Siderópolis / Urussanga

No pior da SC-445, pedras, buracos e abandono

Por Denis Luciano - denis.luciano@engeplus.com.br

Em 22/08/2017 às 15:20
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Foto: Denis Luciano

A Inês precisa da estrada para chegar na sua empresa. O Arlei só anda por ela a cavalo. E o Jaime depende da mesma para ir ao Centro. Uma ferradura que contorna a região carbonífera, resta na SC-445 um pedaço de 12 quilômetros onde o misto de chão batido, pedras e buracos causa transtornos, prejuízo e atraso.

Tente trafegar nessa rodovia do início ao fim. Saia do Balneário Rincão. Há um bom asfalto até Içara, onde ele se torna bastante irregular e esburacado até Criciúma. Está vencida a Rodovia Paulino Búrigo. Dali, a SC-445 renasce como Rodovia Sebastião Toledo dos Santos, com bom asfalto, nos altos da rua Álvaro Catão e leva até Siderópolis. Aí começa o drama, na parte denominada Rodovia Dionísio Pilotto. Mas antes disso cabe lembrar que de Urussanga a Morro da Fumaça há o asfalto da Genésio Mazzon e a SC-445 termina de Morro da Fumaça à BR-101 como Rodovia Olívio Cechinel.

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“Tenho três carros na oficina o tempo inteiro por culpa dessa estrada. A conta com o mecânico já está alta”. O lamento é da empresária Inês Georgete, que veio de São Paulo para investir em Santa Catarina, aportou faz dois anos em Siderópolis e adquiriu uma fábrica de detergentes químicos no trecho de chão da SC-445, na saída rumo a Urussanga. “Nossos fornecedores evitam vir aqui, e isso está atrapalhando o negócio”, conta. Logo, é a economia que sofre.

Para quem passa pelo Centro de Siderópolis, corta o bairro Tereza Cristina e alcança a estrada de chão logo a seguir, não imagina que se trata de uma rodovia estadual. A pista é estreita, repleta de buracos logo em seu início e com uma característica no mínimo perigosa: a quantidade de pedras, muitas pontiagudas.

Enquanto a reportagem esteve no local alguns carros tentaram cruzar, com dificuldades. “Meu filho passa três vezes por dia aqui. Se acelerar muito deixa a suspensão”, narra Inês. Logo a empresária gira a chave e retoma a viagem, e não consegue escapar de uma cratera repleta de pedras. A suspensão só não ficou ali pela baixa velocidade.

Só de carroça para encarar

Pouco antes da empresa de Inês, há uma subestação da Celesc. “Que abastece toda a região, e fica nessa estrada muito ruim”, confirma o vereador Franqui Salvaro (PSB), presidente da Câmara de Siderópolis e que vem levantando a bandeira das necessárias melhorias no trecho da rodovia até Urussanga. Mais uns três quilômetros e o encontro com o militar aposentado José Arlei Conti reserva mais uma surpresa. Ele vem de carroça, trafegando dos grotões da precária estrada em direção à sua residência, perto do trevo de acesso a Siderópolis.

“Muito melhor fazer isso aqui de cavalo. E olha que essa estrada já esteve pior”, advertiu, lembrando que quando chove a situação é muito mais crítica. Restos da última intempérie ainda são visíveis no trecho, com água barrenta acumulada em buracos, tornando-os um pouco discretos sob os olhares cuidadosos dos motoristas que se aventuram no caminho acidentado.

Algumas estradas vicinais começam e terminam na poeira da SC-445 de chão batido. Umas levam a Cocal do Sul, que está à direita de quem sai de Siderópolis, não muito longe. Visível inclusive de alguns pontos mais altos. No lado oposto, está ali pelo quilômetro 6 da rodovia sem asfalto o acesso a Rio Caeté Alto, localidade do interior de Urussanga identificada por pequena placa em uma bifurcação. Uns dois quilômetros adentro aparece o núcleo da localidade com algumas casas, uma igreja e a curiosidade: ali encontram-se as linhas que separam Siderópolis, Urussanga e Cocal do Sul. 

“O nosso endereço na conta de luz era de Urussanga, agora é de Cocal”, conta o morador Jaime Donadel. Ele resume o sentimento da vizinhança em relação à SC-445. “A gente poderia ir a Siderópolis quando precisa de algo no Centro, mas acabamos indo a Urussanga, para onde a estrada é um pouco melhor”, relata.

De volta à rodovia, um pouco mais adiante se passa pela ponte de acesso a Rio Caeté, na altura do oitavo quilômetro para quem saiu de Siderópolis. Há um pequeno trecho pavimentado, dentro da comunidade, e de volta o chão batido da SC-445 nos quilômetros finais quando, vencidos, levam ao asfalto já na área urbana de Urussanga. 

Por esse trecho acima citado a reportagem encontrou um caminhão a serviço do Deinfra. Alguma boa notícia para a castigada estrada? “Não temos nada planejado. O que havia para orçar e executar nós já fizemos, estamos terminando a Via Rápida e lançamos a autorização para pavimentar dois quilômetros da SC-440 entre Urussanga e Lauro Müller”, informa o secretário estadual de Infraestrutura, Luiz Fernando Vampiro Cardoso.

Ele reconhece a necessidade exposta na SC-445, mas diz que faltam projeto e verba. “Há alguns anos houve uma mobilização, mas agora estamos em obras de fim de governo, não temos como incluir novas nos planos”, afirma o secretário. Mas as lideranças dos municípios não perdem a esperança. “Estamos desde fevereiro tentando uma audiência com o secretário para pedir apoio ao povo que usa a nossa estrada até Urussanga”, diz o vereador Salvaro, de Siderópolis. “A cada ano a estrada está mais abandonada. Os moradores não acreditam que um dia terá asfalto aqui, mas pelo menos um patrolamento, uma revitalização já ajudaria”, comenta.

A Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) firmou compromisso recente com as prefeituras de Urussanga e Siderópolis para melhorar a estrada. “Estamos no aguardo da liberação dos materiais pelos prefeitos, nós vamos entrar com o maquinário”, observa o secretário regional João Fabris. Enquanto isso, quem se aventura pelos 12 quilômetros ou se resigna, como Inês, ou usa o cavalo, como Arlei, ou evita a parte pior, como Jaime. É a dura realidade.

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