Especial

Estiagem transforma dia a dia e provoca prejuízos no Sul catarinense

Portal Engeplus visitou municípios e agricultores e mostra, de perto, a seca na região

Por Rafaela Custódio -

Em 02/06/2020 às 15:25
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Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus

Racionar, economizar, controlar e limitar são palavras que vêm sendo muito utilizadas quando o assunto é água. A estiagem no sul catarinense tem feito com que a população utilize a água de forma ainda mais correta. Lavar roupas, calçadas, carros ou até mesmo dar água para animais parecem ações comuns e normais, porém, nos últimos meses, para algumas famílias que moram na Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec) não é. E está longe de ser. 

A reportagem do Portal Engeplus visitou agricultores, municípios da Amrec, a Barragem do Rio São Bento, e conversou com especialistas para entender melhor os efeitos que a estiagem tem sobre a região, e como ela pode afetar o Sul de Santa Catarina. 


Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus 

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Santa Catarina tem sido castigada pela estiagem desde 2019, e a região Sul sofre com a falta de água há cerca de um ano. A última chuva registrada com grande volume foi no dia 24 de maio do ano passado, quando os municípios de Morro da Fumaça e Sangão tiveram prejuízos drásticos com a força da chuva. Desde então, não houve mais registro de pancadas de chuva fortes. 

“Desde junho de 2019 as chuvas vêm sendo irregulares no Litoral Sul de Santa Catarina. Destes quase 12 meses, nove foram com pouca chuva e apenas três (julho, outubro e janeiro) tiveram chuva dentro da normalidade. As estações da Epagri calculam o balanço hídrico de água no solo dia após dia, comparando o que choveu com o que a região perde por evaporação natural e transpiração das plantas (evapotranspiração)”, explica o climatologista da Epagri de Urussanga, Márcio Sônego

Conforme Sônego, a falta de água gera o que se chama “negativo acumulado”, ou seja, os especialistas calculam quanto os municípios precisam de chuva para voltar à normalidade de rios e agricultura. “Falta umidade na primeira camada do solo (100 centímetros), parte que interessa à agricultura, pois é onde se concentram as raízes das plantas. O valor do negativo acumulado até o dia 30 de maio de 2020 está em 104 mm na região (em média). Isso quer dizer que precisa chover 104 mm para repor a água ao solo, e o excesso ir para o lençol freático, cursos de água, açudes e represas. 104 mm quer dizer 104 litros de água por metro quadrado de superfície. Para explicar melhor: é como se fosse uma pessoa molhando a terra com dez regadores de água por metro quadrado, e cada regador tem dez litros”, detalha o climatologista. 


Gráfico: Epagri 

Estiagem? E a Barragem do Rio São Bento? 

Localizada em Siderópolis, a Barragem do Rio São Bento abastece, atualmente, os municípios de Nova Veneza, Siderópolis, Forquilhinha, Maracajá, Criciúma e Içara. De acordo com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), para sua construção o investimento foi de R$ 60 milhões, viabilizado por meio do Ministério da Integração Nacional, com contrapartida do Governo de Santa Catarina por meio da Casan.

Além de garantir o abastecimento de água para municípios da região carbonífera, a barragem tem como benefício indireto o controle de cheias. Desde que foi concluída, impediu o transbordamento do rio São Bento em ocasiões de chuvas intensas, evitando prejuízos para agricultores. 

Mas a falta de chuva faz com que a barragem seja ainda mais utilizada, ou seja, mais água saindo das torneiras e sem chuva para abastecer os rios, represas e açudes. O cenário próximo à barragem mostra quanto a falta de chuva tem prejudicado o local. 

A Casan informou por meio de nota que, atualmente, “o nível está 4,5 metros abaixo da Soleira de Vertimento. Em tempos de chuvas normais, este nível permanece entre 1m e 2m abaixo”, diz. “Lembrando que em 2012 chegou a 7m22cm abaixo de seu nível e em 2015/2016 a 5m20cm abaixo”, completa a nota.

Segundo a Casan, são captados 1 mil litros/segundo deste manancial para abastecimento do Sistema Integrado, captação que permanece inalterada mesmo com a estiagem. A Barragem tem 450 hectares.

O agricultor Max, de 43 anos, é morador de Meleiro e costuma pescar na Barragem do Rio São Bento. “A situação preocupa porque se demorar para chover não sabemos o que vai acontecer, pois essa água vai para muitas cidades. Então, a situação já está precária, na minha visão”, comenta.


Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus 

Max trabalha com plantação de arroz e mostra a preocupação com a estiagem: 

Em Içara, moradores estão sem água e enfrentam problemas diários 

Marlisa Piassolli, de 49 anos, é moradora da localidade de Terceira Linha, em Içara. Ela e a família passam por dificuldades com a estiagem de água e faz com que a içarense não consiga lavar roupas, por exemplo. 

A família possui três poços artesianos, sendo dois de 12 metros e um de 9 metros, e ainda assim a água não está sendo suficiente, já que ela cria galinhas, porcos. Marlisa está orçando para construir mais um poço artesiano de 70 metros, que custará R$ 8 mil. “Tudo está muito caro neste momento. Os poços aqui do terreno já secaram e somos em quatro pessoas em casa. Não consigo lavar roupas e preciso ir ao Balneário Rincão toda sexta-feira para que eu possa lavar a roupa na minha casa de verão. Não estou limpando a casa, o banho é muito rápido, tudo que fizemos com água precisa ser rápido para que possamos gastar o menos possível. Temos que pensar diariamente no amanhã”, conta. 


Foto: João Gabriel/ Prefeitura Içara 

“Temos 15 cabeças de gado e a produção do leite diminuiu 30% em virtude da falta de água que afeta os campos, os poços e, óbvio, nossas vidas”.

Marlisa Piassolli
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Agricultura e a necessidade da água 

Max é morador de Meleiro, mas não é o único agricultor preocupado. Alcino Budinei, de 47 anos, é morador do bairro Vila Nova, em Içara. Ele trabalha com plantações de morango, alface e rúcula e a falta da chuva fez com que um de seus poços artesianos secasse. O agricultor ainda estima prejuízo de mais de R$ 100 mil, já que a falta de água prejudicou a colheita de 20 mil pés de morango. 

Budinei ainda explica que as plantações de repolho, cenoura e tomate foram afetadas pela falta de água.

Contratação de caminhão pipa beneficiará famílias de Içara

 A falta de chuva é um dos fatores que preocupa a Prefeitura de Içara. Por isso, foi lançado um edital de contratação de caminhões pipa para auxiliar esses moradores. Nos próximos dias a empresa vencedora deve ser conhecida. 

O objetivo inicial será atender as famílias em que a água será utilizada para o uso pessoal. “Estamos há muito tempo sem chuva e, quando chove, não é o suficiente. Por isso, essa ação visa auxiliar as famílias dos agricultores neste momento”, pontua o secretário de Agricultura, Ivan Isoppo.

O município de Içara já registra déficit na falta de água, secando rios, poços e lagos, afetando também os trabalhos na agricultura e pecuária. Foram limpos bebedouros e aprofundadas mais de 60 propriedades, além de 45 propriedades solicitando água potável. 

A água potável para os moradores será cedida pela Casan e transportada por caminhões pipa. Cada família receberá até 5 mil litros de água. O prefeito de Içara, Murialdo Canto Gastaldon explica sobre as ações no município. 

Confira o gráfico da Epagri sobre a falta de chuva em Içara 


Gráfico: Divulgação/Epagri

Lauro Müller: mais um município da Amrec afetado 

A cidade de Lauro Müller também está na lista das grandes afetadas pela estiagem há algumas semanas. O prefeito Valdir Fontanella expressou preocupação em entrevista ao jornalista Eduardo Madeira. “Chamamos a Casan para ter uma explicação do que está acontecendo. Ultimamente, estamos passado por dias muito difíceis, onde as nossas torneiras passam dois ou três dias sem cair um pingo de água. Nós não podemos admitir isso. Nosso povo está indignado”, afirmou na última sexta-feira, dia 29 de maio. 

Antônio da Luz é morador do bairro Alto Cairú e relata dificuldades com a estiagem. “O problema é a falta de chuva e em Lauro Müller não é diferente das outras cidades. Essa falta de chuva fez com que a captação de água fosse prejudicada. A água chega em casa por meio de tubulações da Casan, que é a responsável pelo abastecimento da cidade. O racionamento iniciou há pouco tempo. As partes mais baixas da cidade ainda recebem água, mas as localidades mais altas ficam sem. Já fiquei quatro dias sem água e isso é bem complicado. A água aqui no bairro não chega por gravidade, precisamos de uma bomba da Casan para ajudar a trazê-la”, relata. 

