Por Pelo Estado
Em 30/03/2025 às 01:23“Nosso Sistema nunca teve uma mulher na presidência, o que reforça a necessidade de mudanças estruturais”
Roberta Maas, presidente do Senge-SC
A engenheira civil, sanitarista e ambiental, especialista em segurança do trabalho, Roberta Maas dos Anjos, primeira mulher a presidir o Senge-SC, tem se destacado na luta pela representatividade feminina na engenharia e pela valorização da profissão. À frente do Senge-SC, Roberta tem fortalecido o "ecossistema de engenharia", promovendo a integração entre academia, setor produtivo, órgãos governamentais e entidades de classe.
Especialista em engenharia para o saneamento básico, Roberta tem se dedicado a desenvolver soluções para os desafios do setor, como a falta de planejamento e investimentos. Acredita que a engenharia é essencial para otimizar recursos, melhorar a infraestrutura e ampliar o acesso ao saneamento.
A gestão de cemitérios é um dos temas que Roberta acompanha de perto desde seu Trabalho de Conclusão de Curso em 2003. Para ela, a engenharia sanitária desempenha um importante papel na administração desses espaços, contribuindo para a prevenção de impactos ambientais irreversíveis.
Sob sua gestão, o Senge-SC é signatário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovendo práticas sustentáveis e incentivando que projetos de engenharia estejam alinhados aos objetivos da ONU e à Agenda 2030.
Roberta, que também é diretora financeira da Mútua, a Caixa de Assistência dos Profissionais do CREA, concedeu esta entrevista para a Coluna pelo Estado:
Pelo Estado - Como sua eleição como primeira mulher a presidir o Senge-SC simboliza o avanço da presença feminina na engenharia? Quais mudanças ainda são necessárias para ampliar essa representatividade?
Roberta Maas - Minha eleição é um marco importante, refletindo os avanços na participação feminina na engenharia. No entanto, ainda enfrentamos desafios significativos. Para ampliar a representatividade feminina, é fundamental implementar políticas de inclusão, fomentar o incentivo à formação técnica e garantir que mais mulheres ocupem cargos de decisão. Nosso Sistema, com mais de 90 anos de história, nunca teve uma mulher como presidente, o que reforça a necessidade de mudanças estruturais.
PE - Historicamente, a engenharia tem sido um setor predominantemente masculino. Quais desafios você enfrentou como mulher em cargos de liderança? E que conselho daria às engenheiras que desejam ampliar sua presença no mercado e alcançar posições de destaque?
RM - Os maiores desafios envolveram superar barreiras culturais e demonstrar competência constantemente. Meu conselho para as engenheiras é investir em qualificação contínua, construir uma rede sólida de contatos e manter a firmeza na liderança. Acredite em seu potencial e tenha perseverança para conquistar o reconhecimento que você merece.
PE - A valorização profissional dos engenheiros é um tema central na sua atuação. Quais estratégias o Senge-SC tem adotado para fortalecer a remuneração e as condições de trabalho da categoria?
RM - O SENGE-SC é um ecossistema de engenharia que conecta atores importantes no setor, respeitando as empresas e promovendo equilíbrio nas relações de trabalho. Atua na valorização dos engenheiros por meio de negociações salariais, fiscalização do salário mínimo profissional e participação em debates legislativos. Além disso, investe na capacitação contínua, incentiva a inovação e a sustentabilidade, oferece benefícios e assistência jurídica, garantindo melhores condições de trabalho e reconhecimento da engenharia.
PE - Recentemente, a senhora assumiu a Diretoria de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). Como essa nova função poderá beneficiar os engenheiros de Santa Catarina? Quais são suas principais metas neste cargo?
RM - A minha função na FNE visa aproximar o setor público e privado, fortalecer a regulamentação da profissão e ampliar as oportunidades para os engenheiros catarinenses no cenário nacional. Meu objetivo é sugerir ações bem-sucedidas que já estão sendo implementadas em Santa Catarina e que podem beneficiar outros estados.
PE - O Senge-SC tem participado ativamente de debates sobre inovação na engenharia. A senhora costuma utilizar o termo “ecossistema de engenharia” para descrever a importância da colaboração entre diferentes setores. Como essa abordagem tem impulsionado soluções eficazes para os profissionais do Sistema Confea/Crea?
