Por Denis Luciano - denis.luciano@engeplus.com.br
Em 07/06/2017 às 15:57Elas não gostavam. Estragavam o salto dos sapatos e torciam o pé. A remoção do petit-pave da praça Nereu Ramos, em 2011, rendeu tremenda polêmica que se arrastou por dois anos. Virou caso de Ministério Público. Teve por um lado o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e professores clamando pela preservação do patrimônio histórico e, por outro lado, a prefeitura brigando pelas obras pretendidas, que acabaram saindo do papel.
“O petit-pave não é mais um pavimento acessível. É uma pedra que escorrega e de difícil manutenção. A tendência é que suma do cenário urbano”, comenta o arquiteto Giuliano Colossi, do departamento de planejamento do município, que acompanhou a intrincada situação há alguns anos.
“Em Porto Alegre fizeram reformas em praças e recolocaram. Em Curitiba tem por toda parte, fizeram caminhos de piso reto entre as pedrinhas nas calçadas e ficou muito bom”, conta a arquiteta Izes Regina de Oliveira, que em 2011 elaborou um laudo técnico a favor do pavimento, documento anexado à Ação Civil Pública movida à época pelo promotor Luiz Fernando Ulysséa, pela paralisação da retirada das pedras.
Ocorre que o petit-pave ainda resiste em alguns pontos da cidade. O mais visível é no Parque Centenário, no entorno do Paço Municipal, e que ganhará reformas. “Ali vamos arrancar tudo e colocar de novo. Os eixos principais do parque terão petit-pave”, confirma Colossi. Atualmente, as pedrinhas estão escondidas entre o mato e muitas irregulares. Parte delas forma um mosaico na esplanada onde se encontra a bandeira nacional.
Ainda há petit-pave nas praças construídas nos anos 80, como as da Santa Bárbara, da Chaminé na Próspera, Santa Luzia e em algumas calçadas da Avenida Centenário. “Para juntar as pedras é necessário areia e cimento, mas com a chuva e a ação de animais, bem como o fluxo de pedestres, logo elas saem do lugar e a manutenção é cara”, argumenta o arquiteto.
Quando da contestação que fez paralisar a obra na praça Nereu, planejada desde 2009 – começou, foi suspensa, as pedras recolocadas e então a intervenção reiniciada no ano seguinte –, os defensores do petit-pave evocavam o aspecto histórico e a permeabilidade do solo. “Criciúma já tinha poucas referências culturais, seria uma importante, pois elas foram colocadas nos anos 60 na praça”, lembra Izes. “E no laudo constou, ainda, que elas colaboravam para absorver a água, já que são mais permeáveis que esses pisos postos depois”, completa a arquiteta. A Fundação Cultural manifestou-se na ocasião expressando que o piso não representava patrimônio histórico municipal.
Mas ainda restaram dois pontos da praça Nereu com petit-pave. Uma decisão de setembro de 2016 do Tribunal de Justiça do Estado respaldou a manutenção de trechos das antigas praças Etelvina Luz e da própria Nereu, das suas origens, com o pavimento, como forma de preservação histórica. “Há um decreto em vigor que não permite mais fazer novas calçadas em petit-pave. Em alguns pontos específicos até pode, mas a tendência com o tempo é o desaparecimento”, reforça Colossi.
Os opositores da retirada das pedrinhas questionam o paradeiro das antigas removidas da praça Nereu. “Onde foram parar? Aquilo é uma pedra muito mais cara que esse paver de cimento que colocaram, tiraram jóias da cidade e colocaram bijuterias”, reclama Izes. Conforme o arquiteto da prefeitura, o material está estocado no pátio de máquinas. “Estão lá para manutenções, quando falta em algum lugar que já existe”, responde Colossi.
Agora, eis a questão: até quando sobreviverão os resquícios de petit-pave em Criciúma? O que chegou para representar requinte e diferencial há cinco décadas em passeios públicos tornou-se, para muitos, sinônimo de incômodo e custo. “Eu sou mulher, estrago meus calçados, mas gosto das pedrinhas. Sinto saudades delas na praça Nereu”, arremata Izes. Para quem gosta, além de pisar sobre elas nas pracinhas e no Parque Centenário, fica a expectativa pela reforma do entorno do Paço.
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