Acolhimento

Bairro da Juventude: há 75 anos acolhendo famílias e quebrando barreiras da vulnerabilidade social

Com projetos e ações, instituição faz a diferença em Criciúma desde 1949

Por Patrick Stüpp e Samuel Borges

Em 29/03/2024 às 08:12
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Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus

“O Bairro da Juventude é uma casa muito bonita. Uma instituição que abriga crianças, adolescentes e famílias para formarmos uma sociedade melhor”. Essa é a visão da diretora-executiva Silvia Regina Luciano Zanette sobre o Bairro da Juventude em Criciúma, que há 75 anos faz a diferença no município, proporcionando, por meio de projetos e ações, acolhimento para as comunidades que passam por situações de vulnerabilidade social.

Localizada na rua Cônego Aníbal Maria Di Francia, no bairro Pinheirinho, em Criciúma, e contando com cerca de 260 profissionais, o Bairro da Juventude foi fundado em 1949 por meio do Rotary Clube, inicialmente conhecido como Sociedade Criciumense de Auxilio às Necessidades (Scan). Depois de três anos de fundação, a Congregação Rogacionista assumiu a administração do local até 1975, transformando o espaço em um internato apenas para meninos na época.


Bairro da Juventude surgiu em Criciúma em 1945, inicialmente conhecido como Scan. (Foto: Luana Mazzuchello/Bairro da Juventude)

“Já em 1975, a Congregação Rogacionista entregou o Bairro da Juventude para a comunidade. Neste ano, em formato de assembleia, em uma eleição de conselhos, foram chamados 25 segmentos da sociedade criciumense para eleger um conselho, uma diretoria e uma diretoria-executiva. Dessa forma, montando o corpo de profissionais para atender todas as crianças, adolescentes e famílias atualmente em Criciúma”, lembra a diretora-executiva, que está há 44 anos na instituição.

Para Silvia, em todos esses anos atuando como diretora-executiva, o Bairro da Juventude traz para Criciúma e para todos que o frequentam uma ideia de busca constante pelo fortalecimento de valores. Na visão dela, todo o espaço que compreende a instituição precisa proporcionar para as crianças e adolescentes que o frequentam um ambiente saúdável, com alegria e aprendizado. "O nosso objetivo é fazer com que todos acordem e sintam vontade de vir para o Bairro, sendo um espaço bom e acolhedor", destaca.

Com formação em Engenharia Agrônoma, o primeiro contato da diretora-executiva com o Bairro da Juventude iniciou após entrar como voluntária na instituição em 1980, completando 44 anos de história em março deste ano. Silvia ficou como voluntária durante 4 meses na instituição, após entrar à convite da diretora-executiva que estava no cargo na época.

"Eu estou aqui plantando. Eu acho que o Bairro é plantar diariamente na perspectiva de colher o bem. Durante este período [de voluntariado], não me vi mais na minha área de formação acadêmica. Eu me esqueci do que era antes e não me vi mais fora do Bairro da Juventude. Aqui não é exatamente um trabalho, mas uma missão. Tem muito o que se pode fazer aqui ainda", afirma.

Trajetória que inicia aos 3 meses 

Um dos principais benefícios que o Bairro da Juventude oferece para a comunidade criciumense é a educação. De segunda a sexta-feira, a instituição proporciona o ensino desde Educação Infantil até Educação Profissional. Segundo o coordenador de Educação, Marcelo dos Santos, cerca de 1.600 alunos, que compreendem a faixa etária de 3 meses e 18 anos, estudam no Bairro no período diurno. 

“Na Educação Infantil temos cerca de 20 estudantes, entre 4 meses e 6 anos, que ficam em tempo integral no Bairro da Juventude. As crianças são acolhidas no Setor de Educação com toda infraestrutura adequada e acompanhamentos alimentares e pedagógicos para atendimento de todos os bebês. O dia deles na escola inicia a partir das 6h30, quando eles chegam na instituição, encerrando o dia letivo apenas no fim da tarde por volta das 17h30”, explica Santos. 

