Por Rafaela Custódio -
Em 29/02/2024 às 10:10Foram mais de 70 anos de espera, oito deles com máquinas trabalhando pela construção da BR-285, rodovia federal que liga os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O sonho da conclusão do trecho catarinense deve ser concluído até o final de março, movimentando a economia do Sul Catarinense.
Há três anos, o Portal Engeplus visitou a obra pela primeira vez. O roteiro de nossos jornalistas pelo local, na época, teve como resultado a reportagem "Serra da Rocinha: uma rodovia bioceânica que trará desenvolvimento e economia ao sul catarinense". Já em 2023, a equipe novamente esteve no local para mostrar as mudanças realizadas, com a matéria "Da frustração à esperança: Serra da Rocinha e o sonho da conclusão". Em 21 de fevereiro deste ano, a reportagem foi ao trecho mais uma vez, com o objetivo de exibir o final da obra e como ela está antes do prazo final da entrega, previsto para março.
A reportagem do Portal Engeplus traz uma entrevista exclusiva com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) sobre os trabalhos realizados na BR-285.
Entenda o que é BR-285
A BR-285 tem 744,3 quilômetros de extensão entre Araranguá e São Borja (RS), na fronteira com a Argentina, onde se conecta com a Ruta Nacional 14 por meio da Ponte Internacional sobre o Rio Uruguai. A rodovia também desempenha papel estratégico dentro do Mercosul e destaca-se por seu forte potencial turístico.
A BR-285 se tornará uma rodovia bioceânica, pois ligará Brasil, Argentina e o litoral do Chile, banhado pelo Oceano Pacífico.
Foto: Divulgação Dnit
Trecho catarinense
O trecho catarinense conta com 22 quilômetros, sendo que faltam apenas 580 metros para a conclusão. O trecho conta com quatro viadutos, duas pontes e o Contorno de Timbé do Sul em operação. No km 39, na localidade da Serra da Rocinha, o posto que servirá de base para a Polícia Rodoviária Federal (PRF). "Infelizmente ainda não há previsão para o início do funcionamento da Unidade Operacional da PRF em Timbé do Sul", informou a PRF por meio de nota.
Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus
Em agosto de 2023, após uma vistoria na Serra da Rocinha por meio da Comissão sobre Obras Paralisadas e Inacabadas da Câmara dos Deputados, o DNIT anunciou que entregaria o trecho catarinense em março deste ano.
“Continuamos com a nossa previsão de final de março para a conclusão dos trabalhos. Ainda estamos terminando alguns trechos descontínuos de pavimento onde já ficaram prontas as contenções. E esse trecho final, o ponto 678 de contenções, ainda vamos concluir possivelmente até 10 de março. Após a contenção, iniciamos o pavimento desse trecho e concluiremos até o final do mês”, garantiu Névio Carvalho, analista de infraestrutura de Transportes do DNIT, em entrevista exclusiva ao Portal Engeplus.
A última contenção a ser feita é tratada como a mais critica e difícil para o DNIT. “Essa parte sempre foi um ponto crítico da obra. A nossa avaliação é que as obras estão andando bem no último mês. A chuva também deu uma trégua. Se continuar assim, a nossa expectativa é que consiga finalizar no prazo. Pode ser que algum serviço complementar, algum acabamento ainda não seja concluído. Mas do ponto de vista do serviço de pavimento, a gente consiga até o final de março”, comentou.
Trabalhos na contenção
Conforme Carvalho, existem perfurações pendentes ainda na contenção. “Estamos fazendo esta contenção e temos algumas perfurações a serem feitas para colocar os tirantes e terminar as telas e, claro, para terminar a contenção. Outros cinco pontos já estão concluídos. Agora, com isso, a gente conseguiu largura de plataforma suficiente para poder fazer a base para poder depois pavimentar esses trechos. Basicamente o que falta é isso, é terminar os trechos de pavimento de concreto, onde as contenções já foram concluídas, e depois nesse último trecho aqui também concluir. Está bem encaminhada, a obra finalmente está chegando ao final”, detalhou.
