Por Fabrício Júnior - fabricio.junior@engeplus.com.br
Em 05/06/2025 às 14:03Nascida na ‘terra do carvão’, Maria Tereza Demétrio, de 29 anos, literalmente, já conquistou o mundo jogando futsal. Pelo nome poucos a conhecem, mas quando a chamam de Tetê muitos sabem de quem se trata. Em Criciúma, Lages, Araraquara e Málaga (Espanha), a ‘menina da Mina do Mato’ deixou sua marca.
O sonho da criciumense iniciou aos 13 anos, quando deu os primeiros chutes no futsal, incentivado por uma professora e impulsionado por Bina Cassol, que até hoje está à frente do projeto da modalidade na cidade.
E foi logo no início que Tetê, que atua como ala e pivô, começou a entender que precisaria superar obstáculos para viver no meio do esporte. O primeiro deles viria de casa. “Minha mãe não queria muito, porque eu era muito nova e tinha o deslocamento na cidade para se fazer. Então no começo foi muito um pouco difícil”, lembra a atleta.
Tetê recorda como foi os primeiros passos no futsal e se emociona ao falar das conquistas e da família.
A preocupação da mãe logo viria a se tornar incentivo e, com as primeiras conquistas aparecendo, o sonho começou a virar realidade; viver por meio do futsal era visto com algo alcançável. Tanto era, que foi. A criciumense, que até esta temporada defendeu o Atlético Torcal, de Málaga, na Espanha, acumulou conquistas e passagens marcantes em grandes equipes.
A trajetória de três anos na Ferroviária (SP) lhe rendeu uma Copa Paulista, com o protagonismo de ser a artilheira da competição, inclusive marcando gol na final. Em Santa Catarina, além de defender o Criciúma, a atleta passou pelo Leoas da Serra, de Lages.
A grande marca na carreira da criciumense foi em 2023, quando ela literalmente conquistou o mundo. Defendendo o Brasil, Tetê foi campeã do Mundial de Futebol de Salão, na Argentina. “Foi um título muito importante para mim. Uma vivência única. Eu fiquei muito feliz de estar lá e, acima de tudo, representar o Brasil”, frisa.
A fruta não cai longe do pé
O termo muito utilizado para destacar a semelhança entre familiares também se enquadra para Maria Tereza. A família foi inspiração para despertar o amor ao futebol e também ao futsal.
“A família sempre gostou de esporte. Meus tios e meus irmãos também foram jogadores, então isso de certa forma me motivou”, comenta.
Amor, frustração e o desejo de voltar
Durante os anos em que vestiu as cores do Criciúma, Tetê nunca escondeu que era mais que uma atleta e sim uma representante da cidade dentro de campo. O amor pela sua terra o proporcionou viver momentos felizes e inesquecíveis.
Porém, nem só de amor a passagem foi marcada. As inseguranças e frustrações predominaram no ano de 2019, por fatores que fugiam do desempenho esportivo das meninas carvoeiras.
A queda do Criciúma para a Série C do Campeonato Brasileiro tirava a obrigatoriedade do clube de ter um time feminino, algo que trouxe uma insegurança. A esperança era nos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC). Subir no pódio representava a conquista da bolsa-atleta para os anos seguintes, que daria um suporte financeiro para as representantes da cidade.
Dentro de campo, no futebol, o resultado veio. Criciúma garantiu a vaga para a decisão. Mas não deu muito tempo para comemorar a conquista. Horas depois, o time foi denunciado pela inscrição irregular de uma atleta e acabou sendo eliminado dos Jasc, assim como os outros três semifinalistas. Uma mudança no regulamento teria atraído as equipes ao erro.
Tetê lembra da temporada ruim no Criciúma. Veja:
Depois disso, a criciumense desenhou sua carreira nos clubes já citados nessa reportagem. Mesmo com o sucesso em outras equipes e até representando o Brasil, Tetê não esconde o sonho de voltar a atuar em sua cidade. “Essa vontade a gente sempre tem, afinal minha base foi toda aqui, eu iniciei aqui e sou daqui. A vontade de voltar pra casa sempre existe”, destaca.
O preconceito e as dificuldades fora do país
Além da distância de amigos e familiares, os atletas passam também por fases de adaptação quando buscam novos desafios e são expostos a novas culturas, línguas e padrões de vivência. Com Tetê não foi diferente.
A criciumense relata que na Espanha enxergou diferença muitas vezes no tratamento com ela por ser brasileira. “Claro que tem o preconceito, mas eu não diria racial, pelo menos da minha parte, mas tem o fato de você ser estrangeira, de vir de outro país. A gente nota a diferença no tratamento, não só comigo foi isso, mas também com outras atletas brasileiras. Conseguimos ver no falar, na cobrança e no tratamento”.
Mesmo com isso, Tetê reforçou que viveu bons momentos no país e que teve uma boa experiência profissional.
E o futuro?
Licenciada em Educação Física e pós-graduada em Educação Especial, a atleta já pensa no futuro, quando encerrar sua carreira dentro de quadra. “Pretendo voltar para a área da Licenciatura e viver aqui em Criciúma, se Deus quiser, tranquila, com a vida feita e estabilidade. Quero voltar a dar aula com minha pós-graduação também, que é uma área que eu adoro”, comenta.
Mas… ainda há muito tempo para a criciumense desfrutar dentro de quadra. Para onde vai Tetê? Quais seus sonhos? Falta ganhar qual competição? Confira a resposta no vídeo:
A dica para quem está começando e o encontro do presente com o passado
Indagada pela reportagem sobre qual recado deixa para as meninas que sonham em viver do futsal ou de qualquer outro tipo de esporte, Tetê repetiu o que faz em quadra, não pipocou e foi firme nas palavras. “Sei que é difícil manter a vida só com o esporte. As vezes tem meninas que passam muita dificuldade com isso. Mas, se dediquem, busquem treinamento qualificado, orientação, sejam honestas e se preparem”.
A missão ficou mais difícil para a atleta quando foi desafiada a dar um recado para a Tetê dos 13 anos de idade. Emocionada respondeu. “Penso que Deus não coloca sonho no teu coração que você não possa alcançar. Então acredite, vai valer a pena lá no final”.
A jogadora esteve na redação do Portal Engeplus na manhã desta quinta-feira, dia 5. De férias, ela veio visitar a família e amigos e chegou ao Brasil nesta semana.
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