Por Rafaela Custódio - rafaela.sousa@engeplus.com.br
Em 05/06/2025 às 10:22O que é ser diferente? Cada pessoa deve responder com sua perspectiva de vida, de história e como enxerga o mundo. A verdade é que o diferente para uns pode ser o normal para outros e, por isso, o mundo é tão diversificado. Imagine um universo com mais de 8 bilhões de pessoas e todas iguais? É algo difícil de imaginar, não é mesmo? E, mesmo assim, quando alguém é diferente de nós soa como estranho. A verdade é que estranho é quem não enxerga além do diferente.
Um mundo tão tecnológico, com todas as informações na palma da mão e o mundo inteiro na tela de um celular, faz com que as pessoas que queiram ler um livro, busquem informações por outros meios, possam ser taxadas de diferentes. Crianças que não gostam de super-heróis, mas sim, de mitologia grega, estudantes que não possuem boas notas na prova escrita, mas sabem o conteúdo como ninguém, são pessoas diferentes ou são pessoas superdotadas e que precisam ser vistas como realmente elas são? A resposta você encontra ao longo desta reportagem.
O Portal Engeplus conta a partir de agora histórias, relatos e detalha um projeto em Criciúma que recebe crianças e adolescentes superdotados.
Afinal, o que é a supertodação?
Pensamento rápido e apurado, vocabulário amplo, talento para resolver equações, criatividade extrema, raciocínio avançado, foco e atenção precisos e alta sensibilidade. Essas são algumas das características das crianças superdotadas. Habilidades incluem aptidão para atividades intelectuais, artísticas ou esportivas que parecem inatas, uma vez que essas pessoas apresentam tais características sem que se possa explicar como aprenderam.
No Brasil, de acordo com o Censo Escolar 2020, há 24.424 estudantes com perfil de altas habilidades/superdotação matriculados na educação especial, mas o número real pode ser ainda maior.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que 5% da população têm algum tipo de alta habilidade ou superdotação. Segundo o Ministério da Educação (MEC), se forem considerados os mais de 47 milhões de alunos da educação básica (Censo Escolar, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2020) cerca de 2,3 milhões de estudantes devem compor esse grupo.
Segundo o neurologista infantil, Gabriel De Lellis Neto, existem alguns sinais que podem sugerir que a criança é superdotada como desenvolvimento precoce da linguagem, da escrita e da leitura, desempenho avançado em algumas atividades acadêmicas (o mais evidente é a matemática, as crianças geralmente aprendem alguns cálculos por conta própria antes da escola ensinar) ou não acadêmicas, como, por exemplo, grandes habilidades musicais ou para desenhar.
“Um sinal que os pais observam é que a criança reclama geralmente de ter que fazer sempre o mesmo na escola, mostrando que já aprendeu aquilo e muitas vezes se frustrando por ter que repetir. O Departamento de Educação dos Estados Unidos descreve que são crianças ou jovens que apresentam desempenho ou potencial em níveis notavelmente altos em comparação a outros de sua idade, experiência ou ambiente. Os pais percebem que a criança muitas vezes tem interesse em coisas que não seriam para sua faixa etária, por vezes se interessando mais pela interação com crianças mais velhas, às vezes as crianças acabam tendo uma tendência de brincar mais sozinhas ou ficam focados em seus próprios interesses sem dar tanta atenção aos pares”, detalha o neurologista infantil.
O médico ainda explica sobre os testes feitos com as crianças. “Geralmente o diagnóstico é suspeitado pela escola e o paciente é encaminhado para realizar testagem psicométrica. Cada idade tem uma escala mais indicada, na maioria das vezes a mais utilizada é a Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC). Ela é aplicada em crianças entre os 6 e os 16 anos. Levando em conta o Quociente de Inteligência (QI), as crianças são consideradas superdotadas quando atingem pontuações acima de 130”, explica.
