Matéria especial

Escola de Lideranças Comunitárias: o futuro começa hoje dentro das salas de aula da Unesc

Projeto da Universidade do Extremo Sul Catarinense iniciou em maio deste ano

Por Rafaela Custódio -

Em 27/10/2023 às 10:05
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Foto: Especial Engeplus

Um projeto social que visa o futuro dos bairros de Criciúma. Assim nasceu a Escola de Lideranças Comunitárias, uma parceria entre Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e União das Associações de Bairros de Criciúma (UABC). O objetivo é capacitar líderes comunitários para que eles possam ajudar suas localidades e crescerem como gestores. 

A Escola iniciou suas atividades em junho de 2023 e a iniciativa é gratuita, com aulas mensais, aos sábados pela manhã, das 8 às 12 horas, na Unesc. O projeto foi dividido em sete módulos e o conteúdo abrange temas como políticas públicas e participação popular (conceito, formação, avaliação); organização do Estado, Município, proteção ao meio ambiente e sustentabilidade; Sistema Único de Saúde (SUS), educação e assistência social (SUAS), gestão de pessoas e comunicação assertiva, Lei Geral de Proteção de Dados, comunicação interpessoal, produção de conteúdo para redes sociais, projetos de captação de recursos, planejamento e finanças pessoais e inclusão econômica.


Legenda: Alunos da Escola de Lideranças Comunitárias em aula na Unesc. 

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“A Escola de Lideranças Comunitárias tem como objetivo capacitar as lideranças dos bairros de Criciúma em temas úteis e necessários para o exercício de uma gestão democrática e participativa, a fim de que percebam o seu papel fundamental no desenvolvimento social das comunidades e na representatividade que exercem. Atualmente, em Criciúma, participam em média 60 pessoas a cada aula”, explica Sheila Martignago Saleh, coordenadora da Escola de Lideranças Comunitárias e assessora da Diretoria de Extensão, Cultura e Ações Comunitárias da Unesc.

A presidente da União das Associações de Bairros de Criciúma (UABC), Andreia Zomer, comenta que a Escola de Lideranças Comunitárias é a realização de um sonho para os líderes comunitários. “A Unesc sempre esteve interessada em ajudar a comunidade e, em conversa com membros da Universidade, foi questionado sobre o que eles poderiam fazer para ajudar as associações. Então expliquei sobre o desejo da formação de líderes, pois muitos líderes de bairros ou até mesmo presidentes possuem boa vontade, mas não sabem como agir em determinados assuntos e, por isso, surgiu a ideia. A Escola uniu os líderes das comunidades de Criciúma. Não apenas uniu, mas trouxe qualificação. Já criamos comissões e trouxemos uma união que não tínhamos antes do projeto existir”, afirma. Hoje, a UABC conta com 120 associações filiadas.


Legenda: Aula da Escola de Lideranças Comunitárias. 

Andreia ressaltou que a Escola de Lideranças Comunitárias trabalhou em setembro o tema de como lidar consigo mesmo, já que os líderes dos bairros estão sempre olhando o próximo, tentando resolver um problema da comunidade e muitas vezes esquecendo de si próprios. “A aula de setembro foi especial para nós, pois o tema era trabalhar consigo mesmo. Precisamos também saber lidar com a família, com nós mesmos e até mesmo saber atuar como um líder”, comenta. 


Legenda: Aula sobre as mudanças dentro de um líder. 

A presidente da UABC vem de uma família de líderes, pois seus pais também foram representantes do bairro Ana Maria. Atualmente, Andreia também atua como presidente do bairro Nossa Senhora da Salete. “Com 6 anos de idade, acompanhei meu pai lutar pelo bairro Ana Maria por água e rede elétrica. Meus pais foram exemplos para me tornar uma líder também. Sempre estive envolvida com questões de liderança”, conta.

