiras, às 18h30, e nos sábados às 10 horas. Para cumprir uma agenda cheia e fazer a iniciativa dar certo, 15 instrutores de jiu-jítsu se dedicam a ensinar as crianças, ajudando uns aos outros. “Na maioria dos dias buscamos os alunos bairro por bairro para reunir toda a criançada”, explicou Caetano. A equipe multidisciplinar do AME tem também profissionais voluntários da área de administração, pedagogia e marketing, além de contar com a ajuda dos pais de alunos.
Giliardi Martins é um desses instrutores. Ele conta que começou a praticar o esporte há cerca de 10 anos, na mesma época em que o primo Diego Caetano iniciou. No entanto, após duas lesões, acabou se afastando do tatame. "Um dia comecei a ver as redes sociais do Diego, que postava sobre jiu-jítsu. Ele me contou sobre o projeto e falou para trazer meu filho Henrique para participar", lembrou o professor.
No início somente acompanhando o garoto, Martins foi aos poucos convencido a voltar a praticar. Atualmente, segundo o pai, Henrique participa de competições e está treinando constantemente há dois anos. "Felizmente pude trazê-lo para o esporte, e ele gostou. Hoje tenho duas famílias, como diria minha esposa, pois se não estou em casa estou aqui na academia, ajudando o Diego", brincou Martins.
Esporte: um meio para ajudar o próximo
Diego Caetano contou que a admiração pelo jiu-jítsu foi o que lhe motivou a dar início ao Amigos da Esperança. Antes de virar professor, ele também frequentou outros projetos sociais, sendo o primeiro deles voltado para o futebol. Porém, ao conhecer o kimono, o tatame e a faixa durante a adolescência, viu na modalidade um meio para ajudar o próximo.
O professor lembrou que, quando era mais novo, não teve muitas oportunidades. “Sou filho de pais separados e nessa época tudo era difícil. Porém, eu via nos projetos diversas chances que não teríamos caso eu não tivesse acesso ao esporte na minha vida. Então, depois de crescer e me desenvolver também em outras áreas, pensei em retribuir para a comunidade aquilo que me salvou”, afirmou Caetano.
(Foto: Samuel Borges / Portal Engeplus)
Essa experiência na juventude é um dos pilares da criação do projeto social. Na visão do professor, a educação está fortemente ligada ao letramento, mas vai muito além disso. “Qual criança pode fazer intercâmbio, qual pode ir para uma competição, qual deve se levar a uma exposição de arte e qual que a escola leva para uma feira do livro? São poucas escolas que têm estrutura para isso”, questionou o fundador do AME.
Para ele, muitos dos jovens do projeto têm no esporte a chance de ter essas vivências e de se formarem cidadãos. “Por meio do jiu-jítsu a gente encontra esse espaço. Eles podem viajar para outros países para competir, por exemplo, e quem sabe no futuro trabalhar tanto como atletas quanto professores”, disse Caetano.
Parcerias e Desafios
O fundador do projeto explicou ainda que o apoio à iniciativa pela comunidade, empresas e instituições é fundamental. “A gente não tem patrocínio financeiro, mas sim muita troca de serviço, que é uma forma de nos mantermos. Um exemplo são profissionais como fisioterapeutas e psicólogos que atendem as crianças e que têm um papel importante para que elas sigam conosco”, destacou o professor.
Ele também citou alguns dos desafios de manter um projeto que com tantas crianças. No mesmo local, Caetano também dá aulas pagas para adultos, mas o negócio ajuda a financiar apenas parte dos gastos do Amigos da Esperança. “O mais desafiador é manter a estrutura em si. A gente paga aluguel e tem as contas de água e energia para pagar. Além disso, também tem as contas dos alunos que estão treinando no rendimento, pois inscrições, viagens e hospedagens são caras”, contou.
Três crianças do projeto competirão, em dezembro, no Circuito Europeu Kids de jiu-jítsu, na Irlanda. “A gente está fechando a viagem para lá e ainda não encontrou os subsídios necessários para ir, mas já temos alunos inscritos. É um passo de muita coragem para acreditar que vai dar certo”, observou o profissional. Maria Luiza, Luis Raupp e Valentina Raupp são os alunos que devem disputar o torneio na Europa no início do próximo mês. “Para essa viagem ainda estamos abertos para patrocínios e parcerias de qualquer natureza”, lembrou.
Futuro do Projeto
O professor falou ainda do que tem em mente para o futuro do projeto e como espera que ele tenha caráter duradouro na comunidade. “Acreditamos que podemos abranger mais áreas, mas queríamos, principalmente, garantir um futuro para essas crianças, para que elas possam, daqui alguns anos, se doar também para a sociedade e receber o que elas recebem aqui, assim como aconteceu comigo um dia”, afirmou.
Caetano tem a intenção de expandir a iniciativa com mais oficinas, mas para isso, explicou, seria necessário uma estrutura maior. “A gente gostaria, por exemplo, de oferecer aulas de reforço escolar e xadrez. Até já fizemos algumas tentativas de forma transitória, mas não regularmente. O ideal seria ter reforço em um dia da semana, xadrez em outro, e o jiu-jítsu todos os dias. Com mais salas e estrutura conseguiríamos ter isso mais agendado e organizado, e a partir daí um leque maior de opções”, analisou o fundador do projeto.
(Foto: Samuel Borges / Portal Engeplus)
Para entrar em contato para participar do projeto, seja como aluno ou apoiador, é possível mandar uma mensagem no Instagram @ame.criciuma. O mesmo vale para aqueles que desejam ser voluntários, que precisam passar por um curso interno para se alinhar aos métodos e objetivos do Amigos da Esperança e aprender técnicas de primeiros socorros.
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