Quociente de inteligência
O neurologista infantil comenta que as crianças superdotadas com QI acima de 130, mas menor que 160, tem boas capacidades sociais. “Quanto maior o QI maiores são as discrepâncias com os demais e algumas questões ficam mais evidentes. Socialmente as crianças superdotadas tendem a ser perfeccionistas, muitas vezes apresentando ansiedade, dificuldade de aceitar o fracasso e são muito autocríticas. Também tendem a vivenciar as emoções intensamente, por vezes reagindo a situações que não causam efeito nos colegas. Um exemplo é uma criança que fica triste ou chora quando descobre sobre a pobreza mundial ou de algum país específico. Além disso, podem ficar mal-humorados com maior facilidade quando não conseguem atingir seus objetivos ou perseguir aquilo que é de seu interesse”, afirma.
Neto ainda comenta que a medida que o QI fica mais alto, é cada vez mais difícil que a criança tenha uma estimulação acadêmica apropriada ou encontre um grupo de crianças semelhante, às vezes levando a sensação de isolamento social. “A supertodação pode vir acompanhada de outros transtornos, incluindo Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro Autista (TEA), transtornos de comportamento e inclusive transtornos de aprendizagem como a dislexia, por exemplo. Nada impede uma criança ter um QI de 160 e ter dificuldades na alfabetização por um quadro de dislexia”, garante.
O neurologista infantil ainda trouxe elementos para ajudar como pais e escolas podem estimular adequadamente uma criança superdotada sem causar sobrecarga emocional. “Essa é uma questão bem difícil. Geralmente é indicada uma avaliação multidisciplinar envolvendo a psicologia, pedagogia e neuropsicopedagogia para criar um plano de ensino adaptado ou direcionado para as questões de maior interesse ou habilidade da criança. Em muitos casos se opta por pular uma ou duas séries escolares, às vezes sugerindo que a criança participe de atividades extracurriculares com crianças mais velhas ou que também apresentem superdotação. Quanto aos pais, a ideia é não exigir demais da criança, não colocar metas como ser um cientista, astronauta ou algo que a criança não tenha interesse. Muitas vezes as crianças acabam se frustrando por não atingir aquilo que os pais almejaram para elas, o que piora muito os índices de ansiedade e depressão nessa população. O papel da família é tentar oferecer um ambiente que estimule a criança a estabelecer metas realistas, focar no processo e não no resultado e valorizar as lições aprendidas com os erros”, frisa.
Superdotação é uma condição caracterizada por habilidades acima da média e desempenho notável em uma ou diversas áreas de conhecimento.
Capacidade intelectual geral
Aptidão acadêmica específica
Pensamento criador ou produtivo
Talento para as artes
Capacidade psicomotora
Conforme a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), existem mitos sobre a superdotação e precisam ser esclarecidos:
Mitos
Todo superdotado é um gênio.Superdotados têm um perfil físico ou social específico.
A superdotação intelectual garante sucesso na vida.
Superdotados devem ter desempenho excepcional em tudo.
Famílias não devem ser informadas sobre a superdotação.
Superdotados não precisam saber de suas habilidades.
A superdotação é um transtorno.
A superdotação é rara e pouco comum.
Superdotados não precisam de atendimento especializado.
QI alto é o único indicador de superdotação.
Criativos-produtivos são menos inteligentes que os acadêmicos.
A superdotação está restrita a classes socioeconômicas privilegiadas.
Criciúma
A cidade de Criciúma conta com o Projeto Gifted, que está localizado no Centro de Inovação Criciúma (Crio). O local tem o objetivo de desenvolver as habilidades de estudantes com alto rendimento intelectual, artístico, espacial, corporal-cinestésico, intrapessoal e interpessoal atendendo às necessidades educacionais específicas por meio de suplementação, respeitando o ritmo acelerado de aprendizagem de cada criança.
O projeto iniciou por meio da Associação Beneficente Happy Face, que é uma incubadora de programas e projetos. Desde sua fundação em 2014 até 2018, a Organização da Sociedade Civil (OSC) focava na facilitação da língua portuguesa para imigrantes e refugiados.