Casan emitiu comunicado sobre a situação em Lauro Müller 

Os bairros menos afetados de Lauro Müller, segundo a Casan, são as partes baixas área central. Por ser uma espécie de corredor da adutora principal, esta região acaba sendo menos afetada, mas também tem ficado sem água por alguns períodos. Bairros como Alto Cairu, Barro Branco, Rio Amaral Rádio, a parte mais alta do Arizona (na Rua Emílio Gazola) e os loteamentos Bela Vista e Nova Coletora são os mais prejudicados.

A Casan informou por meio de nota a dificuldade de captação de água no Rio Palermo. Por isso, é necessário interromper o abastecimento de água por algumas horas do dia em determinadas localidades. “A área onde é realizada a captação habitual no Rio Palermo está com 10% de sua disponibilidade, o que levou os técnicos a instalarem um recalque secundário cinco quilômetros abaixo do ponto principal”, informa. “Porém, o funcionamento da bomba dessa segunda captação tem oscilado muito, sendo desativada sempre que o volume de água do rio é sugado. Somente quando a água se acumula novamente é que a bomba volta a operar, permitindo o reabastecimento da cidade”, diz a nota. 

De acordo com o chefe da Agência da Casan, José Nazareno Nasário, devido à oscilação, a agência local não tem como estabelecer horários definidos nem bairros afetados pela interrupção. “Estamos fazendo um monitoramento permanente do sistema e manobras operacionais a partir desse controle em tempo real. Pedimos desculpas por não informar com antecedência os bairros afetados, pois essas manobras são decididas momento a momento, mudando a cada duas, três, quatro horas ou mais”, explica.

Segundo a Casan, “os engenheiros da Superintendência Regional Sul estão buscando medidas alternativas, como uma barragem de retenção na captação secundária que reduza a fuga de água bruta do rio. No local estão sendo instaladas lonas que podem manter a bomba em operação por mais tempo”, afirma a nota.

Redução de consumo: é o pedido da Casan diante da situação de emergência

Conforme o engenheiro Gilberto Benedet Junior, superintendente Regional da Casan, “a instituição pede a compreensão de todos diante do cenário de seca, considerada a maior dos últimos anos. Com a colaboração de todos vamos atravessar esse momento difícil”, analisa. 

Situação parecida em três estações da Epagri 

Abaixo você confere o mapa do negativo acumulado em três estações do sul catarinense. De acordo com o climatologista da Epagri de Urussanga, Márcio Sônego, a cidade de Criciúma está com problema no sensor de vento, usado para calcular a evapotranspiração, e então não faz o cálculo completo. Por isso, não aparece no mapa.


Fonte: Epagri  

Municípios decretam situação de alerta devido à estiagem

Morro da Fumaça, Cocal do Sul e Lauro Müller decretaram situação de alerta no sistema de abastecimento de água. A estiagem que afeta o sul catarinense tem ocasionado a diminuição dos níveis de água nos reservatórios do município.
 
Entre as medidas previstas no Decreto 84/2020 de Morro da Fumaça está a proibição da utilização de água fornecida pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) para abastecimento e substituição de água de piscinas, para lavagem de veículos em geral, utilização de lava jatos de uso doméstico, bem como lavagem de calçadas, telhados e similares por 30 dias ou até que se restabeleça a normalidade de abastecimento de água. “Estamos preocupados com a situação da estiagem que afeta não só Morro da Fumaça, mas várias cidades da região. Este decreto nos ajuda a traçar novas estratégias para garantir o abastecimento”, diz o prefeito, Noi Coral.

Já em Lauro Müller, o decreto 88/2020 regra a proibição de uso para atividades específicas, com objetivo de evitar consumo desregrado e desperdícios. "Por força do decreto, fica proibido durante o período de estiagem, o uso de água tratada e canalizada em atividades promotoras de desperdício, como lavagem de carros, muros, calçadas, passeios públicos e pátios de imóveis, além de irrigação de gramados e jardins. A proibição alcança, ainda, o resfriamento de telhados com umectação e umectação de vias públicas, exceto quando a fonte for o reuso de águas residuais tratadas", avisa a prefeitura em nota.