Parceria com a Unesc

UABC e Unesc são parceiras não apenas no projeto Escola de Lideranças Comunitárias, mas também em outras ações. “Atualmente, a União das Associações de Bairros de Criciúma conta com um funcionário que ajuda a receber a demanda das 120 associações de moradores filiadas e é uma parceria com a Unesc. A Universidade não é comunitária apenas no nome, ela está envolvida em causas sociais nos bairros, está ajudando as associações de moradores de Criciúma. Quando você ajuda a formar um líder, quem ganha são os moradores da cidade, que terão pessoas capacitadas lutando por suas causas”, observa Andreia. 

Com a criação da Escola, os líderes comunitários começaram a compartilhar seus problemas. Com isso, buscam uma solução mais rápida com união. “Quando você tem mais de uma pessoa lutando e pensando em uma causa, a solução para ela chega mais rápido, e assim tem sido com a Escola de Lideranças Comunitárias. Nos unimos e estamos ajudando uns aos outros com mais frequência”, garante.

No dia 17 de outubro, a Tribuna Livre da Câmara Municipal de Criciúma foi utilizada por moradores do bairro Pinheirinho para pedir mais segurança à comunidade. “Mais de 12 líderes comunitários estiveram presentes na sessão da Câmara Municipal. Não é sobre o bairro Nossa Senhora da Salete que sou presidente, entretanto, é sobre uma comunidade de Criciúma, é sobre ajudar um líder, é também uma questão de união e mostrarmos para os vereadores a força que temos”, destaca. 

Relatos de líderes 

Moradora do bairro Santa Bárbara, em Criciúma, Dudi Sônego, atua como assessora parlamentar e líder comunitária. Ela participa da Escola de Lideranças Comunitárias desde maio e destacou a importância das aulas. “Fiquei muito surpresa quando soube da iniciativa da Unesc, pois é uma baita oportunidade de aprender. Nunca tinha ouvido falar em Escola de Liderança Comunitária. Quando soube, através da UABC, achei interessante e muito válido, pois o que acontece no dia a dia do nosso bairro, da nossa comunidade, nem sempre temos conhecimento necessário para lidar. Considerando que cada bairro tem suas especificidades, tem questões que são gerais. O problema de um pode ser o mesmo que o outro, assim como a solução. Ideias construtivas devem ser compartilhadas”, reitera. 

A troca de experiência entre professores e líderes tem chamado a atenção de Dudi. “O tanto que aprendemos, não só com os professores, mas muito com os representantes dos bairros. Na escola temos oportunidade de aprender sobre temas diversos, todos relacionados ao cotidiano da comunidade, e isso nos oportuniza buscar soluções para as demandas que nos são apresentadas”, enfatiza. 


Legenda: Aula durante a Escola de Lideranças Comunitárias.

Wagner Gonçalves Cardoso atua como tesoureiro na associação de moradores do bairro São Simão. Ele também está participando da Escola de Lideranças Comunitárias desde o início e ressaltou a importância da Unesc para a união entre líderes comunitários de Criciúma. “As aulas são ricas em conteúdo. Cada aula é um tema diferente e os professores são especialistas e estamos conseguindo absorver bastante conhecimento”, garante. “Não tínhamos acesso aos líderes de outros bairros e com a chegada da Escola nos conhecemos melhor. Com isso, conseguimos trocar ideias e perceber que uma demanda de uma comunidade também pode ser a minha. Nos unimos muito nos últimos meses”, completa. 

Cardoso comentou sobre a atuação na comunidade em que mora. “Nós não recebemos dinheiro na Associação de Moradores. Não tenho um salário, mas tenho muitas responsabilidades. Fazer parte de uma associação de moradores é fazer voluntariado para sua comunidade. Com as associações, são moradores falando de demandas com moradores. Estamos nos bairros para representar as pessoas diante do Poder Público”, destaca. 

Para atuar na Associação de Moradores é também ter que lidar com as questões familiares. “É necessário conciliar e, as vezes, acabamos nos atrapalhando. O amor pela comunidade é tão grande que às vezes acabamos invadindo o horário da família, o horário do descanso do trabalho. Faz parte, ser voluntário é isso”, observa. 