A partir do ano de 2019, com a mudança de estatuto, a organização avançou para a expansão de projetos voltados para crianças e adolescentes. Elaborou-se, então, o Programa Happy Renascer, desenvolvido para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, no bairro Renascer, em Criciúma. O programa é desenvolvido em um espaço próprio da organização, onde acontecem atividades de dança, teatro, contos de história baseados em princípios educacionais para a vida e atividades físicas. Desse projeto, outros nasceram, como o Gifted.
Gifted e a mudança para os alunos
O Gifted iniciou em 2022 e foi idealizado para crianças e adolescentes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), é um projeto voltado para estudantes das redes municipal, federal e privada. No local, são aplicadas atividades que promovem a curiosidade, diálogo e relacionamento interpessoal em pequenos grupos de desenvolvimento.
A presidente da Associação Beneficente Happy Face, Ana Lúcia Berndt da Luz, explica como nasceu o Gifted e suas ações.
Ana Lúcia também detalha a situação das crianças e adolescentes superdotados que não possuem o atendimento adequado. “Quando não possuem um acompanhamento, elas entram em sofrimento, e esse sofrimento, geralmente, vai se revelar em casa, mas também na escola. A escola, infelizmente, não está preparada para essas crianças, porque a escola tem um padrão e essas crianças não estão nesse padrão. Então, se elas não são compreendidas e não são atendidas nas suas necessidades, muitas vezes não são bons alunos, às vezes incomodam em sala de aula, entram num estado de sofrimento e de ansiedade muito grande e os pais percebem que tem algo errado. Quando elas chegam para a gente na adolescência, normalmente elas já passaram por três ou quatro escolas, que não conseguem compreender. Então, é preciso realmente um trabalho de muita conscientização para que essas crianças sejam identificadas e atendidas”, observa.
A psicóloga e coordenadora do Gifted, Ana Paula Hilário, detalha como a instituição identifica as crianças superdotadas. “Geralmente recebemos o encaminhamento das escolas ou de alguns outros profissionais de saúde que percebem esses indicadores, porque as crianças começam a apresentar algo diferente das outras da mesma faixa etária. Então a gente fala que são alguns indicadores. Recebendo o encaminhamento com esses indicadores, a gente faz avaliação neuropsicológica a partir da entrevista com os pais, testes psicológicos padronizados, avaliamos a inteligência e todos os domínios cognitivos. Avaliamos, ainda, a questão socioemocional. A gente avalia a criança na escola, como é a criança na família e também se houver outras atividades que a criança faz também acompanhamos”, conta.
Ana Paula também explica sobre os indicadores da superdotação e traz dicas aos pais. Mas ressalta que adultos também podem realizar testes.
Atualmente, são atendidas 80 crianças de cidades da Região Carbonífera. No local, são ofertadas oficinas, avaliações e outras atividades. “Se o aluno chega com avaliação neuropsicológica feita por um profissional externo e está comprovada, está identificando a condição de outras habilidades, ele entra para as oficinas de enriquecimento curricular, onde a gente tem oficinas de diversos temas. E aí ele vai escolher até duas oficinas do seu interesse, sempre no contraturno escolar. Ele pode fazer até duas oficinas durante a semana, em qualquer período. Caso ele chegue sem avaliação, nós vamos fazer a avaliação neuropsicológica e depois, se for positiva, encaminhar essa criança ou adolescente para as oficinas de enriquecimento curricular. A avaliação a gente faz de 6 anos a 15 anos e 11 meses, então quando chega a pedido de avaliação para crianças abaixo de 6 anos, procuramos investigar o porquê daquela avaliação, ou seja, se está trazendo prejuízo para ela ou se é uma vontade dos pais, porque assim, a gente vai acabar tendo que repeti-la após os 6 anos”, frisa.
Qual a importância do Gifted?
