Por Jessica Rosso - jessica.rosso@engeplus.com.br
Em 02/07/2019 às 19:46O dia 2 de julho pode parecer comum para muitas pessoas. Mas, para aqueles que diariamente atuam em uma área onde a missão é na maioria das vezes salvar vidas, a data em que se comemora o Dia Nacional do Bombeiro serve também para relembrar inúmeras histórias vividas e compartilhadas por milhares de bombeiros no Brasil. A redação do Portal Engeplus conversou com profissionais do 4° Batalhão de Bombeiros Militar, de Içara. Eles relembraram momentos marcantes da carreira.
Fazia apenas três meses que o 1º sargento Cleiton de Bem Albino (na época soldado),havia se formado. Era março de 2015. Naquela noite, Albino acompanhava no rádio que deveria ficar de prontidão para possíveis atendimentos de emergência. O motivo era um adolescente que havia roubado um ônibus e seguia pela rodovia SC-445, já próximo do posto do Batalhão do Corpo de Bombeiros de Içara. No caminho o rapaz já havia causado alguns acidentes. O sargento conta que avistou o ônibus se aproximando do local. Quando percebeu que ele não iria parar, mas reduziu por conta do redutor de velocidade na pista, aproveitou o momento para pular no veículo e adentrou pela porta traseira. Foram poucos minutos até chegar no adolescente. Depois disso ele o imobilizou e parou o ônibus. Albino conta que agiu por impulso, e tomou a atitude pensando em apenas parar o veículo para que não causasse mais acidentes. A sua ação mais tarde resultou na promoção por ato de bravura, que o elevou ao cargo de cabo.
Mensagem
“A carreira de bombeiro é um sacerdócio, tem que gostar, vai ter que se abdicar de muita coisa, e a gente tem umas peculiaridades na carreira. A gente tem um regime, não se faz só uma coisa. Somos socorristas, resgatamos pessoas, somos mergulhadores, guarda-vidas, trabalhamos com salvamento em altura, fazemos análise de projeto, vistorias, trabalhamos no setor burocrático. Então ao longo da carreira tem que estar preparado para fazer uma coisa que você não escolheu fazer. Porque hoje em dia eu trabalho atrás de uma mesa, mas quando eu entrei no bombeiro a minha visão era fazer resgate, salvamento, então a gente tem que estar preparado para isso", afirma Albino.
Karini Brasil de Oliveira atua como analista de projetos. Ela estava no começo da carreira de bombeiro quando se deparou com uma das histórias que mais lhe marcou até hoje. Recebeu o chamado de socorro, e quando chegou no local se deparou com uma criança afogada com o leite materno. Ela lembra bem do desespero dos pais e de como eles confiaram a vida da filha nas mãos dela naquele momento.
Após realizar os procedimentos necessários, a criança ficou bem. “A carreira de bombeiro é surpreendente, porque você atende diferentes ocorrências e consegue ajudar as pessoas, mas aquelas ocorrências que são com crianças são as que mexem mais comigo”. O fato aconteceu na cidade de Videira, em 2015. A profissional já trabalhou também em Florianópolis, Criciúma, e hoje atua em Içara.
O sargento Vanderlei Pereira de Oliveira se aposenta em janeiro de 2020. São 29 anos atuando como bombeiro. Ele passou por inúmeras ocorrências, entre elas, auxiliou em partos, reanimou vítimas de parada cardiorrespiratória e esteve presente em dois episódios, que lembra como situações difíceis. Uma delas, apavorante.
Em 2005 ele teve sua promoção por ato de bravura e se tornou cabo. A ocorrência que lhe concedeu a honra foi o desabamento do prédio dos Correios no Centro de Içara. Oliveira, com a ajuda de um bombeiro comunitário, salvou duas vítimas naquele dia. “Trabalhamos nas lajes e foi bem complicado. Tinha três frentes de trabalho, eu trabalhei em uma delas. Na época eu trabalhava em Criciúma. A gente foi acionado para apoiar na ocorrência e chegando lá vimos que o prédio dos Correios tinha caído, tinha descido dois andares. Ele não tombou, ele desceu, e fomos informados pela guarnição de Içara que tinham várias vítimas soterradas embaixo das lajes”, lembra.
