Por Denis Luciano - denis.luciano@engeplus.com.br
Em 18/11/2017 às 20:55Ela sobreviveu às torturas da ditadura militar entre os anos 60 e 70. A professora Derlei Catarina de Luca, 71 anos, faleceu neste sábado, aos 71 anos, em São Paulo, vítima de câncer de pulmão. Ela vinha se tratando na capital paulista. O corpo deve chegar neste domingo em Içara para as despedidas.
Derlei estudou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade do Oriente, em Cuba. Fundadora do Comitê Catarinense Pró Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos, contou inúmeras vezes as torturas das quais foi vítima no período de cárcere no auge da repressão política. Em setembro de 2014 ela concedeu importante depoimento na Comissão Nacional da Verdade (CNV) conforme descrição abaixo:
Presa em 23 de novembro de 1969, aos 22 anos, a estudante Derlei Catarina de Luca, militante da Ação Popular, foi presa por policiais militares, confundida com a advogada Maria Aparecida Costa, da ALN, grupo coordenado por Carlos Marighella, assassinado 19 dias antes. Levada para a Oban, que depois se tornaria o Doi-Codi, lá ela afirma ter sido recebida pela equipe do Capitão Homero Cézar Machado, obrigada a ficar nua e foi barbaramente torturada no pau-de-arara. O depoimento de Derlei foi tomado em público, em parceria com a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, em sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo. Em seguida, Derlei e outros presos políticos torturados pela equipe de Homero acompanharam o depoimento do ex-capitão, tomado no prédio em que funciona a sede da CNV em São Paulo.
Natural de Içara, Derlei ocupava a cadeira número 1 da Academia Criciumense de Letras e trabalhou durante 25 anos na Apae de Içara. Em 2001 recebeu da Assembleia Legislativa (Alesc) a medalha Antonieta de Barros. Foi professora de diversas escolas no Sul do Estado e ocupou a secretaria do Comitato Veneto de Santa Catarina. Publicou os livros “Os Jasmins do Jardim de Paolo”, “À sombra da Figueira”, “No corpo e na alma” e “Içara – História e Geografia”.
Um importante depoimento sobre Derlei de Luca é assinado pelo advogado Marcílio Krieger, que militou na Ação Popular e conheceu a agora saudosa professora içarense no período do regime militar:
"...Durante a ditatura militar, Derlei palmilhou experiências que poucas pessoas tiveram ocasião de vivenciar. Estudou, preparou comiciós, organizou manifestações, amou, lutou, foi presa, torturada, sobreviveu física, moral e politicamente. Exilou-se em Cuba e sentiu o imenso carinho dos cubanos pelo Che, criou seu filho, voltou ao Brasil e aí está, de corpo inteiro, por dentro e por fora...".
Aqui confira um pouco da trajetória de Derlei resumida por ela em uma entrevista à Rádio Alesc.
Leia mais sobre:
Circuito PET.
Obituário
Obituário