Vídeo: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus
Faltam apenas 980 metros de pavimento para serem finalizados. “A gente não vai ter dificuldade nenhuma de concluir os pavimentos. O pavimento não nos preocupa, era mais essa parte de contenção. E ter largura suficiente, como foi escavado para ter essa largura suficiente para fazer o pavimento, agora realmente o grosso da obra foi feito”, frisou.
Obra complexa
Segundo o analista de infraestrutura de Transportes do DNIT, a BR-285 é uma obra complexa e a finalização traz alívio e orgulho. “Essa obra, para nós, está sendo fantástica em todos os aspectos. Desde a parte lá do contorno, em um pavimento flexível, duas pontes, quatro viadutos em curva, viadutos com uma certa complexidade. E o pavimento concreto aqui também, e as contenções. Do ponto de vista de engenharia, tem bastante intervenção e além da região ser belíssima”, comentou.
Vídeo: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus
Existe uma empresa contratada pelo Dnit para a manutenção da rodovia. “O contrato vai continuar depois que concluir a obra. A gente já previu telas para ir gradativamente fazendo em outros pontos também. Então, em outros pontos a gente vai estar sempre fazendo [manutenção]. Vai ser uma intervenção, assim, em toda a serra. Todas as serras possuem esses problemas das encostas. A gente vai monitorar sempre, e fazer as intervenções conforme a necessidade”, afirmou.
Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus
Esperança aos motoristas
Com a espera chegando ao fim, os motoristas que trafegam pela rodovia federal estão ansiosos pela conclusão do trecho catarinense. “Passo pelo menos uma vez por mês pela BR-285 e percebo que a obra realmente está avançando e evoluindo aos poucos. O lado catarinense é muito melhor que o gaúcho. Está mais evoluído”, comentou Wagner Saraiva, morador de São José dos Ausentes (RS). Veja abaixo o trecho catarinense:
Prefeito de Timbé do Sul comemora realização das obras
O prefeito de Timbé do Sul, Roberto Biava, visita a obra semanalmente e reforçou a importância da rodovia federal. “Agora realmente tem uma frente de trabalho ampla e acredito que será inaugurada no próximo mês. Temos que agradecer aos deputados federais da bancada catarinense, pois depois do ato em Timbé do Sul, conseguimos colocar mais máquinas e as coisas andaram mais rápido e os trabalhos estão acontecendo”, observou.
Biava destaca que o fluxo de pessoas que passarão pela cidade deve aumentar significativamente nos próximos meses. “A BR-285 é um divisor de águas para o município. Nós éramos fim de rota e, hoje, não somo mais. Há um investimento alto no turismo. Muitos moradores estão investindo em pousadas”, garantiu.
Presidente da Acic acompanha obras e fala sobre a expectativa da conclusão
A Associação Empresarial de Criciúma (Acic) sempre esteve envolvida com o desenvolvimento da infraestrutura do Sul de Santa Catarina. A entidade se preocupa com obras consideradas providenciais para alavancar o escoamento da produção e acelerar o crescimento do turismo na região Sul do Estado. Entre as obras, está a BR-285. “A BR-285 desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico do Sul do país. Com diversos pontos estratégicos, esta rodovia trará desenvolvimento para todo Estado, facilitando a logística das pessoas que necessitam percorrer o trajeto entre Santa Catarina e o estado vizinho, além de criar um novo corredor logístico de escoamento da produção agrícola", destaca o presidente da Acic, Valcir José Zanette.
Para o presidente da Acic, atualmente, muitos caminhões são obrigados a contornar pela BR-282 para efetuarem a entrega de produtos e isso pode mudar. "Uma vez concluída, a BR-285 reduzirá essa rota, por exemplo. Além disso, favorecerá a movimentação atual do Porto de Imbituba, o porto mais próximo da Serra da Rocinha é o de Imbituba. Após a conclusão da obra, novas perspectivas de logística, transportes, turismo e desenvolvimento econômico são prospectadas”, frisa.