Naquele momento os bombeiros se dividiram. Oliveira e o bombeiro comunitário entraram pela lateral esquerda do prédio. Por uma fenda de 40 centímetros, o bombeiro militar avistou uma senhora com a mão presa na caixa de correio. Ele contou que a qualquer momento o prédio poderia desabar, mas felizmente nada aconteceu e eles conseguiram tirar a vítima do local. “Depois disso eu perguntei: tem mais alguém aí? Foi aí que uma voz no fundo gritou: tem eu aqui”. O bombeiro então disse que foi preciso adentrar mais dez metros. A vítima estava separada do local por uma parede, conseguia se mexer, no entanto, não conseguia sair. Sem poder usar meios agressivos, por conta de não saberem como estava a situação da estrutura, eles permaneceram alí até que conseguiram tirar a outra vítima. “Naquele momento você só pensa em salvar as pessoas’, afirmou.
Em algumas situações, Oliveira menciona já ter visto a morte. Uma delas foi quando precisou fazer um resgate em uma mina em Forquilhinha. Na época, ele lembra que a gaiola na qual os funcionários desciam pelo poço trancou. O local tinha 150 metros de altura e gaiola tinha trancado próximo dos 110 metros de profundidade. “Eles não conseguiram ir até o solo e para descer foi bem desgastante, foi muito assustador aquela ocorrência”.
O bombeiro lembra que a corda da guarnição não alcançava os trabalhadores e foi preciso fazer uma outra abordagem, por baixo, utilizando a força para subir no local. “Conseguimos lançar um cabo para eles que estavam dentro da gaiola, e eles fizeram a amarração e soltaram para a parte de baixo. Então entramos e depois eu subi. Era escuro e úmido”
O bombeiro conseguiu chegar até os dois trabalhadores, mas com muita dificuldade. Ao retornar foi ainda mais desgastante. Cansado, ele achou que não conseguiria concluir a missão. “Já era perto das 6 horas, a ocorrência tinha começado por volta da meia-noite. Eu coloquei a mochila nas costas para não deixar os equipamentos lá, mas, quando eu já estava na metade da descida eu não conseguia mais segurar o peso dela. Eu achei que ia desabar lá de cima. Então comecei a me balançar e com a ponta do pé consegui alcançar uma viga de madeira, e consegui sentar. Amarrei a mochila no cabo, soltei a mochila primeiro e depois desci. Mas tudo isso demorou em torno de uma hora”, comentou.
Para ele não há nada tão prazeroso do que ajudar alguém. “Quase nunca somos reconhecidos, mas ver que foi feito o bem, que aquela pessoa está bem, que foi feito o procedimento correto, que evitou de agravar a lesão de uma pessoa, é muito gratificante”, enfatizou.
Surpresa
No ano retrasado o bombeiro foi surpreendido com o anúncio do filho de que queria seguir a profissão do pai. “Eu nunca achava que ele iria querer ser bombeiro. Dei todo apoio. Ele estudou, fez concurso e passou. Se formou final do ano passado e hoje ele trabalha em Criciúma. É o soldado Leonardo”.
Parabéns
O içarense João Batista Cardoso aproveitou o Dia Nacional do Bombeiro para ir até o batalhão e parabenizar de perto os bombeiros. Há alguns meses, ele era síndico de um prédio no Centro de Içara. O agradecimento veio por conta de uma situação que ocorreu no local e que poderia ter lhe tirado a vida, e também de outros moradores, se não fosse o trabalho realizado pelos bombeiros.
“Um morador que só vinha ao apartamento a cada seis meses deixou o aquecedor ligado. O aparelho ficou ligado por tanto tempo que a fatura deu quase mil reais de gás. Isso ocasionou o vazamento de três botijões de gás no apartamento, só que o sistema de ventilação era perfeito. A nossa sorte também é que como foi no piloto, o gás saiu aos poucos, até porque nosso gás é encanado. Eu era vizinho de apartamento e nem senti o cheio de gás".
O morador ainda explicou que se o prédio não estivesse dentro das normas, provavelmente haveria uma grande explosão no local. “Eu quero dizer para aqueles que são síndicos que fiquem atentos às normas repassadas pelos bombeiros, que são muito importantes para a nossa segurança”, afirmou.
Leia mais sobre:
historias,
Dia do Bombeiro.
Em andamento
Investigação
Arma de fogo
Sul de SC
Buraco Quente
Investigação
Buraco Quente