Para a psicóloga, os alunos perceberem que possuem outras pessoas que eles se identificam é importante para eles. Além disso, Gifted atua de forma diferente das escolas. “Eles conseguem se encaixar, se perceberem, se conhecerem, estarem com seus pares, porque o nosso objetivo maior é ser diferente de escola, que tem um conteúdo padronizado. Então é uma questão de rotina repetitiva e eles gostam sempre de estar à frente, da curiosidade, de coisas diferentes, de estarem investigando, estarem pesquisando. Então, o objetivo é ser diferente da sala de aula. Aqui, eles podem sair dessa caixinha, eles podem ir além, podem buscar por temas de seu interesse, eles podem procurar mais curiosidades e o que eles mais sentem vontade de aprender”, ressalta.
A Prefeitura de Criciúma possui um convênio com a Gifted, que atende alunos da rede municipal de ensino. O prefeito Vagner Espindola explicou detalhadamente como surgiu a parceria e também sobre como o governo enxerga os alunos.
A gerente de assuntos educacionais específicos da Secretaria de Educação, Andreia Berto, explica que após o processo de rastreamento realizado na rede municipal de Criciúma, os estudantes com indicativos de superdotação são encaminhados à HappyFace — entidade parceira do município, especializada na avaliação e estimulação desses perfis. “Confirmada a presença das características de superdotação, as crianças iniciam sua participação em oficinas temáticas de acordo com seus interesses, como robótica, inglês, artes e bioventura. Essas oficinas contribuem significativamente para o desenvolvimento e a potencialização das habilidades cognitivas, sociais e emocionais dos estudantes, refletindo positivamente em seu desempenho escolar. Atualmente, 20 crianças do município frequentam semanalmente a instituição, além de 10 outras que estão em fase de investigação”, comenta a gerente.
Para a secretária de Educação de Criciúma, Geovana Benedet Zanette, os professores desempenham um papel essencial na identificação de estudantes com superdotação. “Eles convivem diariamente com os alunos e podem perceber sinais que indicam um potencial diferenciado. Crianças com superdotação costumam apresentar uma combinação de características cognitivas, criativas, sociais ou específicas em determinada área do conhecimento e precisamos estar atentos”, ressalta.
Geovana lembra que no aspecto cognitivo, esses estudantes demonstram grande facilidade para aprender, memorizam informações com rapidez, possuem um vocabulário avançado para a idade e são movidos por uma curiosidade intensa. “Frequentemente buscam explicações aprofundadas, gostam de resolver problemas complexos e fazem conexões entre conteúdos de diferentes áreas. Também é comum terem interesse por temas pouco explorados por crianças da mesma faixa etária”, detalha.
“Do ponto de vista criativo, esses alunos mostram originalidade em suas ideias, imaginação fértil, pensamento ‘fora da caixa’ e facilidade para expressar-se por meio da arte, escrita ou invenções. Social e emocionalmente, podem apresentar uma empatia acima da média, sensibilidade acentuada, preocupação com questões sociais e ambientais, além de preferirem, muitas vezes, interações com adultos ou colegas mais velhos”
Geovana Benedet Zanette, secretária de Educação de Criciúma.
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Andreia explica que muitos alunos com superdotação possuem habilidades de liderança, organizando atividades, influenciando positivamente os colegas e demonstrando boa capacidade de argumentação. “Outros ainda se destacam em áreas específicas como música, esportes, artes, tecnologia ou lógica, demonstrando desempenho elevado e dedicação a essas atividades, muitas vezes por iniciativa própria, mesmo sem orientação formal”, frisa.
“É importante lembrar que nem todos os estudantes com superdotação se destacam nas notas ou no comportamento tradicionalmente valorizado na escola. Alguns podem apresentar sinais de desmotivação, desinteresse ou até mesmo dificuldades de socialização, justamente por não se sentirem desafiados ou compreendidos. Por isso, é fundamental que os professores observem com sensibilidade e estejam atentos às diversas formas de manifestação do potencial dos alunos, valorizando seus talentos e buscando apoio da equipe pedagógica para os encaminhamentos necessários”.