Lado gaúcho
Com a aprovação do projeto geométrico do Lote 1 das obras de implantação e pavimentação da BR-285/RS/SC, localizado em São José dos Ausentes (RS), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) autorizou o início das atividades de terraplenagem nos 8,3 quilômetros do segmento gaúcho da rodovia. Foi favorável também a análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão licenciador do empreendimento, quanto às questões ambientais apresentadas. O trajeto vai do KM 45,70 ao KM 54,05 e será conectado ao Lote 2, em Timbé do Sul, contribuindo para o desenvolvimento regional.
Foto: Gestão Ambiental BR-285/RS/SC/Divulgação
Trata-se de uma rodovia de pista simples, com duas faixas de rolamento de 3,5 metros cada e acostamentos de dois metros de largura. O pavimento será em concreto e as velocidades de projeto variam entre 80 km/h, onde o relevo é ondulado; e 60 km/h, onde o terreno é montanhoso. Estão contempladas ainda duas interseções em acessos ao município de São José dos Ausentes e uma interseção junto à ERS-020. O Consórcio Construtor trabalha atualmente na movimentação de solos e nos levantamentos topográficos.
Em relação às Obras de Arte Especiais (OAEs), foram previstas três pontes. A maior delas, que atravessará o vale do rio das Antas ao longo de 400 metros. A instalação do canteiro de obras para sua execução, por sua vez, já está em andamento em uma área de 800 m². Uma ponte de 46 metros localizada no KM 51 foi concluída e outra, de 66 metros, no KM 49, já está sendo trabalhada. A drenagem contará com um total de 20 bueiros, sendo que dois estão em obras. Três galerias com seção quadrada de dois metros, além das duas pontes menores citadas, foram projetadas com função para passagem de fauna.
Wagner Saraiva, morador de São José dos Ausentes, comentou sobre o trecho gaúcho. “O que a gente vê é que tem uma ponte concluída e a outra está sendo feita ainda. Mas, tudo em estrada de chão ainda, sendo oito quilômetros de chão”, ressaltou.
O trecho gaúcho está orçado em R$ 72 milhões e o prazo de execução é de cerca de dois anos e meio.
Foto: Gestão Ambiental BR-285/RS/SC/Divulgação
Meio Ambiente
Localizado nos Campos de Cima da Serra, em área sensível do bioma Mata Atlântica, o segmento gaúcho conta com uma série de recomendações do Ibama visando à prevenção e mitigação dos impactos. Uma equipe de supervisão ambiental contratada pelo Dnit acompanha o dia a dia das obras para fiscalizar e orientar os envolvidos quanto às obrigações estabelecidas na licença ambiental, bem como favorecer ações que tornem o processo de construção mais sustentável. Ocorre ainda a execução de uma série de Programas Ambientais que incluem cuidados com a fauna, a flora, o solo, os recursos hídricos e as populações lindeiras.
Atualmente, a rodovia está fechada para o trânsito em virtude das obras, mas o tráfego é liberado em determinados horários, no sistema de comboio. Confira abaixo:
De segunda a sexta-feira
Subida: 7 horas e 17h30
Descida: 7h30 e 18 horas
Sábados e domingos
Interditada
Rotas alternativas:
• BR-116, de Vacaria/RS a Lages/SC, seguindo pela SC-114 e SC-390 até a BR-101 em Içara/SC ou Sombrio/SC.
• RS-110, que liga os municípios gaúchos de Bom Jesus e Terra de Areia (na BR-101) pela Rota do Sol;
• RS-020 em direção a Cambará do Sul, cujo acesso pela BR-285 fica a cerca de quatro quilômetros da divisa entre RS e SC, devendo o motorista seguir pela Serra do Faxinal (RS-427 e SC-290) até Praia Grande/SC.
Confira abaixo as fotos do trecho catarinense:
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