Entre Lidas e Vindas

Harry Potter ajudou a transformar o hábito e o mercado de leitura no Brasil?

Neste mês comemoram-se os 20 anos da chegada da história do bruxo no Brasil

Por Amanda Ludwig - entrelidasevindas@engeplus.com.br

Em 24/04/2020 às 19:52
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Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Neste mês, Harry Potter completou 20 anos de chegada ao Brasil. Eu sei que essa postagem vai dividir opiniões, assim como o assunto fez ao longo de todos estes anos. Mas ainda assim, precisamos falar sobre o bruxo que, atualmente, é o mais famoso do mundo, e também como essa história transformou a forma com que algumas pessoas enxergam a leitura no Brasil.

Primeiro, uma história particular: eu estive entre os adolescentes que acompanharam saga. Li o primeiro livro quando ele chegou ao Brasil, e os seguintes assim que eram lançados, ano a ano. Na época, fiz minha avó ler para poder falar sobre isso comigo. Minha mãe comprou o livro de presente, e meu pai conversou comigo sobre o assunto já que é professor de Literatura. Há pouco tempo, minha irmã de 11 anos me ligou para perguntar se eu ainda gostava de Harry Potter, porque ela estava começando a ter acesso a esse universo. Então acho que não é exagero nenhum dizer que essa é uma história  que ultrapassou gerações.

"A partir desta experiência, deixei de classificar leituras como boas ou ruins"

Para escrever este texto, conversei justamente com meu pai, Melton Luiz Ludwig, que participou deste contexto tanto em casa, convivendo comigo, quanto em sala de aula, enquanto professor de Literatura para o Ensino Médio. Era visível que ele não estava confortável quando comecei a ler Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro livro da série. 

Ele ainda não deu o braço a torcer. Até hoje não leu os livros. "Mas o depoimento que posso dar, em primeiro lugar, e mais importante, é que a minha filha, que não gostava de ler, se tornou uma leitora voraz a partir de então. E eu, que era sempre um crítico, achando que alunos deveria ler livros clássicos da literatura brasileira, mudei meu conceito", afirma.

Para Ludwig, o que vale é começar com o hábito de leitura. "Não posso pedir em sala de aula que o aluno leia Harry Potter, mas entendi que o importante é eles darem início a este hábito", avalia o professor.

Para balancear os dois universos, ele decidiu exigir dos alunos do 1º ano do Ensino Médio leituras de crônicas. "Ainda que não sejam histórias profundas, servem exatamente como uma isca para conseguir o leitor. Tenho depoimento de alunos que a partir de um ou dois textos, passaram a ler outras obras do autor apresentado em sala", conta Ludwig.

E o que fazer quando o aluno prefere ler outras histórias, diferentes dos clássicos? "Talvez não seja o sonho de um professor de Literatura, mas para mim existem dois tipos de seres humanos: os que leem, e os que não leem. E não é apenas para quem sabe ler. O que dizia Mário Quintana? O verdadeiro analfabeto é o que sabe ler, mas não lê", finaliza o professor.

A história do menino-bruxo vendeu mais de 450 milhões de cópias no mundo

Bom, dito isto, vamos ao assunto que abordei no título desta matéria: como Harry Potter transformou o mercado? Para saber mais sobre isso, conversei com a editora Rocco, que publica os livros da série aqui no país.

Em abril de 2000, a editora Rocco colocava no mercado brasileiro as primeiras cópias de Harry Potter e a Pedra Filosofal, da autora britânica JK Rowling. O sucesso dos livros no exterior, lançados em 1997, anunciava uma revolução no mercado editorial, que iniciaria uma nova era para as publicações infanto-juvenis. Vinte anos depois, a trajetória do bruxo no Brasil coloca o país como o 7º maior mercado da saga, com mais de 5 milhões de cópias vendidas. Harry Potter é o terceiro livro mais vendido do mundo, traduzido para mais de 70 idiomas diferentes.

JK Rowling conta que foi rejeitada por diversas editoras, que diziam ser um livro muito longo para o público jovem. Os números provam o contrário: a primeira tiragem nos Estados Unidos, de aproximadamente 3 mil exemplares, esgotou-se em quatro dias. A Rocco, que em 2020 completa 45 anos, comprou os direitos de Harry Potter quando a história fazia sucesso apenas no Reino Unido e apostou no bruxo para incrementar o catálogo infanto-juvenil.

