A despedida

A despedida é o bicho: hora de voltar para Criciúma

Por Lene De Costa - lenedecosta@engeplus.com.br

Em 22/09/2008 às 12:03

As malas já ficam prontas para a viagem de volta quando desço para o último passeio na Europa, o Der Hauptstadt , o Zôo de Berlim. Estou na recepção esperando os outros colegas do grupo de Criciúma quando saio em disparada pela feirinha montada na frente do hotel. É minha última chance de clicar o que falta para o meu álbum in loco: um pastor alemão. Sim, fiz um álbum que incluiu pão francês, french fries, batata inglesa, chave inglesa, vacas holandesas e o pastor alemão. Originais.

O hotel em que estou fica bem perto do zôo, e em alguns minutos de caminhada estamos na portaria, ainda fechada. Calor, muito calor. Sou uma das primeiras a comprar o bilhete, 12 Euros. Nunca fui muito fã de zoológico, mas fiquei impressionada com o Zôo de Berlim, um pouco pelo tamanho, muito pela limpeza. Zero cheiro de bicho. Meu sensível olfato agradece.

Não posso dizer que os animais estejam felizes ali, mas que estão bem acomodados, estão. Casas enormes, parques bem cuidados, alas espaçosas. Chegamos na hora do café da manhã e inúmeros carrinhos de comida circulavam pelos corredores. Tudo parece muito aberto, mas dá pra perceber uma discreta cerquinha elétrica que deve torrar o bicho que se atrever a tentar fugir. Melhor nem pensar nesses detalhes, senão vou detestar o passeio.

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O zôo é todo sinalizado para indicar o local de cada morador, e não é preciso entender nem alemão nem inglês para se achar. Além dos nomes tem o desenho do bicho e a seta apontando para a direção, não tem erro.

Boa parte dos bichos não era novidade, tem nos zôos brasileiros, já os tinha visto em dois ou três parques em que já me forçaram a ir. O astro de Berlim, para o nosso grupo, é o panda gigante, esse eu também queria ver. Sabíamos que o panda tinha horários determinados para fazer suas aparições e já estávamos considerando não conhecer o ilustre quando nos deparamos com os bambus, sinal de panda por perto. Imenso, o filhote saboreava um enorme balde de mingau sem dar a mínima para o grupo do outro lado do vidro. Nas poucas vezes que olhou para o público que tentava fazer gracinhas para chamar sua atenção, pareceu querer dizer “tsc, tsc, tsc”.

Mas o pop star do Zôo de Berlim é ursinho (agora já ursão) Knut, o urso polar que foi rejeitado pela mãe ao nascer e, não bastasse isso, teve que aturar um bando de ambientalistas pedindo que fosse sacrificado porque não era aceitável um urso conviver demais com humanos. O inferno astral do branquinho só acabou quando caiu nas graças dos alemães e aí virou símbolo, estampou camisetas, cartazes, revistas, virou modelo para miniaturas e rendeu zilhões aos cofres do zôo. Eu vi o Knut, mas por favor, não me peçam pra apontar qual deles é. Eram todos brancos, mais ou menos do mesmo tamanho, não tinham identidade e não se apresentaram. Mas ele está na foto, juro.

Uma área subterrânea é dedicada aos bichos noturnos, espécies que nunca aparecem na luz do dia, mas que em cativeiro adequado podem ser vistas pelos turistas. Gostei dessa parte, animaizinhos que eu realmente nunca tinha visto, e que não vou mostrar em fotos por motivos óbvios, câmeras incomodariam as espécies e não fui a Berlim perturbar os hábitos de ninguém.


As duas horas que tenho para circular pelo zôo passam voando. Quando já estou perto do portão, prestes a ir embora, um gaiteiro aparece e começa a tocar. Um colega do grupo, o senhor que me levou para conhecer as galerias da Bélgica, anima-se e começa a dançar sozinho ao som da solitária gaita. Naquele momento vi que a Europa estava ficando para trás, mas a cena comprovou o que eu inconscientemente pensava: estamos indo embora, mas seremos todos mais felizes depois destas semanas de aventura.

Por incompatibilidade entre o horário de check out do hotel e do check in do vôo, a tarde é de voltas e voltas pelo aeroporto de Berlim. Tempo de sobra para provar uma última iguaria típica, a Apple Strudel, uma torta de maçã extremamente doce. Sensacional.

Vamos voar de Lufthansa até Frankfurt, de onde partiremos de Tam para o Brasil. Em determinado momento percebemos que uma das pessoas do grupo criciumense está num vôo anterior o nosso e o guia se apressa em solicitar a troca. No guichê é informado de que, então, os outros 14 passageiros serão adiantados, já que uma tempestade está chegando e há chances de vôos posteriores serem cancelados.

