Por Jessica Rosso Crepaldi - jessica.rosso@engeplus.com.br
Em 14/11/2024 às 17:00Outubro do ano passado ficou marcado para a técnica em enfermagem Gladis Regina de Souza. Há 25 anos ela possui uma propriedade localizada no bairro Operária Nova, em Criciúma. Naquele mês, parte do terreno onde ela tem uma residência foi levado durante fortes chuvas. A casa continua lá, intacta, mas o barranco que se formou ao lado é o motivo de medo e insegurança para a família desde então.
Na propriedade, que fica próximo à Escola Municipal de Educação Básica Serafina Milioli Pescador, morava o filho dela, com a esposa e os dois netos. Ela contou que devido um problema de saúde do marido foi morar na praia, em Balneário Rincão, e logo depois a casa foi ocupada pelo filho. Hoje a residência está em estado de abandono.
“No dia 17 de outubro do ano passado, com a demanda de chuva que deu aqui em Santa Catarina, estávamos monitorando o terreno. De repente aquele estrondo de terra e o meu terreno começou a desmoronar. O meu filho chamou a Defesa Civil. Eles vieram e pediram medida de contenção urgente por parte da prefeitura. Nós procuramos o poder público, mas eles disseram que não, que era impossível, porque era uma propriedade particular e não tinha nenhuma obra pública aqui para que eles pudessem vir”, relembrou.
Para a reportagem, Gladis apresentou a escritura do imóvel e alegou ter o alvará de construção.
A moradora disse que por conta da Área de Preservação Permanente (APP), que tem próximo à casa, ela não tem autorização para mexer na parte do terreno que desmoronou.
“Não estamos proibidos de morar, mas ninguém se sente seguro de ficar aqui, apesar de que a casa aparentemente não oferece risco, mas o terreno não dá condição”, pontuou. Com a mudança de endereço, tudo ficou mais difícil para a família de Gladis. “Tivemos que alugar uma casa de imediato para eles [o filho, a nora e os netos]. Primeiro foram morar comigo no Rincão até que pudessem se ajeitar. Só que eles trabalham aqui, as crianças estudam aqui, o menino precisa de terapia, atendimento especial, então tinha que vir de lá até aqui. Agora estão morando na região do Rio Maina, um pouco mais longe. Aqui [na Operária Nova] para as crianças era uma benção, porque o Hospital Santa Catarina é aqui, a escola, e estamos tendo que pagar aluguel desde então, sem ajuda de ninguém”, afirmou.
Gladis disse ainda que como a residência não está sendo utilizada, para diminuir as despesas, cortou água e luz. Além disso, optou em não alugar a casa por segurança. “Algumas pessoas solicitaram, mas eu não vou alugar porque eu não acho seguro para mim, não acho seguro para ninguém. Ela está aqui parada, e é só prejuízo”, disse. Diante da situação, ela resolveu entrar com uma ação na justiça, e comentou sobre o seu maior desejo. Ela também deixou um recado à população. Confira o vídeo:
Vídeo: Estefany Bongiolo/Portal Engeplus
O coordenador da Defesa Civil de Criciúma, Tadeu Vassoler, explicou que na época o caso foi acompanhado pelo órgão.
“Nesse caso, outro agente acompanhou e até aconselhou que a família fosse morar em outro local. E o que é ofertado? Se não tem um parente que acolhe, a Defesa Civil prepara um documento e encaminha à Secretaria de Assistência Social para ter a possibilidade de alojar essa família”, explicou.
O coordenador ainda explicou que em casos como esse em que a Defesa Civil é acionada, é realizado um parecer sobre a eventualidade. “Ela ligou e disse o que tinha acontecido. Imediatamente a Defesa Civil fez a visita, e fez o parecer daquilo que foi verificado pontual e visualmente. Como foi um escorregamento, a Defesa Civil faz o laudo e encaminhou para a Secretaria de Infraestrutura para tomar conhecimento do que está acontecendo no momento”. Depois disso, segundo Tadeu, a Defesa Civil faz o acompanhamento que pode durar meses.
O secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana de Criciúma, Jori Ramos Pereira, relembrou como foi o processo após a pasta tomar conhecimento da situação.
“Recebemos essa cidadã aqui, e como servidor público sempre recebemos todas as pessoas que querem atendimento. Conversamos sobre o assunto, verificamos que era um caso de escorregamento de solo em um terreno particular, a princípio, e limítrofe [muito perto de], uma Área de Preservação Permanente (APP)”, pontuou.
Após receber o laudo de avaliação dos riscos, ele explicou, que a equipe técnica de engenharia fez uma visita no local para a análise técnica. “[A equipe] avaliou que se tratava de escorregamento de uma área de preservação permanente. Então nesse sentido nós fizemos a nossa parte de avaliar, de ir atrás do problema e de identificação do que aconteceu. O fato é que nós temos que ter muito cuidado ao intervir em uma área que é de terceiro ou uma área ambiental como é o caso, pois a gente tem que ter toda a responsabilidade também do bem público de estar intervindo nessas áreas”, afirmou.
O secretário ainda explanou sobre outros casos existentes no município. O assunto também foi pauta nessa semana na Câmara de Vereadores de Criciúma. Confira o que disse o secretário no vídeo:
Vídeo: Kauane Costa/Portal Engeplus
Na última segunda-feira, dia 11, foi aprovado por unanimidade no legislativo criciumense, um requerimento que trata de locais com grave erosão do solo no município, nos bairros Maria Céu e Operária Nova.
Em entrevista antes da votação, o presidente da Comissão de Obras, o vereador Marcio Daros da Luz (PSD), relembrou que já foram realizadas algumas ações nestes locais, juntamente com a Defesa Civil, e que é necessário retomar o assunto para verificar a situação de cada caso.
“Como estamos tendo informações desencontradas, fizemos o requerimento justamente para saber se essas casas já tem uma ordem de desocupação pela questão de risco. Não são todas seguindo a mesma regra. Cada uma ali tem um motivo, mas a questão é uma parte que está em risco”, afirmou.
O vereador disse ainda que já esteve no local, assim como o vereador Manoel Rozeng da Silva (PL), que acompanhou de perto os casos. “O processo é um pouco complicado, porque são áreas de risco. Pela legalidade não teria como o próprio município fazer porque está numa área particular. Tem também questões de licença de Ministério Público. Queremos saber se realmente as pessoas têm que desocupar, porque estão há mais de 50 anos no local. Queremos dar uma resposta concreta para eles”, pontuou Marcio.
O requerimento, que questiona a possibilidade do secretário Jori Ramos Pereira participar de visitas em localidades atingidas, é de autoria de Zairo José Casagrande, Marcio Daros da Luz, Obadias Benones da Silva, José Paulo Ferrarezi, Manoel Rozeng da Silva, Valmir Dagostim e Roseli Maria De Lucca Pizzolo. Após a aprovação, o documento seguiu para a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana de Criciúma.
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