RM - O conceito de ecossistema de engenharia reflete a colaboração entre diferentes setores — acadêmico, empresarial, governamental e entidades de classe — para impulsionar a inovação e valorizar a profissão. No Senge-SC, temos fomentado essa interação por meio de eventos, debates e parcerias estratégicas, conectando profissionais, startups, universidades e o setor público. Isso fortalece a troca de conhecimento, acelera a implementação de novas tecnologias e cria um ambiente favorável à inovação, evidenciando a engenharia como um pilar essencial para o desenvolvimento de Santa Catarina e do Brasil.
PE - Durante sua gestão como presidente da CASAN, a senhora esteve à frente de projetos estratégicos em saneamento. Quais são os principais entraves para a universalização do saneamento básico em Santa Catarina e como a engenharia pode contribuir para acelerar esse processo?
RM - Ao longo da história, o saneamento foi negligenciado, resultando em problemas como a escassez de investimentos e a dificuldade no licenciamento ambiental. Além disso, a aceitação da população ainda é um entrave, pois muitos resistem a projetos na área devido à falta de conscientização sobre sua importância. As companhias de saneamento não devem ser vistas como vilãs, mas como aliadas, oferecendo serviços fundamentais para a saúde pública e a qualidade de vida. A engenharia, com sua expertise técnica, tem um papel determinante na otimização de recursos, no aprimoramento da infraestrutura e na ampliação do acesso ao saneamento básico.
PE - O Novo Marco Legal do Saneamento estabeleceu metas ambiciosas para ampliar o acesso à água e ao esgoto tratado. Como a senhora avalia os avanços em Santa Catarina e quais desafios ainda precisam ser superados?
RM - Embora Santa Catarina tenha avançado no saneamento básico, ainda existem desafios significativos, especialmente no acesso ao tratamento de esgoto. Além disso, muitos municípios têm planos de saneamento desatualizados. Para reverter esse quadro, é vital aumentar os investimentos, intensificar a fiscalização e implementar políticas públicas eficazes. A engenharia pode contribuir com soluções técnicas inovadoras e projetos eficientes, otimizando recursos e melhorando a infraestrutura. A CASAN, juntamente com seus engenheiros, tem sido fundamental nesse processo e merece reconhecimento.
PE - Santa Catarina possui um alto índice de áreas de risco sujeitas a enchentes e deslizamentos. Como a engenharia pode contribuir para mitigar os impactos desses eventos sobre o saneamento e a qualidade da água?
RM - A engenharia pode desempenhar um papel determinante na mitigação dos impactos das enchentes e deslizamentos por meio de um planejamento urbano eficiente e da construção de infraestrutura resiliente. Além disso, é fundamental adotar uma gestão territorial integrada que considere o uso adequado do solo, a proteção de áreas de risco e o controle de enchentes. A implementação de políticas públicas focadas na gestão integrada do território, aliada ao monitoramento de riscos e a soluções técnicas inovadoras, pode reduzir danos, garantir a segurança hídrica e minimizar os impactos sobre a qualidade da água. Nesse contexto, a engenharia oferece diversas oportunidades, como o uso de tecnologias avançadas para monitoramento em tempo real (sensores de umidade, geotecnologias, sistemas de alerta precoce) e modelos preditivos que permitem antecipar desastres, facilitando ações preventivas e mitigadoras.
PE - Em recente artigo, a senhora abordou os desafios enfrentados na gestão de cemitérios municipais, como superlotação, contaminação do solo e falta de regulamentação ambiental. Que soluções a engenharia sanitária e ambiental pode oferecer para tornar esses espaços mais sustentáveis?
RM - A engenharia sanitária e ambiental pode tornar os cemitérios mais sustentáveis ao adotar práticas que minimizem os impactos ambientais. Isso inclui o sepultamento vertical, sistemas eficientes de gestão de resíduos, como compostagem controlada, e estratégias para otimizar o uso do espaço, prevenindo a superlotação. Alinhar essas soluções às regulamentações ambientais é fundamental para garantir a sustentabilidade desses espaços, protegendo o meio ambiente e promovendo a saúde pública.
PE - O Senge-SC é signatário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Quais ações concretas o sindicato tem desenvolvido para contribuir com esses objetivos na engenharia?
RM - O SENGE-SC tem promovido a inovação por meio de parcerias estratégicas com instituições acadêmicas e empresas, além de incentivar a adoção de práticas sustentáveis em projetos de engenharia. As ações incluem a promoção de eventos sobre novas tecnologias, como BIM, e soluções baseadas em energias renováveis e eficiência energética. Essas iniciativas têm um impacto significativo nas futuras gerações de engenheiros, preparando-os para enfrentar os desafios ambientais e sociais do futuro, além de promover a ética e a responsabilidade profissional em suas carreiras.
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