Já no Ensino Fundamental 1 e 2, os estudantes iniciam a partir dos sete anos e encerram por volta dos 13. Essa categoria de ensino no Bairro da Juventude abrange entre o primeiro e nono ano do Ensino Fundamental. O ensino pedagógico para esses estudantes é oferecido por meio da maior escola da rede municipal de ensino: a Padre Paulo Petruzzellis. A escola é mantida por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Criciúma.

“Um dos pontos positivos e diferenciais que oferecemos aos nossos estudantes são as atividades do contraturno escolar, já que eles ficam em tempo integral conosco. As atividades de esporte e cultura são as opções oferecidas no Bairro da Juventude, onde cada estudante tem a oportunidade de escolher o horário e a agenda da semana que fará a atividade. Essas atividades são uma forma de complementar e gerar desenvolvimento integral para as crianças”, comenta o coordenador.


Instituição atende cerca de 1.600 estudantes no período diurno.. (Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus)   

Entendendo a necessidade de cada criança

Em sua visita ao Bairro da Juventude, uma das áreas educacionais que a reportagem do Portal Engeplus conheceu foi o espaço da Educação Infantil. Ao todo, 240 crianças frequentam o Ensino Materno na instituição.

A auxiliar de Coordenação Administrativa, Melaine Piaza, explica que as crianças de 0 a 2 anos chegam ao Bairro da Juventude com os pais. Já a partir dos 3 anos, a instituição disponibiliza um ônibus, que elas podem utilizar até 14 anos. A partir do momento que os pais deixam as crianças na instituição, a primeira atividade delas é o berçário a partir das 6h30.

“As crianças fazem quatro refeições que disponibilizamos aqui no Bairro da Juventude, além de ser ofertado também atividades de introdução alimentar. Toda a questão da alimentação é passada pela nutricionista antes, que faz um balanceamento pensando no bem na criança. Temos um refeitório à parte e adequado para as crianças que frequentam esta modalidade de ensino”, ressalta.

A auxiliar de Coordenação Administrativa afirma, ainda, que além das atividades de introdução alimentar, a área de Educação Infantil conta com lavanderias, camas plásticas e higienizadas, espaços para atividades pedagógicas, parque de diversão e sala de DVD.

“O nosso trabalho é pautado pela ludicidade, partindo da realidade e da necessidade de cada criança. Os professores fazem um estudo com as pedagogas com a finalidade de entender a situação de cada criança e ver qual é a necessidade em uma determinada fase de desenvolvimento. Com todas essas informações, conseguimos proporcionar uma qualidade de vida melhor para elas”, diz. 

Integração e acompanhamento no mercado de trabalho 

Desenvolver a oportunidade profissional também é uma das missões do Bairro da Juventude. Durante o período diurno, são oferecidos os cursos de aprendizagem industrial, direcionada para jovens entre 14 e 18 anos, que estejam estudando ou concluindo o Ensino Médio. Os estudantes têm a oportunidade de frequentar seis cursos com duração entre 800 e 1.600 horas, ou seja, com dois anos de duração. Para o aprendizado, o Bairro da Juventude oferece uma estrutura com oficinas, laboratórios, máquinas e equipamentos para as aulas práticas. 

“Durante o processo de formação, os estudantes já conseguem ser encaminhados para o mercado de trabalho, por meio da categoria ‘Jovem Aprendiz’. Se não conseguirem, terão ainda uma oportunidade profissional após formados por meio da Carteira de Trabalho. Além disso, também temos uma série de empresas de Criciúma e região que procuram o Bairro da Juventude para conseguirem jovens aprendizes e melhorarem a mão de obra”, afirma o coordenador de Educação.  