Com a publicação do segundo volume da série, na Inglaterra, o livro tornou-se um crossover e entrou no mercado de adultos também.“Quando conheci o agente Christopher Little perguntei se ele tinha alguma coisa juvenil, pois queria melhorar nosso catálogo. Ele me contou de Harry Potter, que estava indo bem na Inglaterra. Pedi para avaliarem e me disseram que era bom. Me bateu um instinto e resolvi telefonar para o agente, começamos a negociar e chegamos a um acordo. O livro estourou no exterior e corri com a tradução para lançar no Brasil”, lembra Paulo Rocco. “JK Rowling quebrou o paradigma de que jovem não lê e o mundo todo tem essa dívida com ela. Existe o antes e o depois de Harry Potter. Todos os dias nascem crianças e, mais cedo ou mais tarde, elas vão se deparar com a história mágica do bruxo e devorar os livros”, brinca.

Entre os desafios da publicação no Brasil, estava a tradução. Palavras que não existiam em Português foram inventadas pela tradutora Lia Wyler e o processo de traduzir os livros originou um glossário com 2.145 nomes de feitiços, personagens, lugares, objetos, títulos de livros, ingredientes de poções, entre outros termos que orientaram a tradução dos livros seguintes. “Para diminuir dúvidas, a Rocco manteve contato estreito com a autora, por intermédio de seus agentes, que auxiliavam com atenção e precisão, aprovando todo o material que, necessariamente, lhes era submetido. O desafio da tradução e adaptação de nomes foi, de maneira geral, criar formas de contextualização e aproximação cultural.  Era necessário criar códigos de acesso que, considerando a nossa cultura, permitissem ao leitor brasileiro uma melhor compreensão do universo mágico de JK Rowling, sempre preservando a sua cor original. O esporte ‘quadribol’, por exemplo, foi associado ao futebol, nosso esporte mais popular”, relembra a editora dos livros de Harry Potter na Rocco, Mônica Figueiredo.

Esse vocabulário em português foi base para legendar e dublar os filmes no Brasil, uma vez que o público já estava familiarizado com a linguagem dos livros. A adaptação cinematográfica da saga, que arrecadou uma bilheteria de mais de 9 bilhões de dólares, também contribuiu para o crescimento do número de leitores. A história continua a ser explorada pelo cinema e, em 2021, o terceiro filme da franquia “Animais Fantásticos e onde Habitam” será rodado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.

Desde o lançamento do primeiro livro, a Rocco fez diversas edições com valores variados para atingir todas as faixas. A primeira edição, inclusive, continua sendo vendida ao lado de versões ilustradas, capas duras e boxes especiais. Em novembro de 2019, os livros de Harry Potter passaram a figurar novamente na lista de mais vendidos no Brasil e EUA. “Acreditamos que os fãs que cresceram com Harry Potter estão agora passando sua paixão pela história para seus filhos, renovando a geração de leitores”, conta Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comercial da Rocco.

Harry Potter em números no Brasil e no mundo

· 450 milhões de livros vendidos em todo mundo

· Presente em mais de 200 países e traduzido para mais de 70 idiomas

· Brasil é o 7º mercado de livros de Harry Potter, com mais de 5 milhões de cópias vendidas

· A Rocco lançou no mercado nacional os sete livros principais, três complementares (“Animais Fantásticos e onde habitam”, “Quadribol através dos séculos” e “Os contos de Beedle, o Bardo”), o roteiro da peça “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, seis guias de referência dos filmes da franquia “Harry Potter” e  de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e “Animais fantásticos: os crimes de Grindelwald”, além de boxes especiais. A editora também já disponibilizou os quatro primeiros livros em versão ilustrada por Jim Kay, e “Animais fantásticos e onde habitam”, com ilustrações de Olivia Lomenech Gill.

· Um glossário com mais de 2 mil palavras foi feito pela Rocco para a tradução dos livros.

· No leilão em que a Scholastic adquiriu os direitos de publicação do primeiro volume da série, o preço final foi de 105 mil dólares. Foi o valor mais alto pago até então por um livro infantil. A primeira edição, de 2.500 exemplares em capa mole e 450, em capa dura, esgotou-se em 4 dias.

· Quando o Universal Orlando abriu seu próprio Mundo Mágico de Harry Potter em 2010, o número de visitantes no parque aumentou cerca de 30%

· A franquia "Harry Potter" como um todo é estimada em aproximadamente 25 bilhões de dólares

Então é isso aí. Tem alguma sugestão? Envie um e-mail para entrelidasevindas@engeplus.com.br. Te espero por lá. Até mais!

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