Andreia Berto, gerente de assuntos educacionais específicos da Secretaria de Educação.
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Alunos
Isac Tramontin Fernandes, de 11 anos, frequenta o Gifted. Morador de Criciúma, ele é apaixonado por humanas, ciências e história. Sem herói preferido, mas se for para citar um, opta por Doutor Estranho. Atualmente, gosta de ler sobre mitologia grega e já se interessou por astronomia, biologia, pré-história e até dinossauros.
“A mitologia grega é tão extraordinária, mas tão nada a ver também, porém, estou lendo muito sobre o assunto porque descobri uma coleção e sou apaixonado por leitura. Então estou buscando todos os detalhes e histórias sobre isso”, conta.
Ele participa da oficina de bio aventura e durante uma aula fora da sala de aula descobriu novas espécies em Criciúma. “Descobri que a cidade está cheia de animais e ninguém sabe, como tatu-galinho, puma, graxaim, gambá de orelha branca e preta, mão pelada, furão selvagem e lontra”, detalha.
O aluno descobriu diversas outras crianças iguais a ele no Gifted. “Descobri que tem muita gente igual a mim, que eu não conhecia, e eles são parecidos comigo, que são pessoas diferentes da minha sala de aula. Somos diferentes, porque nos lembramos de coisas que aconteceram há quatro anos, mas não lembramos do que almoçamos ontem”, exemplifica.
A mãe de Isac, Daniele Tramontin Fernandes, acompanha o filho nas oficinas e conta como percebeu a diferença dele para outras crianças. Além de Isac, ela também é mãe de Josué, que também está frequentando o Gifted. “Desde pequeno, estimulei bastante eles com desenhos, com brinquedos didáticos e percebi mais com o Isac quando ele começou a ter interesse pelas letras e por ler. O Isac via as figurinhas e perguntava as sílabas, estava alfabetizando o Josué com 6 anos, o Isaac tinha 4 anos, e ele começou a pedir para juntar as sílabas e comecei a perceber esse interesse dele”, recorda.
“Ele começou a ler antes que o irmão mais velho. Ele tem muita curiosidade por conhecimento, tudo que é curioso, tudo que é de humanas, tudo que é de geografia, ele gosta de ler e gosta de assistir. Então, ele tem interesse por conhecimento. Também vi facilidade neles na música. E vir aqui no Gifted faz com que eles encontrem crianças que têm a mesma noção que eles, o mesmo jeitinho deles dessa curiosidade diferente, de ser diferente, que às vezes se acha um pouco diferente dos demais alunos da escola”, comenta.
“Coragem não é ausência de medo”
A mãe de Josué e Isac conta que sempre enche os dois filhos de coragem e possui uma frase sempre dita em casa. “‘Coragem não é ausência de medo’ e quando a gente quer alguma coisa, mesmo com medo, a gente vai. Então a gente se enche de coragem e vai, porque a gente vai conseguir. Todo mundo consegue o que quer, mas precisa de determinação e tento passar isso para eles diariamente”, afirma.
Como é ser mãe de crianças superdotadas?
Para Daniele, ser mãe de dois meninos superdotados é um privilégio. “Todo mundo tem potencial, sim. A gente só tem que instigar, a gente tem que ajudar, desenvolver o potencial em si. Me senti privilegiada por estimular também desde pequenininhos. Eu sempre estimulei eles a usar todo o cérebro. Não dou respostas prontas, eles têm que ir atrás da resposta. Isso estimula eles buscarem mais, ter sede por conhecimento. Acho que é igual a toda mãe, a questão é que a gente tem que se dispor de tempo. Tempo de qualidade, ou seja, sentar, ouvir de verdade. Como às vezes estou ocupada, eu falo assim, ‘espera um pouquinho’ e quando paro dou atenção de verdade. Às vezes nem estou entendendo direito, mas assim, tentar entrar no assunto e estimular eles a seguir, a conhecer as coisas boas da vida. Tenho certeza que se eu cheguei até um patamar, eles vão voar muito mais que eu”, afirma.