Empresas que buscam funcionários e querem entrar em contato com o Bairro da Juventude precisam fazer uma solicitação via e-mail, celular ou indo na sede da instituição. Posteriormente, as necessidades de cada empresa são avaliadas, sendo feita uma pré-seleção com os professores para encaminhar o jovem ao mercado de trabalho. Em seguida, o estudante fará uma entrevista, e se passar, estudará e trabalhará em meio período. 


Educação Profissional é uma das principais missões do Bairro da Juventude. (Foto: Samuel Borges/Portal Engeplus)

Durante o processo de integração no mercado de trabalho, o Bairro da Juventude também acompanha o desenvolvimento dos estudantes ou formados dentro da empresa que atuarão. “Esse acompanhamento é uma das nossas missões. O Bairro da Juventude é uma instituição filantrópica, que por meio da educação tenta gerar cidadania tanto para as famílias quanto para os jovens. Então, uma forma de garantirmos o sucesso deles é fazer com que vençam em cada ciclo de suas vidas”, diz Santos.  

Em todos os anos, o Bairro da Juventude forma cerca de 300 estudantes nos cursos profissionalizantes disponibilizados: Metalurgia, Eletricista, Mecânico de Automóveis, Padeiro, Confeiteiro, Cozinheiro Industrial e Programador de Computadores. "Existe uma demanda de empregabilidade, já que dos 300 formados, atingimos cerca de 90% de integração no mercado de trabalho”, complementa o coordenador.

Um dos estudantes que tiveram oportunidades criadas por meio da Educação Profissional do Bairro da Juventude foi Samuel Villain Elias, de 18 anos. Ele entrou na instituição há cinco anos por meio do curso de Mecânica de Manutenção, ao receber indicações de um amigo. Formado, o estudante faz agora o curso de Eletroeletrônica e espera conseguir ingressar no mercado de trabalho no próximo ano.

Oportunidades de capacitação  

A oportunidade educacional se estende além do período diurno no Bairro da Juventude, compreendendo também o período noturno. Em média, são atendidos cerca de 200 estudantes neste período, que podem usufruir dos cursos de qualificação profissional e do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), realizado em parceria com a Prefeitura de Criciúma, por meio da Secretaria Municipal de Educação. 

“O EJA é uma oportunidade educacional para as pessoas maiores de 18 anos que não conseguiram concluir os estudos no passado. Já os cursos de qualificação profissional são diferentes dos que são oferecidos no período diurno. São cursos de cerca de três meses de duração apenas para maiores de idades que dependem de parcerias para acontecerem. Atualmente, o Bairro oferece cursos noturnos de Padeiro, Eletricista, Torneiro, Soldador, Confeiteiro, Cozinheiro, Informática e Manutenção de Computadores”, destaca o coordenador de Educação, Marcelo dos Santos. 

Clic: o olhar para o futuro em Criciúma

Inaugurado no dia 14 de setembro de 2023, o Centro Lúdico de Inovação e Criatividade (Clic) é o espaço responsável por fomentar a pesquisa, inovação e criatividade dentro do Bairro da Juventude. Mesmo já desenvolvendo uma capacitação educacional na vida das crianças e adolescentes, com o Clic, a instituição passou a ter um pensamento mais focado nos avanços tecnológicos atuais, desenvolvendo educação empreendedora e criativa com os estudantes.

Uma das pessoas responsáveis por fomentar este pensamento criativo e empreendedor dentro do Bairro da Juventude é Gislene Franciscone de Costa, que é gestora de Inovação e Criatividade da instituição. Para ela, levando em consideração a inovação tecnológica dentro das empresas, o Clic tem a finalidade de elevar, ainda mais, a relação com os estudantes e as futuras oportunidades de trabalho em Criciúma e região.

“O Bairro da Juventude é uma instituição versátil. Nós temos uma equipe que pensou em toda captação de recursos, investimentos, e, assim, mobilizando toda a comunidade e alguns parceiros para que essa criação fosse possível em nossa instituição. A gente costuma dizer que ainda somos um bebezinho, sabe? Ainda estamos aprendendo, mas os ensinamentos que desenvolvemos no Clic é uma tecnologia social, que gostaríamos de entregar e construir junto à nossa comunidade”, projeta.

