Crítica

Kubo e as Cordas Mágicas discute perda, morte e luto

Por Redação Engeplus

Em 06/02/2017 às 09:15
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Foto: Divulgação

ESPECIAL / Willian Bongiolo

O medo da morte é algo inerente ao ser humano, sobretudo por não falarmos sobre isso com nossas crianças, adolescentes e adultos, criando assim um tabu intransponível, onde o luto acaba transformando-se em martírio e até mesmo evoluindo para estágios depressivos e suicidas. Então, eis que surge nos cinemas Kubo e as Cordas Mágicas, uma animação stop-motion que vai encantar crianças e adultos, além de ser um excelente início para conversar sobre perda, morte e luto.

Acompanhamos Kubo, um jovem menino de uma vila japonesa que vive tranquilamente com a mãe. Porém, certo dia, espíritos malignos o perseguem fazendo com que ele, para sobreviver, precise ir em busca de uma antiga armadura mágica de seu falecido pai (um guerreiro samurai). É interessante presenciarmos Kubo vivendo na vila enquanto toca um instrumento e conta histórias aventureiras para entreter o público, mas essas histórias não tem finais. Assim traçamos um paralelo sobre o medo que temos do fim, pois sabemos onde toda vida acaba. Logo, ao sair em sua jornada de autodescoberta a correlação traçada entre fantasia e realidade invade a tela e toca nosso coração.

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A jornada se inicia de maneira bela, a cinematografia é encantadora e os cenários são de tirar o fôlego. O cuidado em transferir paisagens reais para a animação é muito bem realizada, conseguimos sentir o peso e a física de cada objeto em cena. Além disso, a iluminação está fantástica, principalmente para diferenciar lugares seguros dos perigosos. Perceba as cores quentes da vila ao dia se esvaindo e transformando-se em cores frias, quase fúnebres, ao anoitecer, dando a sensação de perigo constante e de que algo de errado vai acontecer a qualquer momento.

Outro ponto a se destacar são os personagens. O trio principal composto por Kubo, Macaca e Besouro tem uma química excelente, muito por conta do trabalho de vozes e da construção redonda baseada num princípio básico de jornada do herói. Kubo é o personagem que vive uma vida normal até que algo desestabiliza e surge o chamado para participar de algo maior. Macaca é a mentora que guia nosso herói pela trama. E o Besouro é o alívio cômico para frear a frequente seriedade do longa.

Obviamente ao longo de uma hora e quarenta e dois minutos alguns tropeços acontecem. O filme tenta fazer um suspense ao revelar algo que já está extremamente enraizado na cabeça do espectador fã de cultura pop (leia-se aqui Star Wars), e por tratar-se de uma cultura japonesa, algo distante da nossa, o roteiro acaba por tentar se explicar demais fazendo que uma cena de luta seja interrompida mais de uma vez para uma personagem explicar acontecimentos para outra, mesmo essa já sabendo da história. Isso fica claro acontecer apenas para situar crianças, mas, ainda assim, deixa pausas desnecessárias animação.

Ainda com os tropeços Kubo e as Cordas Mágicas não perde força em sua mensagem principal. Ao escolher retratar seu clímax em um cemitério, o longa deixa bastante claro sua percepção sobre a vida e morte estarem muito acima do que normalmente entendemos, e que, sobretudo, a memória é a mais valiosa fonte de vida onde vivos e mortos se encontram para uma ode a existência e compaixão com os seres vivos e natureza.

Por fim, Kubo e as Cordas Mágicas é de uma forte beleza onírica, onde a poesia encontra-se com a realidade do luto e morte para gerar um dos mais belos filmes do ano passado, e uma excelente introdução a um tema que merece ser discutido entre as pessoas, para assim aproveitarmos melhor a infinda magnitude da vida.

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