Por Mário Luiz
Em 22/05/2023 às 07:00Nas grandes cidades, no pequeno dia a dia
O medo nos leva a tudo, sobretudo à fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia
Nas grandes cidades de um país tão violento
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido
No início da década de 90, Humberto Gessinger e Augusto Licks compuseram e gravaram, junto com Carlos Maltz, (Engenheiros do Hawaii) a canção Muros e Grades em epígrafe. Por certo, muitos de nós, amantes da banda gaúcha, não nos atentamos à reflexão atual que tais versos nos propiciam.
Em tempos pretéritos, as pessoas viviam em verdadeira comunidade. Os vizinhos se conheciam e se relacionavam. A vizinhança era um corpo vivo, tendo cada membro uma função (ainda que imperceptível), qual seja zelar pelo corpo todo.
O mais atuante e efetivo guardião da rua era o vizinho.
Nada passava despercebido aos olhos desse corpo vivo denominado de vizinhança.
A vizinha fofoqueira, que ficava na janela observando a vida alheia, era a sentinela por excelência daquela comunidade.
Esse, que chamo de vigilante informal, era o grande protagonista da segurança da comunidade.
Alguém estranho na rua, a movimentação suspeita dentro de uma casa, carros diferentes, luzes residenciais acesas ou apagadas em horários não rotineiros, sons não comuns, etc., nada escapava do diligente vigilante informal: o vizinho.
Com as mudanças socias, as pessoas passaram a se enclausurarem em suas moradas. As relações interpessoais se acentuaram no trabalho, na escola, no clube, etc., porém se acanharam na vizinhança.
Na vida contemporânea, as famílias saem cedo do lar para o trabalho, estudo, lazer, etc. e lá permanecem o dia todo. A relação com seu vizinho é diminuta, por vezes nula.
Alia-se a esse cenário o medo da violência urbana, o qual impele as pessoas a acastelarem suas casas. Muros e grades são construídos cada vez mais robustos e intransponíveis, visando à proteção. As pessoas se entrincheiraram.
Esse processo de isolamento e entrincheiramento culminou com o esvaziamento da proteção mútua, que outrora era levado a efeito pela vizinhança.
O vigilante informal foi fustigado.
As pessoas não sabem o que está ocorrendo com o seu vizinho (por vezes nem o conhecem). Não se percebe mais a presença de pessoas ou veículos estranhos na vizinhança. Ninguém é estranho, já que ninguém é conhecido.
Os muros e grades– intransponíveis até à visão – contribuem com esse cenário. As pessoas nas ruas não veem o crime ocorrendo dentro de uma residência a sua frente. Ninguém percebe que a residência do vizinho foi ou está sendo invadida.
Com efeito, o responsável pela segurança preventiva da sociedade passou a ser apenas o vigilante FORMAL, qual seja: o Estado, através de sua polícia preventiva (em regra, a Polícia Militar). Sendo que esta, por obviedade, não é onipresente.
Assim, é imperioso concluir que a hodierna postura do isolamento do cidadão em suas casas fortificadas, enseja terreno fértil para a criminalidade. Logo, como disse o poeta: “Os muros e as grades nos protegem de quase tudo, mas o quase tudo quase sempre é quase nada”.
Para finalizar essa reflexão, é mister trazer ao nobre leitor, que a Polícia Militar de Santa Catarina, através de um projeto inovador, procura resgatar a figura do vigilante informal. Trata-se de programa REDE DE VIZINHOS, no qual, utilizando-se da ferramenta de troca de mensagens Whatsapp, cria-se grupos de vizinhos, moderados por um policial miliar, com o escopo de realizarem a tutela coletiva da vizinhança.
É o resgate daquilo que no passado fora eficaz, através da tecnologia do futuro.
Para essa semana era isso. Minha respeitosa continência a todos e até a próxima.
Tenente-Coronel Mário Luiz
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Circuito PET.
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