Foto: Divulgação/Prefeitura de Morro da Fumaça
 
União de esforços para enfrentar a crise em Morro da Fumaça

O Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), a Defesa Civil e a Secretaria do Sistema de Infraestrutura têm trabalhado constantemente nos últimos meses para evitar que os fumacenses fiquem sem água. “Como os rios que abastecem a Estação de Tratamento de Água (ETA) estão muito secos, o trabalho do Samae é intenso para garantir que não falte água. Não está sobrando, então precisamos tomar medidas, como proibir o uso de água tratada para lavar carros, calçadas, irrigação, entre outros”, acrescenta o coordenador municipal da Defesa Civil, Natan de Souza.
 
O decreto prevê, entre outras coisas, a disponibilização de veículos da frota municipal como caminhões-pipa para uso prioritário no transporte de água para tratamento e abastecimento para localidades e propriedades rurais. “Os órgãos municipais envolvidos têm feito um grande trabalho há meses, sempre com planejamento e ações. Um exemplo é o Samae, que já trabalhava constantemente antes desta estiagem, sempre monitorando e buscando novas fontes de água para garantir o abastecimento da cidade", fala o vice-prefeito, Eduardo Sartor Guollo.

Advertências e multas em Morro da Fumaça 

Souza lembra ainda que o decreto adverte à população sobre o uso racional e controlado de água tratada durante o período em que perdurar a situação de alerta. Durante este período, o uso supérfluo ou o desperdício de água ocasionará notificação e advertência formal e, no caso de reincidência, aplicação de multa dez vezes do valor da tarifa mínima relativa à categoria do imóvel. “Estamos seguindo o modelo do decreto de Cocal do Sul, que é das cidades da região que mais está sofrendo com a estiagem”, completa.

O diretor-presidente do Samae, Rogério Sorato, diz que o órgão, em parceria com a Defesa Civil municipal, vem monitorando diversos pontos desde dezembro do ano passado para captar água na busca por amenizar os problemas ocasionados pela estiagem. “Fizemos licitações de tubos e outros materiais para realizar a coleta e agora é o momento de colocar estas ações em prática para evitar o racionamento de água”, destaca.

Nova captação de água do Samae já está em funcionamento em Morro da Fumaça 

Com a estiagem que afeta a região, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Samae), de Morro da Fumaça acelerou ainda mais as obras para captar água em um novo local, garantindo o abastecimento na cidade. A água está sendo coletada em lagoas antigas que foram utilizadas para extração de areia.

Devido à falta de chuva, o Rio Vargedo, onde está a principal captação do Samae, diminuiu a vazão de 140 metros cúbicos por hora para 30 metros cúbicos por hora. “É um grande déficit que o Samae e os outros departamentos buscam suprir para que assim não falte água para ninguém. Este trabalho constante evita a necessidade de racionamento. Com cada um dando a sua contribuição, utilizando a água com economia, vamos tentar não fazer racionamento”, enfatiza o vice-prefeito.

Cocal do Sul também enfrenta situação de emergência

Há mais de 15 dias, o município de Cocal do Sul decretou situação de emergência em razão do longo período de estiagem. A decisão foi tomada numa reunião na Prefeitura  que reuniu secretários de Obras e Administração, Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) e coordenadoria da Defesa Civil municipal e estadual. A falta de chuvas vem comprometendo o sistema de abastecimento de água, diminuindo o nível dos três reservatórios que abastecem a cidade. Após negociação entre a Prefeitura de Cocal do Sul e a Casan, parte do município deve começar a ser abastecido com água do Rio São Bento.

Em Cocal do Sul, os três reservatórios utilizados para abastecimento do município, localizadas junto ao Rio Tigre, Rio Cocal e a Represa Demaria Eugenito Rosso, estão com níveis abaixo da capacidade.

Conforme o diretor do Samae, Marcio Zanetti, a situação no município é crítica e os volumes hídricos estão abaixo da normalidade. “Estamos tratando 20 litros de água por segundo e o normal é 390 litros, ou seja, um volume bem abaixo do esperado. Estamos há mais de 30 dias realizando ações para ajudar a população do município”, destaca. 

Segundo Zanetti, a Samae está realizando um rodízio no abastecimento de água para que a população não seja tão afetada. “Quem está mandando no cronograma são os mananciais. Quando manda mais água conseguimos tratar e reservar mais. Ficou muito complicado manter o cronograma porque às vezes não conseguimos cumprir o que prometemos e trabalhar aleatoriamente”, explica. “Há mais de 50 anos não se via uma estiagem deste tipo no município. Em 2012, passamos por um período de estiagem, mas não se compara ao que estamos enfrentando em 2020”, completa. 


