Por Thiago Hockmüller - thiago.hockmuller@engeplus.com.br
Em 16/03/2020 às 09:12Seu José Carlos Costa tem 50 anos de idade e há 18 vende sorvete em frente ao Detran de Criciúma. Mas calma, não é o sorvete comum, aquele mesmo comercializado em máquinas convencionais espalhadas pelo Centro da cidade. O sorvete do seu Zé é diferente, lembra a infância, como ele mesmo caracteriza e ouve de seus clientes mais antigos.
O motivo da nostalgia é que a máquina de seu Zé produz um sorvete à moda antiga e que há muito deixou de ser comum, mas nunca perdeu o sabor. Tem os mais vendidos, morango e abacaxi, os diferentes e peculiares, de abacate e milho verde, todos verdadeiros sucessos no quiosque de seu Zé.
Quiosque do seu Zé fica aberto das 11 às 17 horas. (fotos: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)
A história em frente ao Detran começou com uma simples conversa com o delegado responsável pelo Detran na época. Seu Zé procurava um lugar para vender sorvete e pediu permissão ao agente para atuar no local. Não encontrou problemas. "Ele disse: vai trabalhar, vai", recorda.
Quando chegou na rua João Pessoa, eram tempos diferentes. Na esquina da frente uma lavação de carros, ao lado um terreno que servia de estacionamento e que chegou a fornecer eletricidade para a máquina funcionar. "Quando vim trabalhar aqui, os filhos do pessoal eram todos pequenos e hoje estão tudo casados, só para você ver o tempo que estou aqui", conta.
Produção caseira e saborosa
O sorvete do seu Zé é produzido em casa. Ele compra os ingredientes, dá o cozimento necessário e deixa descansar para ganhar sabor. Por volta das 11 horas, ele abre o quiosque. Se vender rápido, final de expediente. Caso contrário, fica ali até as 17 horas.
"Amo fazer isso. Já me acostumei a trabalhar e não me vejo fazendo outra coisa. Fazem uns 27 anos que trabalho com este tipo de sorvete. Comecei com uma máquina bem mais velha. O sorvete é ótimo, o povo diz que gosta, que é de qualidade", orgulha-se.
Sorvetes de morango e abacaxi são os mais vendidos
Chegam aqui e dizem que passaram por um monte de máquina, mas vem tomar aqui porquê este sorvete relembra a infância. Eu vou mudando os sabores todos os dias. Os que mais saem são morango e abacaxi. Milho verde também sai bem. Também faço de uva e abacate.
José Carlos Costa, sorveteiro criciumense
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Calor é bom, mas nem tanto
Famosa, sobretudo entre os "clientes" do Detran e amigos conquistados ao longo dos últimos 18 anos, a mini-sorveteria do seu Zé também tem seus períodos de pico nas vendas. O calor, claro, é um aliado, todavia, calor de mais estraga o passeio dos clientes e produz menos vendas.
"Muito quente não é bom não. Porque daí quase ninguém sai de casa. Dos 26°C aos 35°C é um calor bom para vender sorvete. Quando está muito quente, quase não tem fluxo de pessoas", explica.
Deixa o homem trabalhar
Mas nem tudo é sorriso na vida de um dos sorveteiros mais antigos da cidade. Algumas semanas atrás um fiscal da prefeitura esteve no local e disse que ele não poderia mais trabalhar ali. A justificativa é que o quiosque está atrapalhando a passagem dos pedestres.
Seu Zé seguiu no local, afinal, precisa trabalhar e ganhar o pão de cada dia. Recebeu ajuda para tentar regularizar a situação e aguarda a tramitação do processo.
Eles mandaram um parecer para a Defensoria Pública dizendo uma mentira, que construí uma “catuta” em frente a construção do prédio e estou atrapalhando a passagem das pessoas. Há 18 anos trabalho aqui, em frente ao Detran
José Carlos Costa, sorveteiro criciumense
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No último dia 6, ele conta que recebeu uma nova visita. "Como está na justiça, disseram que eu não poderia continuar aqui sem a resposta. Eu preciso trabalhar, não tenho outra renda, ainda tenho um problema na minha perna. Ele saiu dizendo que eu precisava sair, mas estou aqui de teimoso, porque preciso trabalhar", justifica.
Antes de instalar o quiosque no local, seu Zé trabalhava em uma barraca. Todo dia era o mesmo processo: montava e desmontava a barraca. Guardava a máquina em um espaço alugado no estacionamento ao lado do Detran. Para escapar da chuva, frio e trovoadas, construiu o quiosque com a ajuda de um amigo e instalou no local, onde também conta com um medidor de energia, que não é mais emprestada. O que consome, paga.
“Tudo o que eu quero é continuar trabalhando e ganhar o meu sustento. É uma coisa que não dá muito, mas ajuda, já estou com 50 anos, não tenho quase escolaridade e sou obrigado a continuar”, explica.
Enquanto a indefinição segue, seu Zé permanece no local vendendo - e também tomando - o sorvete “mais antigo da cidade”. A única máquina deste tipo que restou das três que haviam em Criciúma, conta o sorveteiro.
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