O Centro Lúdico de Inovação e Criatividade conta, ao todo, com espaços de conveniência e de contação de histórias, salas de robótica, espaço maker, estúdio de gravação e, principalmente, o espaço de empreendedorismo, que por meio de práticas de dinâmicas ensina táticas do pensamento empreendedor tanto para crianças e adolescentes quanto para a comunidade em geral.


Centro Lúdico de Inovação e Criatividade foi inagurado em setembro de 2023. (Foto: Luana Mazzuchello/Bairro da Juventude)

Um espaço como o Clic é importante para as comunidades que passam por situações de vulnerabilidade social. Se não fosse pelo Bairro, a maioria das crianças não teria a oportunidade de frequentar um espaço como o Centro Lúdico de Inovação e Criatividade. "Neste espaço, quero inserir em nossa sociedade uma educação para transformar vidas. No decorrer do desenvolvimento do espaço, eu quero que o Clic seja orgânico ao Bairro da Juventude, para que toda a metodologia ensinada nele começa a ser desenvolvida com o tempo fora deste prédio. Então, buscamos atingir todas as nossas crianças, adolescentes e famílias, transformando a vida de todos com este pensamento”, estabelece a gestora. 

Vida saudável, alimentação de qualidade 

As pessoas que já caminharam, ao menos uma vez, pelos espaços do Bairro da Juventude, percebem que o refeitório é um dos espaços mais movimentados. Devido à quantidade de estudantes que a instituição atende, cerca de quatro refeições são realizadas em cada dia letivo. O local abre às 7h30 e encerra as atividades apenas às 15h30, sendo oferecido aos alunos o café da manhã, lanche da manhã, almoço e lanche da tarde. 

De acordo com a nutricionista do Bairro da Juventude, Tatiane Magagnin, o cardápio em todas as refeições é montado para oferecer uma alimentação balanceada nutricionalmente para todos os estudantes. No almoço, por exemplo, são proporcionadas opções de proteínas e carboidratos, além das saladas para compor o aporte nutricional necessário para a refeição. 


Refeições são dividas em quatro vezes ao dia na instituição. (Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus). 

“Pensar na saúde e qualidade de vida de todas as crianças e adolescentes é o mais importante para a nossa equipe. Levamos em consideração que, infelizmente, alguns desses estudantes fazem todas as refeições apenas quando estão aqui dentro do Bairro da Juventude. Então, tentamos sempre manter essa organização para conseguirmos melhorar a saúde deles com a alimentação que proporcionamos”, pontua. 

O revezamento dentro do refeitório é constante em todos os dias no Bairro da Juventude. Então, como explica Tatiane, para conseguir oferecer um serviço de qualidade, a equipe que trabalha no refeitório conta com as seguintes profissionais: duas cozinheiras, auxiliares de limpeza e também 12 colaboradores dentro da cozinha e três que são fixos para atender o refeitório.

De aprendiz a professor

Inúmeras são as histórias de pessoas que cresceram dentro do Bairro da Juventude e depois, de alguma forma, colaboram ativamente para perpetuar o trabalho da instituição para a comunidade. Exemplos dessa trajetória são o professor de instrumentos de sopro Izaias Florência Ribeiro da Silva e o instrutor de Língua Inglesa Marcos Antônio Pereira. Os dois, no passado, frequentaram a instituição como alunos. Mas, agora, repassam os ensinamentos adquiridos como professores.

Silva é de uma família bastante habituada ao Bairro da Juventude, já que seus cinco irmãos também estudaram nele. “São quatro mais velhos e um mais novo do que eu. Começou com a minha irmã mais velha. Minha mãe conseguiu uma vaga para ela aqui. Ela começou a estudar, fez curso de padaria. A mãe viu que era um lugar bom e decidiu colocar todos nós”, lembra o professor. Já entre seus irmãos, dois se formaram padeiros, um mecânico geral e outro eletricista.