Foto: Divulgação/Prefeitura de Cocal do Sul 

Ações realizadas na cidade 

De acordo com o diretor da Samae, Marcio Zanetti,  cinco caminhões pipas estão captando água de mananciais em torno de Cocal do Sul. “A água é colocada dentro da própria estação do município. Em torno de mil metros cúbicos em 24 horas. O consumo de Cocal do Sul é de 3,5 milhões de metros cúbicos ao mês”, afirma. “Estamos atendendo com caminhões pipas o interior da cidade para ajudar com a agricultura”, acrescenta. 

Zanetti explica que profissionais especializados em topografias estão estudando alguns locais como a Barragem da Linha Tigre. “Vamos entrar com a ampliação da capacidade de reservação na barragem do município. Isso é de médio para longo prazo e já estamos trabalhando nesse projeto”, declara.

Criciúma: governo municipal criará um comitê em virtude da estiagem

A cidade de Criciúma terá um comitê de gerenciamento de crise em razão da estiagem. A ação será composta pela Prefeitura, Defesa Civil, Fundação de Meio Ambiente de Criciúma (Famcri) e Epagri e as instituições estarão unidas para buscar informações sobre a seca na cidade para que as medidas sejam tomadas. Uma reunião deve acontecer nestaquinta-feira, dia 4. 

Segundo a agrônoma da Gerência e Agricultura de Criciúma, Fabiane Barbosa, cerca de dez agricultores já entraram em contato com a prefeitura para informar a dificuldade com a estiagem. “Toda a cidade é atendida pela Barragem do Rio São Bento, porém os agricultores não pegam água da Casan, pois o custo é elevado e eles possuem poço artesiano, entretanto está secando. A dificuldade é principalmente com água para o gado e para agricultura”, pontua.

Conforme Fabiane, Criciúma possui um caminhão pipa para a agricultura, porém a demanda está grande e o comitê será criado para auxiliar os agricultores. 

 

Em Santa Catarina, os prejuízos também são contabilizados 

Em entrevista coletiva ainda em abril, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) informou que a estiagem já provocou queda de 1% na produção agrícola em território catarinense. O impacto maior está na produção de milho, com redução de 10% da produção, e de feijão, que já apresenta queda de 7%, mas o resultado pode ser maior após o término da segunda safra.

Os dados são da analista da Epagri/Cepa, Gláucia de Almeida Padrão. “Até agora foi computada uma perda de até 10% na produção de milho em comparação com o ano passado, mas pode se agravar porque a segunda safra está muito ruim. No feijão, temos apontado cerca de 7% de perda, mas com risco de piorar porque a segunda safra, plantada a partir de janeiro, está sofrendo muito com a estiagem”, pondera.

A segunda safra da soja sofreu quase 20% de perda na produtividade em algumas regiões catarinenses. Já a produção de tomate e batata sofreu uma redução estimada em 30%.

Para especialista, crise da estiagem produz alerta sobre as políticas ligadas aos recursos hídricos

*Por Thiago Hockmüller 

Desde o ano passado, Santa Catarina vem sendo castigada pela estiagem. Estima-se que 1% do total da produção agrícola tenha sido comprometida, levando prejuízo, sobretudo, para lavouras de milho, soja e feijão. Recentemente, o doutor em Ciências Ambientais, também jornalista e professor, José Carlos Virtuoso, produziu um artigo sobre o assunto. Ele é ex-presidente e atual membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga e possui um amplo conhecimento sobre a área de gestão hídrica. 

Segundo Virtuoso, os municípios precisam promover uma política de segurança e gestão hídrica local, conduzindo os órgãos responsáveis pela captação e distribuição a um planejamento de longo prazo e criando gestões locais. 


Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus 

“Os cuidados com a água ficam afeitos às agências de saneamento – Casan ou Samae -, que são responsáveis por gerir a captação, tratamento e distribuição da água. São órgãos executores, sem uma relação mais aprofundada com a questão hídrica, cujo grau de complexidade vai muito além da capacidade desses entes”, argumenta.   

O problema não é ocasionado unicamente pela falta de chuva, que é uma das consequências decorrentes das mudanças climáticas. Mas também pela forma como os gestores públicos entendem o tema, ao qual não dão o devido tratamento estratégico pela sua importância socioeconômica, que seria promover localmente a sua gestão. 