Ana Paula da Silva é presidente da Associação de Moradores do bairro Santo André. Ela mora na comunidade há 40 anos e está participando da Escola de Lideranças Comunitárias desde o início. “Estou me dedicando muito para as aulas e o que me chama atenção, além dos temas apresentados em sala de aula, é também a convivência com as pessoas de outros bairros. A troca de conhecimento e experiência com outros líderes também nos enriquece”, salienta. 

A moradora do bairro Santo André afirmou que não imaginava como seriam as aulas e está se surpreendendo. “Os professores são muito capacitados e nos ajudam a resolver problemas diários, por exemplo, já mudamos a forma de diálogo com os moradores do bairro. Está sendo muito bom participar e adquirir esse conhecimento que pode ser revertido em cada comunidade que moramos”, frisa. 

Antônio Manoel de Medeiros é vice-presidente da Associação de Moradores do bairro Santo André e comentou que o conhecimento adquirido em sala de aula tem sido aplicado na comunidade. 


Legenda: Ana Paula da Silva e Antônio Manoel de Medeiros, moradores do bairro Santo André. 

Novas Escolas de Lideranças Comunitárias 

Após Criciúma receber o projeto, outras cidades do Sul de Santa Catarina também aderiram à ação da Unesc. O primeiro foi o município de Araranguá e o encontro inicial aconteceu no dia 26 de setembro. O projeto contará com encontros quinzenais até dezembro com objetivo de qualificar líderes comunitários.  

O presidente da União das Associações de Moradores Araranguá (Uama), Roberto Rebello, agradeceu a Unesc por mais uma vez colocar à disposição da comunidade o conhecimento de forma gratuita. “Me sinto muito gratificado por acompanhar de perto essas ações e ver o empenho da Universidade em proporcionar conhecimento. Tenho certeza que essa parceria se fortalece a cada dia e irá vingar por muitos anos”, ressalta. As inscrições para a Escola de Lideranças seguem abertas e podem ser feitas pelo contato (48) 3444-3900.


Legenda: Líderes de Araranguá reunidos em aula da Escola de Lideranças Comunitárias. 

Içara terá Escola de Lideranças Comunitárias em 2024

Com o sucesso em Criciúma e Araranguá, a cidade de Içara também quer capacitar seus líderes e ter uma Escola de Lideranças Comunitárias. A Câmara de Vereadores também defendeu a implantação da Escola no município por meio do vereador Jairinho (PSD). “A Unesc já realiza esse trabalho em Criciúma e Araranguá e as associações muitas vezes encontram dificuldades no processo legal por falta de conhecimento. Essa Escola também mostra o poder que tem uma associação comunitária”, observa o vereador. “Sendo implantada essa proposta aqui no nosso município, todas as comunidades irão se beneficiar e buscando o desenvolvimento social”, acrescenta.

A União das Associações Comunitárias de Içara e Balneário Rincão (UACI) esteve com representantes da Unesc para ter uma Escola de Lideranças Comunitárias no município em 2024. “O projeto vai iniciar em fevereiro ou março do próximo ano. Nossa reunião com a Universidade foi bem produtiva. Teremos uma Escola em Içara, mas que vai envolver líderes comunitários também de Balneário Rincão”, explica Karla Vicente, presidente da UACI.


Legenda: Reunião entre líderes de Içara e representantes da Unesc sobre a Escola de Lideranças Comunitárias.

A UACI possui 40 associações de moradores associadas. “Nosso objetivo é adquirir conhecimento por meio da Escola de Lideranças Comunitárias, pois muitos líderes não sabem lidar com determinados assuntos e em sala de aula poderemos aprender justamente temas que são importantes para o dia a dia de alguém que ajuda uma comunidade”, ressalta Karla. Em média, serão 60 pessoas por aula. “O local ainda será definido, mas provavelmente as aulas serão ministradas na área central de Içara”, completa.