Silva foi um dos últimos do grupo a entrar no Bairro da Juventude, sendo influenciado pelo irmão a iniciar na música. “Cheguei no Bairro com cinco anos, em 2009. Meu irmão, Murilo, iniciou na música primeiro. Ele levava o violoncelo para casa, e eu ficava olhando-o tocar, enquanto pensava ‘nossa, que legal! Um dia quero aprender a tocar também’. Aos sete iniciei no violão e no coral. Inclusive os professores daqui hoje também foram meus professores”, relata o jovem.

Era o começo da jornada com diferentes instrumentos. Aos 10 anos, ele conheceu os instrumentos de sopro e o violino. “Aí me encontrei na música, aprendi e me desenvolvi rápido. Aos 14, saí, porque tinha completado o 9º ano e precisava fazer o ensino médio. Mas não me afastei dos instrumentos, continuei tocando na igreja e em outras bandas do município, até que o bairro me ofereceu a oportunidade de trabalhar aqui”, diz Silva.


Professor entrou no Bairro da Juventude aos cinco anos. (Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus)

Hoje, com 19 anos, ele dá aula em quatro horários durante o dia. Dois deles pela manhã, para crianças de 11 a 14 anos, e outros dois à tarde, para crianças de 7 a 10 anos. “Para mim é um privilégio estar ensinando para outras crianças o que eu aprendi. Aqui eu tive várias oportunidades, experiências e apresentações. O bairro ajudou a direcionar minha vida, saber o que eu queria ser e por qual caminho andar”, afirma o professor.

Pereira é instrutor de língua inglesa no Bairro da Juventude. Sua história com a instituição começa em 1997, quando ele tinha apenas três anos. “Entrei [no Bairro] bem pequeno. Fiz parte da primeira orquestra que o Bairro da Juventude teve. Também integrei a equipe de karatê e disputei alguns campeonatos”, relembra Pereira. Ele deixou a entidade em 2008, depois de ter completado um curso de programação. “Na época, o Bairro atendia apenas até a quarta série e durante o tempo que estudei me interessei pelo inglês”, conta o instrutor.

Durante o período em que estudou no Colégio Marcos Rovaris, após as aulas, Pereira ia até o Bairro da Juventude para frequentar o chamado Espaço Jovem. “Era uma forma de evitar que ficássemos na rua. Tínhamos várias atividades também com professores e me apaixonei pelo inglês nesse período, quando o Bairro tinha uma parceria com uma escola de inglês”, explica.

Graças ao Bairro da Juventude, ele conseguiu uma bolsa para estudar inglês em uma escola de idiomas, onde se dedicou para se tornar professor. “Quando consegui um bom nível [no idioma], comecei a dar aulas. Isso foi em 2016. No ano passado, fui chamado por meio do Instagram para trabalhar no bairro. Eu vim, fiz a entrevista e aceitei o desafio na hora”, lembra.


Alunos estudam inglês com dinâmicas em sala termática. (Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus)

Estudantes agora, colaboradores no futuro 

Isabele Ghizi Luciano, de 16 anos, atualmente é estudante e jovem aprendiz no Bairro da Juventude. Mas seu pensamento para o futuro é parecido com o de Marcos e Izaias. Mesmo sendo estudante agora, ela quer continuar contribuindo com a instituição, mantendo-se parte dessa história.

“O Bairro da Juventude representa muito na minha vida, pois ele cria oportunidades para todos que o frequentam. As pessoas que precisam e que passam por situações de vulnerabilidade social, às vezes não têm tantas oportunidades. Porém, o Bairro consegue ser a nossa oportunidade e a porta de esperança para o futuro”, enfatiza a estudante.