Já o morador do bairro São Defende, em Criciúma, o venezuelano José Antônio Gonzalez, de 11 anos, frequenta o Gifted há um ano e já tem sua meta traçada para o futuro: virar um empreendedor.
“Moro com meus pais e meus dois irmãos. Tenho uma rotina bem definida, estudo pela manhã e também frequento o Gifted. O que mais me chama atenção e o que gosto de aprender é sobre empreendedorismo. Estou estudando e buscando ter uma empresa de perfumes. Tudo iniciou com o dinheiro que a minha mãe me dá mensalmente porque ajudo nas tarefas de casa. Com isso, comecei a guardar, comprei alguns perfumes e já revendi. Mas meu objetivo é criar minha própria fragrância e também as embalagens”, detalha.
Gonzalez conta que lê muito sobre empreendedorismo na internet. “Me interesso muito sobre esse assunto e faço oficina aqui na Gifted sobre esse tema, de como cuidar do dinheiro da empresa, os pontos fortes e fracos. Todos os detalhes de uma empresa aprendo e quero levar para a minha vida e abrir meu próprio negócio. Já é algo da família, pois meu tio possui uma loja de celulares. Porém, meu pensamento não é só ter uma loja de perfumes e, sim, diversas empresas”, projeta. O estudante ainda faz jiu-jítsu.
Assim como José, Lucas Zeferino Uggioni, de 14 anos, é natural de Criciúma e iniciou no Gifted neste ano e gosta de empreendedorismo. “Conheci o projeto a partir de uma professora, que me indicou para fazer o teste para saber o meu Quociente de inteligência (QI) e aí a partir disso eu entrei no Gifted. Frequentar este projeto tem me ajudado, pois tenho aprendido muitas coisas, pois participo das oficinas de empreendedorismo e raciocínio lógico. Essas oficinas abriram um leque maior no meu modo de pensar porque são coisas novas que não se aprendem na escola normalmente”, frisa.
O adolescente ainda criticou o método utilizado em escolas, afirmando que são utilizados para todos de forma igual, porém os alunos são diferentes. Lucas foi convidado pelo Colégio Satc para participar de um projeto de Olimpíada Brasileira de Robótica.
“É outra maneira de ver o mundo”
Aluna do Gifted há um ano, Livia Presa, de 14 anos, é moradora de Criciúma e conta que mudou sua perspectiva de enxergar o mundo depois que descobriu ter superdotação. “Ao descobrir a superdotação foi uma coisa que mudou a minha vida. No início chorei muito, porque parecia que finalmente as coisas estavam se encaixando. Mas o que eu mais me perguntava mesmo era como que ninguém tinha percebido? E eu ficava tão mal porque é outra maneira de ver o mundo e acaba que tu se sente excluída. Aqui no Gifted eu consegui ter contato com pessoas com essa mesma condição e consegui entender melhor como que eu funcionava e também fazer novas amizades”, declara.
A estudante revela que ama ir ao Gifted para conversar e também gosta de ler e escrever. “Gosto muito dos exercícios, de usar a minha mente. Aqui foi um lugar que consegui desenvolver meu lado criativo. Estou pensando em ir para área da engenharia, pois gosto de matemática”, afirma. Ela ainda mandou um recado para outras pessoas:
Reconhecer e valorizar as crianças superdotadas é um passo fundamental para garantir que seu potencial seja plenamente desenvolvido. Mais do que altas habilidades cognitivas, essas crianças carregam sonhos, sentimentos e necessidades que merecem atenção, acolhimento e estímulo adequado. Investir em educação diferenciada, ambientes desafiadores e apoio emocional não é apenas um dever da escola e da família — é um compromisso com o futuro. Afinal, quando suas capacidades são bem direcionadas, o brilho dessas mentes pode transformar realidades e inspirar o mundo.
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