Sheila Martignago Saleh, coordenadora da Escola de Lideranças Comunitárias e assessora da Diretoria de Extensão, Cultura e Ações Comunitárias da Unesc, destacou que o objetivo da Escola é capacitar líderes e em Içara não será diferente. “O foco é capacitar as associações de Içara e Balneário Rincão para gestão dessas entidades, desde o funcionamento até captação de recursos”, explica. 

Formação de Lideranças Comunitárias e Sociais on-line

A Unesc também oferece aulas de lideranças comunitárias de forma on-line. “A primeira turma teve o seu início em 2020, sendo desenvolvida pela modalidade remota com o uso da plataforma Google Meet, com carga horária de 90 horas e com a temática direitos humanos, cidadania e políticas públicas. O curso em sua primeira edição teve a inscrição de quase 200 candidatos em edital público. Foram selecionados 100 cursistas de todo Brasil, de 11 Estados brasileiros (Bahia, Paraíba, Piauí, Ceará, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande de Sul e Santa Catarina) e representantes de 52 municípios que atuam em várias entidades da sociedade civil organizada. O curso teve a formatura de sua primeira turma no início do primeiro semestre de 2021”, detalha o professor Reginaldo de Souza Vieira

Em 2023 foi lançado o edital para o segundo Curso de Lideranças Comunitárias e Sociais, promovido pelo Programa de Mestrado em Direito da Unesc em parceria com a Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu; Diretoria de Extensão, Cultura e Ações Comunitárias; Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDS), em Ciências Ambientais (PPGCA), e em Saúde Coletiva (PPGScol), todos da Unesc. Possui ainda a parceria da Pró-reitoria de Ensino da Unesc, com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e com o Conselho Nacional de Justiça. Também conta com o apoio da Secretaria de Diversidades e Ações Afirmativas e do curso de Direito. O projeto tem ligação ainda com Rede Brasileira de Pesquisa Jurídica em Direitos Humanos; Ordem dos Advogados – Subseção Criciúma; Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) e Universidade Federal do Pará (UFPA); Programa de Pós- Graduação em Direitos Humanos (PPPDH), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) e com o Observatório Latino-Americano de Investigação e de Defesa dos Direitos Humanos.

“O objetivo do curso é desenvolver junto às lideranças comunitárias e sociais mediante a capacitação para a cidadania e o seu empoderamento, as temáticas dos direitos humanos, da cidadania e das políticas públicas no campo da segurança pública. Foram selecionados 80 cursistas, de 14 estados brasileiros e de diversos movimentos sociais e comunitários. O curso iniciou em 16 de agosto com uma aula magna com o professor Dr. José Geraldo de Souza Júnior (UNB), uma das maiores referências nacionais em direitos humanos”, destaca. 

O curso encerra no primeiro semestre de 2024 

As aulas ocorrem nas quartas e quintas-feiras, via plataforma on-line, das 19 às 22 horas. O curso tem 140 horas e é composto de seis  módulos teóricos.

Direitos humanos, democracia e cidadania;
Organização do Estado e Sistema de Justiça;
Políticas públicas, políticas sociais e participação popular;
Políticas públicas e sociais: eixos temáticos, garantias de direitos e luta antidiscriminação;
Políticas públicas de segurança.

Elaboração de atividade de vivência comunitária formativa (nesse módulo os/as cursistas irão elaborar uma proposta de atuação comunitária a partir das contribuições do curso em suas comunidades e entidades que será aplicado em 2024).

O curso é coordenado pelos professores Reginaldo de Souza Vieira (Unesc), Fernanda da Silva Lima (Unesc), Ismael Francisco de Souza (Unesc) e Maiquel Dezorzi (UNIJUÍ). 

Visão da Unesc sobre a Escola de Lideranças Comunitárias

A pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão, Gisele Coelho Lopes, destacou a importância da Escola de Lideranças Comunitárias e falou do início do projeto. Confira abaixo: 

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