Moradora de Içara recebeu oportunidades após entrar no Bairro da Juventude. (Foto: Samuel Borges/Portal Engeplus)

A estudante, moradora do bairro Demboski, em Içara, conheceu o Bairro da Juventude por indicações de amigos e vendo notícias sobre a instituição na internet. Por conta dos incentivos dos amigos e da família, Isabele decidiu fazer o curso de Manutenção Automotiva, apesar de também querer cursar Programação de Computadores. “O curso teve duração de um ano e amei os professores. Eles cobram bastante nas aulas e são todos ótimos professores. Eu entrei em fevereiro de 2023 e encerrei o curso em dezembro, e quando terminei já tinha conseguido um emprego na instituição também”, recorda. 

A jovem aprendiz concluiu o curso de Manutenção Automotiva e já pensa em iniciar outro. Mas, agora, de Eletroeletrônica. A opção, que dá um frio na barriga da estudante quando ainda pensa na escolha, foi considerada por ser uma área que proporciona um ‘leque’ de oportunidades após a formação. “Quando consegui um emprego aqui fiquei bem feliz, já que gosto de vestir a camisa do Bairro. Este local tem muito potencial em Criciúma, então para mim é um prazer estar contribuindo aqui”, estabelece. 

A instituição que atravessa gerações 

O contato com o Bairro da Juventude também foi um diferencial na vida da auxiliar de limpeza da instituição Elizabete Mandelli, que descobriu o Bairro por conta de uma amiga, quando o local ainda era conhecido como Scan. Atualmente com 62 anos, ela criou uma história que permanece viva desde que entrou pela primeira vez na instituição, há 32 anos.

“Eu não sou de Criciúma, sou do Paraná. Mas, quando vim para cá, tinha uma vizinha que era minha amiga e me trouxe no Bairro da Juventude para matricular meus filhos na escola. Porém, no mesmo dia, a encarregada da cozinha e limpeza me chamou para trabalhar aqui. Uma trajetória que completou 32 anos de satisfação no dia 20 de fevereiro deste ano”, relembra.


Elizabete está há 32 anos fazendo parte da instituição. (Foto: Patrick Stüpp/Portal Engeplus)

Após o primeiro contato com o Bairro da Juventude, a trajetória da família da auxiliar de limpeza mudou. Os filhos dela foram os primeiros matriculados, porém, atualmente, os netos de Elizabete são alunos do Bairro, concretizando um vínculo que atravessa gerações na família. Para ela, vestir a camisa do Bairro da Juventude é trabalhar com amor e carinho, principalmente porque são esses os sentimentos e atitudes essenciais para estar no meio das crianças.

“Todos esses anos foram satisfatórios. É muito bom estar cuidando e trabalhando no meio delas. Meus filhos estudaram aqui e agora meus netos são alunos, só que eu trato todos da mesma forma, como se eu fosse mãe de todos eles. Para mim não faz diferença, se eu tiver que atender um, vou atender todos no mesmo ritmo”, conta.

Atos solidários que acolhem a comunidade

“O Bairro da Juventude, como pode, sempre vai ajudar quem precisar dele”. Essa missão de acolhimento com a comunidade criciumense foi ressaltada para a reportagem do Portal Engeplus pela psicóloga e assistente social da instituição, Fabiana Bardini Pereira, que atua no setor de Assistência Social do Bairro da Juventude há 13 anos.

Antes de entrar na instituição, a psicóloga trabalhava no setor de Saúde Pública, indo eventualmente ao Bairro da Juventude para o desenvolvimento de palestras com as crianças e adolescentes. “Em um momento, surgiu uma oportunidade de trabalho. Eu me inscrevi e consegui passar para atuar no setor de Assistência Social. Eu sempre admirei o Bairro da Juventude, achando que seria um sonho impossível trabalhar nele, mas que acabou se realizando”, lembra a psicóloga.