Como eu sempre digo, a ignorância, em alguns casos, é uma benção. Para quem nunca voou em más condições meteorológicas, a palavra tempestade não faz nenhum efeito. Até que lá de cima se percebe que as nuvens estão cada vez mais escuras, e a coisa está realmente ficando preta. O comandante dispara uma dúzia de avisos em alemão e em inglês rápido, que não pesco uma palavra. Mas em segundos descubro do que se tratava. Turbulência, da braba. Esqueça todas as turbulências que você já pegou, tenho certeza que a minha foi maior. Avião furando granizo é assustador. Sacode como um louco, as pessoas gritam, e o impacto que ninguém nunca me avisou, o avião despenca uns bons quilômetros numa velocidade impressionante. Na hora ainda consegui pensar em duas coisas: 1. Não vim até a Alemanha pra morrer. 2. Beleza, tem pelo menos cinco médicos aqui, se cair numa ilha, minha hipocondria está garantida. Acho que assisti Lost demais.

O vôo Berlim-Frankfurt dura mais ou menos uma hora, e pelo menos 20 minutos foram dedicados ao pânico. E com a confusão, nada de serviço de bordo, nem uma balinha. Se bem que, aquela altura, minha fome tinha ido, literalmente, pelos ares.

Passado o susto, enfrentamos a interminável fila para o check in da Tam já nos sentindo perto de casa. Naquela área de Frankfurt é Brasil, o idioma oficial da fila é o português e teve colega que encontrou até outros criciumenses nela. Em onze horas estaremos em São Paulo, depois Florianópolis, e depois felizes e contentes na BR 101 não duplicada até Criciúma. Ao contrário da ida, voamos praticamente todo o tempo no escuro, ótimo para quem consegue dormir a bordo - o que não é o meu caso. Assisti três filmes, dois seriados e ouvi conversa alheia. Desci em Floripa completamente moída. A volta é sufocante.

Parece que foi ontem, e lá se vão, já, quatro meses. Da impressão de turista, ficam as lembranças dos lugares fantásticos que vi, dos sabores – ainda que sem sal – que provei, dos cheiros, das cores, dos costumes que vi. Ao olhar as fotos, não raras vezes já pensei: uau, eu estive aqui de verdade! É uma das melhores sensações do mundo.

Sempre fui meio patriota, mas pisar na Europa me fez gostar ainda mais do meu país e comprovar que algumas máximas ditas por aí são lorotas. Cansei de ouvi que “se jogar um papelzinho no chão na Europa, vai preso”. Conversa de quem quer desmerecer nosso Brazilzão. Tem lixo pra caramba jogado nas ruas, fotografei isso em vários locais. E nada contra animais, mas não gosto de cachorro em supermercado, restaurante e loja de departamento, totalmente natural lá. A segurança também não é tudo aquilo. Vi pelo menos dois ou três roubos nas ruas, e dentro dos hotéis não dá para deixar nada. Eu mesma tive um par de sapatos surrupiado da parte da mala que teve o zíper quebrado graças à delicadeza com que jogam nossas bagagens no aeroporto. E não adianta reclamar. Roubaram? Azar o seu.

Várias vezes já ouvi a pergunta “de qual país gostei mais”. Não dá pra dizer. Estive em locais totalmente diferentes. Fiquei encantada com o charme das ruas de Paris e seus pontos turísticos incomparáveis. Adorei o contraste entre os castelos e o estilo de vida moderno em Londres. Fiquei surpresa com a semelhança entre Bruxelas e o nosso país e impressionada com a diferença de comportamentos em Amsterdam. E Berlim, apesar da aura pesada, se revelou um ótimo destino. Fui em busca de novas culturas, e foi exatamente o que encontrei. Gostei de tudo, voltaria em cada um desses lugares se pudesse. Mas tá, Paris é Paris, se eu tivesse que escolher apenas um lugar, é para lá que eu iria.

O tour pela Europa encerra-se hoje. Um trabalho prazeroso, produzido capítulo a capítulo ao longo destas treze semanas, sem nenhuma anotação feita de lá. Baseado apenas no que vi e senti. Os lugares que apenas descrevi, sem fotos, têm uma explicação: foram as primeiras férias da minha vida. Não fotografei pensando em publicar, não provei nada com intenção de relatar depois. O que veio parar aqui foi a impressão de um turista.

Foi um prazer viajar com vocês. 
 
  

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