José Carlos Virtuoso
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Estratégia e aproximação

Virtuoso explica que no Brasil esta demanda é regida pela Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei 9.433/1997. Isto abrange as esferas federal e estadual, de onde derivam os comitês das regiões hidrográficas. No sul catarinense são três: os comitês do rio Tubarão e Complexo Lagunar, do rio Urussanga e Araranguá/Mampituba. 

Para Virtuoso, os comitês desempenham importante papel junto aos municípios, com ações que buscam avançar e estreitar o relacionamento com a gestão pública, para fortalecer a dinâmica de conscientização e valorização dos recursos hídricos. Apesar disso, a resposta não tem sido efetiva. “Ocorre que esses órgãos têm um papel amplo em relação às bacias, mas não atuam de forma orgânica nos municípios, onde efetivamente se estabelecem as dinâmicas do território - os usos e ocupação do solo e os múltiplos usos da água, cuja relação é contínua e interdependente”, explica.

Para exemplificar, ele lembra a importância da barragem do rio São Bento que efetivamente é utilizada, desde os anos 1990, para socorrer municípios da região. Uma ação paliativa e emergencial, mas que não alterou o sistema de políticas hídricas no âmbito municipal.

"Embora os comitês sejam muito atuantes nas bacias hidrográficas, não ocorre a extensão das políticas hídricas em âmbito local, em cada município. Daí, o grande risco de colapso do sistema hídrico em vários municípios. A grande questão é que só se atacou o efeito colateral do mau uso da água - ou seja, a poluição e outras ações que comprometem o sistema hídrico, como o desmatamento. A causa não foi resolvida”, explica.

Diante desse quadro, urge a superação do modelo atual, com as lideranças políticas e econômicas passando a compreender que a água é um elemento central nas dinâmicas da cidade, com sua importância social e igualmente imprescindível à economia. Nenhum município pode prospectar seu futuro econômico se não souber da sua disponibilidade hídrica. 

José Carlos Virtuoso
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Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus 

E a chuva? 

Segundo o climatologista da Epagri de Urussanga, Márcio Sônego, ainda nesta semana deve chover na região Sul de Santa Catarina. “Na quinta e sexta-feira [dias 4 e 5 de junho] os gráficos prometem boa chuva. Será em torno de 30-40mm que melhora muito a molhação da terra para lavouras, pastos, jardins e alivia o curso de águas (rios). Não repōe tudo, mas ajuda muito”, garante. 

Para concluir, um pedido especial: veja dicas que vão melhorar a economia de água, além de evitar o desperdício:

- Respeite a capacidade do imóvel: Se uma residência foi projetada para seis pessoas, sua capacidade de abastecimento de água também está dimensionada para essa ocupação.

- Evite alugar o imóvel para um número de hóspedes superior ao seu limite.

- A reserva domiciliar é fundamental para evitar a falta de água em uma residência. Para definir o tamanho da caixa de água, considere 200 litros por dia por pessoa. E lembre-se: se você aluga seu imóvel, ou recebe muitos familiares, é importante aumentar a reserva.

- Cheque vazamentos e não deixe torneiras pingando. Um gotejamento simples, pode gastar cerca de 45 litros de água por dia.

- Antes de lavar pratos e panelas, limpe os restos de comida com uma escova, toalha de papel, guardanapo ou esponja e jogue no lixo.

- Deixe pratos e talheres de molho antes de lavá-los. Ensaboe toda a louça e depois enxágue todas as peças.

- Aproveite a água da chuva para aguar as plantas e o jardim. As plantas absorvem mais água em horários quentes. Opte, portanto, por regar as plantas de manhã cedo ou no fim do dia.

- Em vez da mangueira, use vassoura e balde para lavar pátios e quintais. Uma mangueira aberta por 30 minutos libera cerca de 560 litros de água.

- Reaproveite a água da sua máquina de lavar para lavar a calçada.

- Feche a torneira quando estiver escovando os dentes ou fazendo a barba. Uma torneira aberta por 5 minutos desperdiça 80 litros de água.

- Não tome banhos demorados. Uma ducha durante 15 minutos consome 135 litros de água.

- Saber ler o hidrômetro é muito simples e pode ajudar a detectar problemas como vazamentos, percebidos pelo consumo fora do normal.

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