A principal finalidade do setor de Assistência Social dentro do Bairro da Juventude é combater a violação dos direitos das crianças e dos adolescentes que frequentam a instituição. Fabiana lembra que toda a entidade é como uma família. Este dever, porém, fica especialmente a cargo do setor de Assistência Social, que começou a ganhar forma durante o período pandêmico. Um período que mostrou novas formas de administrações e mudanças no setor, reponsável pelo surgimento do Centro Integrado de Assistência Social (CIASS). “Antes a gente tinha o setor psicossocial que trabalhava com alguns profissionais para o atendimento. Porém, com o surgimento da pandemia nós precisamos rever algumas organizações. Atualmente queremos trabalhar com o fortalecimento de vínculo", afirma.


Garantir os direitos das crianças e adolescentes é a missão do Setor de Assistência Social. (Foto: Samuel Borges/Portal Engeplus)

Dentro do Bairro da Juventude, o setor de Assistência Social atua com uma equipe composta por psicólogos, assistentes sociais e orientares sociais. Um serviço que necessita um olhar de acolhimento e de atenção com as famílias e futuras gerações. Fabiana afirma que a função da equipe é acreditar em todas as pessoas, independente das condições sociais, financeiras e econômicas de cada família ou aluno.

“Quando eu entrei no Bairro da Juventude, durante a inscrição, me perguntaram o motivo que fazia eu querer trabalhar aqui. O principal motivo foi porque eu acredito nas pessoas. E mesmo depois de 13 anos, eu continuo na missão de criar oportunidades para essas crianças terem um espaço de qualidade para desenvolverem habilidades”, pontua Fabiana.

Como ajudar o Bairro da Juventude

Para manter toda essa complexa infraestrutura funcionando, a instituição tem uma série de campanhas e estratégias para captar recursos. "A comunicação desempenha um papel fundamental nessa mobilização. A gente precisa apresentar o que construímos para buscar apoio. Então integramos a comunicação ao nosso setor, que conhece tudo sobre a instituição, para ajudar nesse papel", afirma a coordenadora do Setor de Mobilização de Recursos, Viviane Hofman Garcia.

Dentre as estratégias de captação de recursos para o Bairro está a campanha "Doe na Folha", que consiste em contribuições feitas por colaboradores de empresas que autorizam o débito da doação em sua folha de pagamento.

O "Selo Amigos do Bairro da Juventude" é outra forma de ajudar a instituição. Neste caso, o Bairro oferece um selo de reconhecimento. "Temos três selos diferentes, para quando a empresa doa um valor em dinheiro, quando destina um valor em produtos, ou quando oferece serviços para o Bairro", detalha a coordenadora.

Em uma frente mais humanizada, a campanha "Se Liga no Bairro" visa captar padrinhos e madrinhas para crianças atendidas por um período de um ano. Ela foi planejada como uma das ações dos 65 anos da instituição, comemorados em 2014. "Esses doadores têm um vínculo diferenciado com as crianças, um apadrinhamento afetivo, que proporciona um relacionamento mais próximo", descreve Viviane. Para manter o atendimento com qualidade a uma criança, a instituição investe por mês, em média, meio salário-mínimo.

O brechó do Bairro, chamado de “Breshopping”, é uma solução que alia atendimento às famílias vulneráveis, consumo consciente e captação de recursos. A instituição recebe muitas doações de roupas de pessoas e empresas. "A prioridade é atender as famílias, os jovens e adolescentes cadastrados aqui. Para os mais vulneráveis, disponibilizamos as roupas. Quando atendemos essas famílias e sobra peças, elas vão para a venda em nosso brechó", ressalta.

Às quintas-feiras, a assistência social da instituição disponibiliza um formulário para que as famílias possam escolher as roupas no Breshopping. O brechó atende de segunda à sexta-feira, das 8 às 11h30 e das 12h30 às 17 horas.  “As roupas são vendidas a valores simbólicos, bem abaixo do preço de mercado. Quem é funcionário daqui pode descontar a compra na folha de pagamento e quem é de fora pode pagar no PIX, débito ou crédito”, diz a coordenadora.


Brechó vende roupas, eletrodomésticos, materiais eletrônicos, entre outros produtos. (Foto: Thiago Hockmüller/Arquivo Engeplus)

O valor arrecadado com as vendas é revertido em alimentação e demais necessidades dos alunos. Além de roupas e calçados, a loja também recebe eletrodomésticos, materiais eletrônicos, cobertores, louças e outros produtos. "Pedimos, porém, que seja uma doação, e não um descarte. Que sejam roupas que as pessoas possam usar. No caso de doações individuais, por pessoas físicas, elas podem ser feitas diretamente aqui no Bairro", conta Viviane.

O Call Center da instituição faz ligações da ação “Toque do Bairro”, que visa captar doações de qualquer valor por meio de débito nas faturas de telefone, luz, água, cartão de crédito ou débito bancário. Além disso, a tradicional campanha dos Cartões de Natal, criada em 1994, colabora para manter os projetos da entidade com a venda de cartões comemorativos, decorados com desenhos feitos pelas crianças. Anualmente, cerca de 40 mil exemplares são vendidos.

O Bairro da Juventude mantém ainda a campanha SuperAção, instituída em 2011. Na iniciativa - em parceria com redes de supermercados da região, empresas e indústrias - parte do dinheiro da venda de determinado produto é repassado para a instituição.

Além dessas campanhas estratégicas, o Bairro da Juventude conta com apoios de instituições de ensino e poder público, buscando também contato com parlamentares, que podem destinar recursos para a entidade.

Um futuro regado a esporte e cultura

Outros meios de angariar recursos que o Bairro da Juventude busca estão nas leis de incentivo ao esporte e cultura e editais do Fundo da Infância e Adolescência (FIA), nas esferas federal, estadual e municipal. Para tanto, o Bairro mantém uma extensa lista de atividades e oficinas de educação, de esporte e de cultura.

Acompanhamentos pedagógicos em Língua Portuguesa e Matemática, projetos de pesquisas e laboratórios de linguagens, raciocínio lógico, leitura e escrita, e aulas de inglês e robótica são apenas algumas dessas oficinas.

No esporte, os alunos têm um leque de atividades que inclui vôlei, futsal, futebol, tênis de mesa, tênis de campo, jiu-jítsu, capoeira, xadrez, dança e basquete, corpo e movimento e ginástica. Na cultura, algumas das opções são violão, coral, orquestras de cordas e de metais, artes visuais, musicalização, contos e produção textual, teatro e cerâmica.

Para o diretor-técnico e de projetos do Bairro da Juventude, Anézio Luiz de Souza, por tudo isso, a instituição é única. “Conheci muitas entidades pelo Brasil e não vi nenhum projeto parecido no sentido de diversidade no ensino. Temos a Educação Infantil, uma escola municipal de gestão partilhada, temos contraturno e educação profissional. Isso proporciona um circuito bastante completo de formação”, relata.

Como entrar no Bairro da Juventude

Com um sistema de 1.600 alunos, o Bairro da Juventude tem quase mil crianças em lista de espera para ingressar na instituição. Os critérios avaliados para essa classificação - cerca de dez - são relacionados à renda, bairro onde mora, estrutura familiar, entre outros.

"Os responsáveis vêm aqui e fazem um registro. As crianças são classificadas por meio de um sistema que marca e elenca a prioridade baseada na vulnerabilidade social. Infelizmente não conseguimos atender todos", lamenta a diretora-executiva, Silvia Regina Luciano Zanette.

Em seus 75 anos, a instituição comemora mais que um aniversário, mais que três quartos de um século. O Bairro da Juventude celebra uma história de transformação e de superação, de formação humana e profissional, e de união entre pessoas e entes públicos e privados em prol do apoio a famílias em vulnerabilidade social e à sociedade criciumense.

Abaixo, confira a galeria de fotos produzidas pelo Portal Engeplus:

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